Estudo indica relação do óleo de café verde e redução do peso

A pesquisa foi feita com ratos mas existe a possibilidade do uso de óleo verde como fitoterápico para a redução de peso também em pessoas.

Um estudo da Faculdade de Zootecnia de Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga, para analisar se o óleo de café verde é tóxico ao organismo revelou que a ingestão do produto ocasionou a perda de peso em ratos. Segundo os pesquisadores, existe a possibilidade do uso de óleo verde como fitoterápico para a redução de peso também em pessoas.

“O nosso trabalho levantou informações sobre o óleo de café verde, no entanto ainda são necessários mais estudos para comprovar a viabilidade da aplicação do óleo em medicamentos, cosméticos e alimentos funcionais”, ressalta a enfermeira Naila Albertina de Oliveira.

Ela é a autora da dissertação de mestrado Análise da concentração de bioativos e avaliação da toxicidade aguda in vivo dos diterpenos cafestol e caveol presentes nos grãos de café verdes obtidos por extração supercrítica e por extração com fluido pressurizado, que teve orientação da professorada Alessandra Lopes de Oliveira e foi apresentada este ano à FZEA.

Foram feitos dois testes de dosagem com os animais. No primeiro, eles receberam uma dose única de 2.000 mg/kg (miligramas de óleo de café verde por quilo de peso dos animais) e acompanhamento por 14 dias das reações. “Notou-se uma redução significativa do consumo de ração dos animais”, afirma o professor Heidge Fukumasu, do Laboratório de Oncologia Comparada e Translacional da FZEA, que assessorou os experimentos em animais.

No segundo teste, durante 28 dias, três diferentes grupos de ratos receberam as dosagens de 25 mg/kg, 50 mg/kg e 75 mg/kg. Os três grupos receberam ração na mesma quantidade do grupo controle — animais que não ingeriram o óleo de café. “Verificamos que quanto maior a dose do óleo de café verde, maior foi a perda de peso dos animais em relação àqueles que não ingeriram a substância”, conta Naila.

“Também houve de redução dos níveis de glicose e triglicérides séricos. Estes efeitos são muito interessantes e compatíveis com os efeitos benéficos descritos para componentes do café”, acrescenta Fukumasu.

Naila destaca que na literatura científica há relatos que evidenciam o consumo de café com a regulagem do peso corporal. “Entretanto, esses estudos relacionavam a redução ou manutenção do peso com a cafeína, e na nossa pesquisa aplicamos óleo de café com baixa dosagem da cafeína, ou seja, ela teve pouca influência nos resultados”.

Toxicidade

O foco principal do trabalho de Naila foi analisar a toxicidade aguda e subaguda do óleo de café verde, rico em diterpenos, uma substância com atividade protetora contra os efeitos da quimioterapia. Saber se uma substância é tóxica ao organismo é o primeiro passo para descobrir se ela poderá ou não ser administrada em pessoas ou animais, como um medicamento ou mesmo um alimento.

Na pesquisa da FZEA, a aplicação do óleo de café verde nos ratos seguiu o guia para a realização dos testes de toxicidade pré-clínica, de acordo com a Resolução 90/2004 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que regulamenta os procedimentos para o registro de medicamentos fitoterápicos.

“A realização do estudo segundo os protocolos nacionais é fundamental para que no futuro, após confirmadas as pesquisas sobre o óleo de café verde, ele possa ser considerado um fitoterápico (medicamento obtido exclusivamente de matérias-primas ativas vegetais)”, explica a professora Alessandra.

No estudo de toxicidade aguda — aquele relacionado à única dosagem de 2.000mg/kg de óleo verde — não houve registro de alterações nos animais. “Não houve sinais clínicos de toxicidade, como vômito, comportamento de agitação, excesso de saliva, ou morte com essa dosagem. Também não houve alteração hematológica e histológica [rim, fígado, baço, coração, pulmão] que pudessem caracterizar um grau de toxicidade aguda”, relata Naila.

Já a toxicidade do óleo verde ingerido em três diferentes doses (25, 50 e 75 mg/kg) notou-se efeitos que podem ser considerados adaptativos ao uso contínuo do óleo de café verde ou talvez até tóxicos, segundo o professor Fukumasu, “como aumento do peso relativo do fígado, assim como alterações bioquímicas, como aumento de gama-glutamil-transferase, lactato desidrogenase e uréia, que indicam alterações hepáticas”.

Ele alerta que os “resultados da pesquisa reforçam que deve haver mais estudos necessários para estimar a dose segura de administração por via oral em humanos do óleo de café verde”.

Estado supercrítico

O óleo do café verde empregado na pesquisa foi obtido a partir da técnica de extração com o dióxido de carbônico em estado supercrítico, estado no qual o fluído apresenta propriedades intermediárias entre um gás e um líquido e facilita a sua extração.

Segundo a professora Alessandra, esse método de extração é uma tecnologia limpa que não deixa resíduos de solventes orgânicos nos extratos. “Essa técnica também preserva substâncias presentes no café verde in natura, resultando em um óleo rico em ditepernos [cafestol e caveol], componentes com atividades quimioprotetora e importante para a produção de medicamentos”.

O trabalho da Naila é o desdobramento de um projeto realizado desde 2011, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e coordenação da professora Alessandra, sobre os processos de extração e a caracterização do óleo de café verde.

Hérika Dias / Agência USP de Notícias

Mais informações: email alelopes@usp.br, com a professora Alessandra Lopes de Oliveira

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