Leitura dramática de Nelson Rodrigues estuda a censura na atualidade

O projeto Censura em Cena envolve a análise de doze peças proibidas pela censura paulista e que hoje compõem o arquivo Miroel Silveira, mantido pela ECA.

Para entender de que forma a censura interferiu na produção artística e qual é o seu impacto na atualidade, o Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, realiza, no dia 19 de março, a quarta apresentação do projeto Censura em Cena, com a leitura dramática da peça de Nelson Rodrigues, “Perdoa-me por me traíres”, de 1957.

A leitura dramática será seguida de debate que apresentará um estudo sobre o processo de censura da obra. Participam da mesa os professores e pesquisadores Adilson Citelli, doutor em Literatura Brasileira pela USP; Ferdinando Martins, doutor em Sociologia pela USP; Maria Cristina Castilho Costa; doutora em Ciências Sociais e coordenadora do Obcom; e a pesquisadora Victória Martins Damasceno, autora do relatório de análise do processo de censura da peça.

A apresentação ocorre no Centro de Pesquisa e Formação do SESC, parceiro do projeto, localizado na Rua Dr. Plínio Barreto, 285 – 4º andar, bairro Bela Vista, às 14 horas. Para participar é preciso se inscrever gratuitamente pelo site do SESC.

Censura em Cena

Ao todo, o projeto Censura em Cena envolve a análise de doze peças proibidas pela censura paulista e que hoje compõem o arquivo Miroel Silveira, mantido pela ECA. O acervo reúne 6.137 processos de censura abertos entre 1930 e 1970 pelo Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo e vem sendo estudado, desde 2002, pelo grupo de pesquisa coordenado pela professora Maria Cristina Castilho Costa no Obcom. A professora é autora da pesquisa “Interdição e Partilha do sensível: Análise, recuperação e resgate das peças teatrais vetadas pela censura no Estado de São Paulo (1932-1966) presentes no Arquivo Miroel Silveira”.

Dividido em duas fases, na primeira o projeto apresenta o estudo de seis peças censuradas: “A Semente”(1961), de Gianfrancesco Guarnieri; “Sortilégio” (1951), de Abdias do Nascimento; “Fundo do Poço” (1950), de Helena Silveira – cujas leituras já foram apresentadas –; “Perdoa-me por me traíres” (1957), de Nelson Rodrigues; “Quarto de empregada” (1958), de Roberto Freire; e “Reportagem de um tempo mau” (1965), de Plínio Marcos – com apresentações previstas para os próximos meses.

Na análise, procura-se entender com profundidade as razões das interdições e a repercussão que tiveram na sociedade quando foram liberadas e estrearam. A intenção é aprofundar o estudo da censura como disputa da produção simbólica pelo espaço público e coletivo.

A metodologia proposta é desenvolvida pelo grupo de pesquisadores ligados ao Obcom, interdisciplinar, envolvendo diferentes recursos, ferramentas e estratégias de investigação, aproximando o campo da arte e da comunicação. De acordo com os pesquisadores, se trata de uma pesquisa de base empírica, mas voltada à solução de problemas concretos e coletivos da vida social. Trata-se de objetivo que é, ao mesmo tempo, científico e sociopolítico, que prevê o engajamento dos pesquisadores na solução de certas questões e na resposta a determinadas necessidades sociais.

Perdoa-me por me traíres, de Nelson Rodrigues

É o processo mais volumoso do Arquivo Miroel Silveira e mostra o trajeto de uma polêmica censura que termina com a decisão do então governador Jânio Quadros de proibir a peça. Há documentos e cartas ora pedindo a censura, ora a liberação do espetáculo, além de um abaixo assinado com mais de três mil assinaturas pedindo o veto da censura. Tratando de aborto, prostituição e erotismo de menores de idade, a peça, escrita em 1957, só estreou em 1994.

Mais Informações: (11) 3091-1607, email obcom@usp.br, site https://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br

Scroll to top