Fórmula auxilia médicos a lidar com pé diabético

A fórmula matemática, com dados sobre o estado do paciente, poderá ser usada por médicos para decidir entre tratamento clínico ou amputação de membros.

Uma fórmula matemática desenvolvida em pesquisa realizada no Instituto de Química (IQ) da USP e no hospital de ensino da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) utiliza dados sobre o estado de pacientes com pé diabético (doença vascular periférica) para apontar qual a forma mais adequada de lidar com a doença. Causado pelo diabetes, o pé diabético é um problema circulatório que provoca úlceras nos pés e pode desencadear infecção generalizada, amputação de pernas e pés e levar à morte. A fórmula não necessita de computador para ser aplicada e pode ser usada pelos médicos para decidir entre o tratamento clínico com terapia fotodinâmica (PDT) ou a amputação.

De acordo com Maurício Baptista, autor da pesquisa, o pé diabético é uma das complicações mais temidas pelos pacientes com diabetes mellitus, sendo a causa mais comum de amputações não traumáticas. “A deficiência na microcirculação periférica do sangue leva a um quadro de neuropatia (problemas nos nervos), facilitando o aparecimento de ulcerações no pé e infecções por micro-organismos”, conta. As infecções podem alcançar o tecido dos ossos e causar osteomielite (inflamação óssea). “Cerca de 80% das amputações de membros inferiores, pernas e pés, são feitas em pacientes diabéticos com a doença. Essas amputações causam significativa redução da mobilidade e piora da qualidade de vida”.

A pesquisa foi orientada pelo professor João Paulo Tardivo, da FMABC, em Santo André, na Grande São Paulo. Ele idealizou o projeto a partir da experiência adquirida com as respostas dos pacientes ao tratamento. “Ele observou que três parâmetros afetavam de forma mais significativa às chances de amputação, os quais são a classificação de Wagner (que atribui notas de 0 a 5, que correspondem à gravidade da doença; quanto maior a nota, pior o quadro clínico do paciente), os sinais de doença arterial periférica e a localização da úlcera no pé diabético”, relata o pesquisador. “Estes fatores entraram no cálculo da equação que aponta o risco de amputação no pé diabético”.

Devido à dificuldade de se tratar a infecção do pé diabético com antibióticos e para evitar que essa infecção se espalhe pelo organismo, podendo até ser causa de morte, é indicada a abordagem cirúrgica de limpeza dos tecidos doentes. “A amputação de dedos, de pés ou de pernas pode ser necessária, dependendo da gravidade da úlcera e da infecção, mas é uma escolha difícil”, ressalta Baptista. “A partir dessa fórmula fica mais fácil decidir entre o tratamento clínico conservador (PDT) ou a opção cirúrgica”.

Auxílio aos médicos

A fórmula recebeu o nome de “Algoritmo de Tardivo”, em referência ao professor da FMABC. “O algoritmo é muito simples e não precisa de computador para ser aplicado, podendo auxiliar os médicos em centros de saúde, hospitais e prontos-socorros na escolha entre o tratamento ou a amputação”, destaca o pesquisador. “A fórmula ainda não é utilizada por ser muito recente. Sua aplicação levará algum tempo, pois é necessária a mudança de paradigma entre os médicos”.

De acordo com o pesquisador, a fórmula também é voltada para se indicar tratamento conservador com PDT. “Este também é um tema novo para a grande maioria dos médicos”, afirma. “O trabalho também visa divulgar o máximo possível essa novidade terapêutica, pois beneficiaria muitos pacientes no mundo todo”. A PDT é uma modalidade de tratamento clínica que se baseia no uso de luz, compostos químicos chamados de fotossensibilizadores (que absorvem a luz e geram espécies reativas) e oxigênio para causar a morte celular.

“A luz é convertida em compostos reativos que causam a morte de células-alvos”, explica Baptista. Durante a pesquisa, foi desenvolvido um protocolo que usa a PDT para causar a morte de micro-organismos e permitir a recuperação do tecido infectado no pé diabético. “Além de causar a morte do agente biológico infectante, pode haver também um efeito de estimulação direta do tecido que fica próximo do local tratado no paciente, no entanto isso ainda precisa ser melhor estudado”.

A pesquisa contou com a colaboração do Laboratório de Processos Fotoinduzidos e Interfaces na USP, que conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio de um projeto temático, do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) Redoxoma, sediado no IQ, e do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Tecnologia Fotoquímica (NAP-PhotoTech) da USP, sediadon no IQ. Os estudos também tiveram a colaboração de professores da FMABC.

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

Mais informações: email baptista@iq.usp.br, com Maurício Baptista

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