Exposição no Museu de Arqueologia e Etnologia apresenta o cotidiano na cidade antiga grega

Centrada no estudo do espaço onde estavam inseridos originalmente os objetos expostos, a mostra tem como objetivo exibir como era a vida em uma cidade grega antiga, desenvolvida dentro das casas, cidades e templos, entre outros lugares.

Nesta quinta-feira, 10 de março, o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP inaugura a exposição histórico-arqueológica “Pólis: Viver na Cidade Grega”. Centrada no estudo do espaço onde estavam inseridos originalmente os objetos expostos, a mostra tem como objetivo exibir como era a vida em uma cidade grega antiga, desenvolvida dentro das casas, cidades e templos, entre outros lugares.

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A professora Elaine Hirata | Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“A ideia é associar os artefatos a esses espaços”, diz a curadora da exposição, professora Elaine Hirata, do MAE, especialista em arqueologia mediterrânea. “Os artefatos não são os protagonistas, digamos, mas sim sua função. Queremos mostrar que eles não são excepcionais, mas, na verdade, análogos aos que temos hoje”, diz Elaine.

A exposição é baseada em pesquisas atuais sobre o tema – realizadas na USP e em outras instituições – que mudaram, de alguma forma, a perspectiva sobre as cidades gregas antigas. “A exposição vai do período de formação à consolidação do processo da pólis. Ou seja, compreende os períodos arcaico (do século 9 ao 6 a.C.), quando começam a aparecer as primeiras cidades no Mediterrâneo, e chega até o período clássico (séculos 5 e 4 a.C.), quando as póleis estão funcionando de maneira efetiva. Nossa coleção não é específica, mas os objetos mostrados foram usados nessas duas épocas tratadas”, explica Elaine.

Por exemplo, a iluminação das casas era feita por lamparinas, que possuíam pavios alimentados por azeite de oliva. Haverá também a exposição de um elmo, objeto importante para a vida grega por esta ser recheada de conflitos armados em busca de territórios.

“Uma exposição de arte selecionaria os melhores exemplares para mostrar estilo. Já a nossa quer mostrar o cotidiano dessas populações. Por isso nós escolhemos as peças que estavam no contexto que vamos trabalhar. Por exemplo, na exposição temos um tablado com a planta de uma casa e, no espaço da cozinha, colocamos uma ânfora, um vaso que armazenava vinho ou azeite. São artefatos contextualizados, não objetos de arte”, descreve a professora.

Maquete representa a cidade de Olinto, no norte da Grécia. Nela, vemos uma área mais antiga, à esquerda , embaixo, na qual as casas não estão organizadas dentro de uma malha viária. É um centro histórico datado do século 5 a.C., a civilização grega sofre um processo de consolidação da pólis e surgem as cidades planejadas

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Cidade de Selinonte, na Sicilia | Foto Marcos Santos/USP Imagens

Cidades

Além das peças, a exposição conta com maquetes de duas cidades gregas, Olinto e Selinonte, construídas no MAE a partir de referências arqueológicas. A primeira ficava ao norte da Grécia antiga. De acordo com a mitologia, foi fundada pelo filho de Héracles (Hércules, para os romanos), cujo nome batizou a cidade. Nela, é clara a evolução do processo de consolidação da pólis. Por exemplo, nota-se nas regiões mais altas – as primeiras a serem ocupadas, por questões estratégicas de defesa – uma ocupação desordenada. Já as moradias mais recentes seguem um padrão ortogonal, ao redor da ágora – espécie de praça pública, onde acontecia a vida política da cidade-Estado. Olinto ficou eternizada como tema de três discursos de Demóstenes (384-322 a.C.), conhecidos como Olintíacas, em que o orador ateniense tenta convencer os cidadãos de Atenas a socorrer aquela cidade contra as pretensões expansionistas de Filipe, rei da Macedônia.

