Especialistas da USP desmentem boatos sobre o Zika vírus

A população tem ficado em pânico com as informações equivocadas sobre o Zika vírus que circulam na internet.

Informações equivocadas têm circulado na internet e aplicativos de celular associando o Zika vírus a doenças neurológicas que acometem idosos e crianças, à vacina da rubéola e ao mosquito transgênico, causando ansiedade e até pânico em quem acredita nelas.

Especialistas da USP reforçam a importância de se informar por meio de fontes seguras e buscam tranquilizar a população sobre os boatos, que cresceram após o surto de microcefalia no nordeste brasileiro, com alguns casos sendo atribuídos ao Zika vírus pelo Ministério da Saúde. Veja, a seguir, os esclarecimentos dos especialistas.

Não caia nessa – principais boatos

  • Mosquitos modificados em laboratórios

O boato:

O Zika vírus teria aumentado sua incidência em vários estados brasileiros após a soltura de mosquitos transgênicos criados em laboratórios de pesquisa.

A verdade:

Foto: Wikimedia Commons
Foto: Wikimedia Commons

Segundo entomologista Paulo Roberto Urbinatti, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, não existe nenhuma pesquisa científica comprovando a associação dos mosquitos geneticamente modificados com os casos de microcefalia.

Contrariamente aos boatos que correm na internet, Urbinatti reforça que os mosquitos transgênicos foram criados para combater o Aedes aegypti. Em cidades pequenas onde eles foram soltos na natureza, como Juazeiro, no interior da Bahia, houve o controle do vetor e consequentemente a transmissão da doença.

Embora defenda o uso da tecnologia para o combate aos mosquitos, Urbinatti aposta como medida mais eficaz ações educacionais e preventivas para conscientizar a população quanto à eliminação de possíveis criadouros em suas casas e locais de trabalhos. As políticas públicas deveriam ser permanentes e não se restringir apenas ao período do verão, quando as temperaturas aumentam e as chuvas acontecem abundantemente.

  • Vacina da rubéola vencida e microcefalia

O boato:

Um lote vencido de vacinas contra a rubéola teria sido aplicado em gestantes, o que teria ocasionado microcefalias nos bebês dessas mulheres.

A verdade:

Foto: Wikimedia Commons
Foto: Wikimedia Commons

A vacina da rubéola é contraindicada às mulheres grávidas, sendo aplicada apenas em crianças aos 15 meses de vida e em mulheres em idade fértil, com a recomendação de que não engravidem nos 30 dias posteriores à vacinação. A orientação é da enfermeira obstétrica sanitarista Maria Cristina Bernat, do Centro de Saúde Escola Geraldo Paula Souza, da FSP, que procura tranquilizar suas pacientes que trazem preocupações improcedentes para o consultório.

Na opinião de Maria Cristina, a celeuma na internet acontece por falta de conhecimento e porque as pessoas não buscam fontes seguras para obtê-lo.

A rubéola oferece maior risco aos bebês de gestantes infectadas pela doença no primeiro trimestre de gravidez porque a mãe pode desenvolver a síndrome de rubéola congênita, ou seja, ela poderá transmitir a doença ao feto. Ele possivelmente terá malformações que vão desde microcefalia, glaucoma congênito, retardo mental e surdez até o óbito.

  • Problemas neurológicos em crianças e idosos

O boato:

O Zika vírus poderia provocar danos neurológicos em crianças de até sete anos e em idosos – e quem contraísse o vírus poderia apresentar a Síndrome de Guillain-barré.

A verdade:

Foto: Wikimedia Commons
Foto: Wikimedia Commons

O Zika vírus pode sim ter associação com o aumento da Síndrome de Guillain-barré no nordeste brasileiro, porém, ainda não existe confirmação científica.

Também não há ligação do problema com um faixa etária em especial, podendo atingir adultos e crianças.

Marcos Boulos, coordenador de controle de doenças da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e infectologista aposentado da Faculdade de Medicina (FMUSP) da USP, explica que as pessoas passaram a acreditar nessa ligação porque surgiram mais casos de Guillain-barré no mesmo período em que cresceu a epidemia do Zika vírus.

Segundo o pesquisador, essa conexão poderia ser feita porque certas enfermidades de comprometimento neurológico estão ligadas a vírus e bactérias em geral.

Mutações do Zika vírus

Com a finalidade de divulgar informações baseadas em dados comprovados cientificamente, o Núcleo de Divulgação Científica da USP entrevistou o pesquisador Paolo Marinho de Andrade Zanotto, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, falando sobre as descobertas das mutações no vírus que facilitam a multiplicação e aumentam sua concentração nas células humanas. Ouça aqui a entrevista.

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