Na tesouraria da FFLCH, D. Ana trabalha duro e “ferve” com seus “pitchulos”

Às vésperas de se aposentar, dona Ana chama a Universidade de mãezona e diz que ainda voltará para ver seus "pitchulos", amigos que conquistou durante as décadas de trabalho e simpatia na USP.

“Eu acho que vou continuar fervendo aqui dentro!”. Usando uma saia amarela de bolinhas brancas, perfume e maquiagem, quem diz a frase é Ana Maria de Almeida Fernandes, ou dona Ana, a (ainda) tesoureira do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Aos 60 anos, dona Ana se prepara para a aposentaria no final do ano.

A partir de 2013, planeja, não terá mais de enfrentar diariamente as cerca de duas horas de ida e volta de sua casa, que fica em Taboão da Serra. Mas dona Ana já morou muito perto da USP, na Vila Indiana. Tinha então 12 anos, recém chegada do Paraná, seu estado de origem. “Eu vinha brincar na USP”, relembra, “ali perto da Bio tinha uma ribanceira de grama. A gente pegava umas cascas de bananeira, sentávamos e escorregávamos até embaixo. Nem é brinquedo de menina mas a gente caía na farra com os meninos”.

Aos 16 teve seu primeiro emprego, no restaurante da Escola de Comunicações e Artes (ECA). Com 18, prestou concurso e entrou para o Instituto de Energia Atômica (IEA), atual Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), autarquia associada à USP. Aos 21, casou-se com Primo Ozane Fernandes, taxista que todo dia a levava e buscava no serviço – embora nunca tenham namorado na USP, frisa. Também foi a época em que começou a trabalhar na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF).

Quando engravidou, seu marido fez pressão para que largasse o emprego – já era efetiva. Para evitar conflitos, dona Ana obedeceu o marido. Dez anos depois, já com três filhos e uma vontade danada de voltar a trabalhar na USP, dona Ana teve uma conversa de mulher para mulher com sua primogênita: “Ô filha, você podia olhar os dois menores para a mãe ir trabalhar, né?”.

Assim, em 1986 o Departamento de Filosofia da FFLCH tinha uma nova tesoureira e dona Ana, seu novo e último emprego. De lá pra cá, nos corredores do prédio da administração da FFLCH, ninguém fica bravo ou triste por muito tempo quando ela chega. “Ela é uma pessoa muito alto astral. Canta pelos corredores, dança na seção, passa em todos os departamentos, anima as pessoas, chama todo mundo de tchulo”, conta Leila Costa, analista de comunicação do Instituto de Estudos Avançados (IEA).

“Ah, pitchula pra mim é uma coisa delicada, pequena, gostosa de você curtir. Todo mundo é pitchulo, pitchula”, explica rindo, “eu não guardo nomes, aí eu comecei com essa história e pegou”.

Dona Ana entra às oito da manhã e deveria sair sempre às 17 horas. Ela recebe pagamentos dos alunos, faz depósitos, recebe devolução de taxas, leva malotes, entre outras tarefas “de banco”, como define. “O serviço sempre foi muito estressante para mim porque envolve muito dinheiro; eu que vou ao banco desde que entrei, sempre levando ou trazendo dinheiro. Sou tipo uma office girl, sempre fui de fazer serviço externo. Mas para mim é gratificante”.  “Muitas vezes, ela ‘para’ o banco quando chega. E, se o segurança tenta barrar a entrada dela no banco por algum motivo, é imediatamente repreendido”, comenta a admiradora Leila.

Dona Ana ainda vai continuar trabalhando na USP, que ela define como “uma mãezona”, até pelo menos o final do ano. Um de seus filhos está construindo uma casa em cima da sua – ele está noivo – e ela o está ajudando. Como o salário de aposentado é mais baixo, ela não quer se endividar e recentemente alguns funcionários tiveram aumento e benefícios, então dona Ana continua por alguns meses.

Mas e depois de sair, o que fará da vida? “Na mente tem um monte de coisa, mas meus filhos dizem que eu não vou fazer nada”, responde soltando o riso. O maior de seus projetos é terminar o curso de teologia que está fazendo e se graduar na área.

E os pitchulos, dona Ana? “De vez em quando eu acho que vou vir para a USP. Não vai ser todo dia, como eu venho hoje, mas uma vez por semana. Uma vez por mês com certeza eu vou estar aqui, vendo os meus tchulos. Eu vou largar eles todos aí, tadinhos? Não dá”

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Dona Ana  é Gente da USP, e por isso aparece na editoria do USP Online que apresenta quinzenalmente personagens  interessantes que transitam pela Cidade Universitária e campi do interior. Mande sua sugestão de entrevistas para usponline@usp.br.

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