Já a segunda cidade mostrada em maquete, Selinonte, ocupava a costa oeste da Sicília, na Itália, fundada no final do século 7 a.C. Na maquete, observa-se com clareza a acrópole, ponto mais alto do terreno, onde ficavam os templos dedicados às divindades. Registros arqueológicos indicam que essa era uma cidade portuária.

Haverá também exibições digitais, nas quais os espectadores poderão andar por uma casa ou um templo grego.

Cidades surgiram no período arcaico

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Foto: Ader Gotardo

Wagner Souza e Silva Cerâmica ática do século 5 a.C., em técnica de figuras vermelhas A exposição “Pólis: Viver na Cidade Grega” trata do estilo de vida dos gregos nos chamados períodos arcaico e clássico da Antiguidade. “Um dos objetivos da exposição é, também, mostrar que o mundo grego não se restringiu a Esparta e Atenas, o que foi uma idealização criada pela historiografia”, pontua a curadora da mostra, professora Elaine Hirata, do MAE.

A Grécia antiga compreendia a região chamada Hélade, que ocupava desde o sul dos Bálcãs, passando pela Península do Peloponeso e pelas ilhas do Mar Egeu, até a Ásia Menor e o sul da Península Itálica, todos interligados pelo Mar Mediterrâneo.

No início da civilização, as populações gregas se uniram em comunidades gentílicas, conhecidas como genos. O período arcaico começa com a reunião dos genos em unidades políticas maiores, as chamadas póleis ou cidades-Estado. Nesse tipo de organização não existia um governo único. Cada cidade-Estado tinha suas leis, seu governo, sua economia e sua sociedade própria e independente. O palácio do governo e os templos eram construídos em uma colina fortificada, a acrópole.

Tal organização político-social culminou na longa Guerra do Peloponeso, ocorrida de 431 a 404 a.C. As desavenças internas, a escassez de terras e a necessidade de expansão do comércio determinou a criação de dois grupos rivais: a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, e a Liga de Delos, sob a liderança de Atenas. O conflito marca o início do declínio das cidades-Estado.

Coleção começou com trocas entre USP e Europa

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Lamparina de cerâmica do século 6 a.C., oriunda de Selinonte | Foto: Wagner Souza e Silva

A coleção exposta a partir desta semana, no MAE, é produto de uma troca feita entre a USP e museus italianos na década de 1960. Na época, um grupo de pesquisadores da Universidade contou com o apoio do mecenas Francisco Matarazzo Sobrinho (o Ciccillo, um dos precursores da Bienal de Arte de São Paulo e do Museu de Arte de São Paulo, o Masp) para intermediar a troca de objetos etnográficos das populações indígenas brasileiras por outros datados da Grécia antiga. Com o tempo, mais artefatos foram adicionados à coleção, mas o núcleo inicial veio de museus do sul da Itália e da Sicília, regiões que, na Antiguidade, eram habitadas por colônias gregas e se chamavam Magna Grécia.

A exposição foi idealizada há um ano por uma equipe composta pela professora Elaine Hirata, a museóloga Viviane Wermelinger e três educadores, todos do MAE. Um dos principais objetivos da mostra é informar o público leigo, daí a necessidade dos educadores, que vão trabalhar na mediação entre o especialista e aqueles que buscam esse conhecimento. “Desde que eu propus o tema, a ideia da mostra passou por muitas reformulações, em função da colaboração dessas pessoas”, diz Elaine. “Por exemplo, eu elaboro um texto e passo a eles, que analisam se a imagem está adequada. É um processo em equipe.”

Serviço

A exposição “Pólis: Viver na Cidade Grega” será inaugurada nesta quinta-feira, dia 10 de março, e ficará em cartaz até 27 de janeiro de 2017, no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP (avenida Professor Almeida Prado, 1.466, Cidade Universitária, São Paulo), às segundas, quartas, quintas e sextas-feiras, das 9 às 17 horas, e todo segundo sábado de cada mês, das 10 às 16 horas. Entrada grátis. Mais informações pelo telefone (11) 3091-4905 e na página eletrônica www.nptbr.mae.usp.br.

Maria Beatriz Barros / Jornal da USP

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