Mostra de Estágios na educação discute importância das escolas na formação docente

Evento abriu espaço para que estudantes de licenciatura em diferentes cursos pudessem compartilhar suas percepções e vivências.

Evento abriu espaço para alunos de licenciatura compartilharem percepções e vivências

Vivenciar o cotidiano das salas de aula é um dos principais requisitos para a formação docente. A gradual transformação do aluno em professor transcende a esfera acadêmica, tornando o ambiente escolar um elemento essencial do processo.

Partindo desta premissa e com o intuito aprofundar a discussão sobre ela, a Faculdade de Educação (FE) da USP realizou, nos dias 9 e 10 março, a segunda edição da Mostra de Estágios. Baseado na crença de que a experiência do estágio não deve ficar registrada apenas em um documento acadêmico, o evento abriu espaço para que estudantes de licenciatura em diferentes cursos pudessem compartilhar suas percepções e vivências.

A mostra foi implementada pelo Programa de Formação dos Professores, que estabeleceu disciplinas na FE com carga horária teórica e de estágio incluídas. O programa trouxe ainda uma série de alterações nos cursos de licenciatura da USP e nos estágios supervisionados em ambiente escolar, entre elas a contratação de educadores para a realização de um trabalho de mediação entre as escolas e a universidade. Estes educadores também auxiliam os discentes a iniciar suas experiências como estagiários.

Os docentes ligados ao programa podem acompanhar e indicar atividades para os alunos da FE desenvolverem nas escolas. Uma das organizadoras da mostra, Gislaine de Oliveira explica que cada docente tem uma forma distinta de trabalhar em sua disciplina. Alguns pedem um trabalho de observação, como por exemplo, investigar a aplicação de determinadas políticas educacionais nas escolas (Plano Nacional de Educação, livro didático e questões étnico-raciais).

É possível também a realização da regência, intervenções em que os estagiários ocupam o papel de professores e têm o desafio de preparar atividades em sala de aula. Na disciplina de Didática, por exemplo, a proposta é a busca por experiências inspiradoras.

Sujeitos professores

Nos projetos enviados para a mostra, os alunos expositores precisam dizer quais foram as contribuições do estágio para a sua formação docente. Também na organização do evento, a educadora Marina Capusso observa que muitos estudantes, quando fazem seu resumo, descrevem suas percepções sobre a escola e os professores, mas apresentam dificuldades em se colocar como sujeitos, que também se relacionam com esse espaço. Em geral, relatam as atividades e exercícios, sem explicar os contextos nos quais estavam inseridos e quais foram suas atuações no processo – o que é essencial.

Segundo Marina, os estagiários também tendem a entrar nas escolas procurando o que não está funcionando. Na contramão dessa visão, a docente desafia os alunos a encontrar trabalhos que os motivem a se tornarem professores.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Escolas-Campo

Na abertura do evento, a professora Sandra Sawaya, coordenadora dos cursos de Licenciatura, ressaltou que ocasiões como esta são muito importantes para trazer as demandas do ensino público para dentro da universidade.

Além da docente, a mesa também contou com a presença da professora Elizabeth Braga, coordenadora do curso de Pedagogia da FE. Ela realçou o papel essencial dos estudantes em propor sugestões e melhorias para as escolas por quais passaram.

Já o Presidente da Comissão de Graduação da unidade Marcos Neira comentou que, ao receberem os estagiários, os atuais professores estão contribuindo com a formação de seus futuros colegas de trabalho.

Marina destaca que os apresentadores da primeira mesa tinham uma particularidade: todos fizeram estágio em Escolas-Campo, que são parte do Programa de Formação dos Professores. “São escolas que pensam os projetos de estágio junto com a universidade”, explica. Essa parceria é realizada com cinco escolas que têm uma visão consolidada de seu papel na formação dos futuros profissionais de ensino. A proposta é destinada a alunos que desejam realizar seu estágio com um acompanhamento mais minucioso. Os educadores orientam os estagiários e os apresentam à equipe pedagógica com a qual irão trabalhar.  

A aluna Ana Carolina Souza | Foto: Marcos Santos/USP Imagens
A aluna Ana Carolina Souza | Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“A importância do estágio para a formação docente” foi o tema do trabalho apresentado por Cinthia Midori Shimada. Vinda de experiências traumáticas de outros estágios, a expositora encontrou uma receptividade maior nas Escolas-Campo. Em sua observação, um dos pontos analisados foram as relações existentes entre professores e alunos. Ela identificou que existem aspectos exteriores que influenciam nesse contexto, como a baixa remuneração dos docentes.

Já o estagiário Sérgio Côrrea Gallo desenvolveu um trabalho de regência, propondo uma atividade em que os estudantes tinham que escrever pequenas histórias e complementá-las com desenhos.

Finalizando as apresentações da primeira mesa, a estagiária Ana Carolina Souza relatou como foi a experiência de trabalhar com alunos que não conseguiram se alfabetizar no período ideal. Em seu trabalho, ela acompanhou uma sala com pessoas de diferentes idades que não sabiam ler e nem escrever. A professora levava conteúdos que se aproximavam da realidade dos estudantes com o objetivo de incentivá-los a entrar no mundo da leitura, explica Ana. Esses materiais poderiam ser uma música funk, por exemplo.

O olhar das escolas

Joseli Magalhães, coordenadora da EMEF Armando Cridey Righetti destacou os projetos que a escola desenvolve para promover o diálogo entre pais, professores e alunos. A professora Ana de Cássia Vieira mencionou que a instituição sempre procura dar mais espaço aos estagiários, com intuito de proporcionar uma boa experiência na escola.

A abordagem de questões étnico-raciais é um dos principais projetos da EMEI Carolina Maria de Jesus. Segundo a coordenadora Fernanda Silva, os alunos trabalham em cada semestre com os temas de cultura indígena e africana. Com relação à experiência com os estagiários, a professora Thalita Soto ressalta a importância deles proporem projetos que estejam inseridos no contexto da escola e de também conversarem com os professores sobre as percepções que tiveram durante seu trabalho.

Mais informações: email educadorespfp.fe@usp.br

 

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