Poli aponta solução para descarte de esgoto no mar de Santos

Doutor pela Poli sugere alterações no tratamento do esgoto lançado no mar da Baixada Santista.

Da Assessoria de Imprensa da Escola Politécnica da USP

Após quatro anos de pesquisas, o oceanógrafo Eduardo Lucas Subtil sugeriu, como parte do doutorado apresentado no Departamento de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica (Poli), da USP, um estudo de um sistema ideal para o pré-tratamento  do esgoto lançado pelo emissário submarino de Santos. “O mais viável, pensando na relação custo, benefício e sustentabilidade ambiental, seria o chamado primário avançado, ou seja, após a remoção de sólidos de grande tamanho, aplicam-se produtos químicos específicos que por processos físico-químicos removeriam os sólidos suspensos e outros elementos, como o fósforo”, descreve.

O emissário oceânico de Santos utiliza o sistema do tipo preliminar, ou seja, faz um peneiramento, retirando as partículas mais grossas da água, lançando o restante no oceano. “Com a quantidade cada vez maior de vazão, o tratamento preliminar do esgoto não é suficiente para evitar que ocorra aumento na concentração de fósforo, um ingrediente básico de detergentes, na água do mar, provocando crescimento de algas, contaminação e morte de peixes e espécies vegetais, além de odores desagradáveis”, explica o oceanógrafo. Instalado em 1978, o emissário é o mais antigo do Estado e um dos mais importantes. Atende a uma população de cerca de um milhão de pessoas na Baixada Santista.

Para Subtil, “a remoção de sólidos suspensos combinada com a aplicação de produtos químicos específicos resolveria o problema, até agora tratado muito superficialmente”.

Poder público

O tratamento do esgoto descartado na natureza deveria ser uma das prioridades do poder público pelas implicações que acarreta ao meio ambiente e também à saúde humana. Com exceção de emissários clandestinos, que despejam na água de rios, lagos e mares esgotos sem nenhum tipo de tratamento, os emissários oficiais e privados (Sabesp, Petrobras) os condicionam com o objetivo de descartá-los com a menor quantidade possível de impurezas, deixando o restante para a natural dispersão e assimilação na água.

De acordo com José Carlos Mierzwa, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Poli, as pesquisas sobre as melhores maneiras de tratar o esgoto antes de descartá-lo não são uma exclusividade brasileira: “O pesquisadores do mundo todo buscam as melhores soluções, mas Subtil teve o mérito de fazer o caminho inverso, ou seja, partiu de uma situação ideal, a água mais limpa possível, e retrocedeu até achar o melhor e factível sistema, uma solução que pode servir de parâmetro para situações semelhantes”.

Além do preliminar e do primário, há outros dois tipo de sistema, o secundário e o terciário. Cada um promove uma limpeza mais apurada do esgoto, mas o custo acaba sendo muito alto, conforme o nível de limpeza. “No caso do tratamento secundário, ocorre remoção de matéria orgânica, mas não resolveria o problema do fósforo. Por outro lado, apesar de o tratamento terciário remover matéria orgânica e fósforo, a área necessária para instalação desse tratamento é mais do que o dobro do tratamento primário avançado, por isso consideramos o sistema primário avançado como o mais adequado”, justifica o oceanógrafo.

Além da questão do espaço, o ingrediente financeiro relacionado com a operação do sistema de tratamento fortalece ainda mais a escolha de Subtil. “Como parâmetro, uma estação que trabalhe só com tratamento preliminar custa cerca de US$ 5 milhões ao ano para uma vazão de 4 metros cúbicos (m³) por segundo de água. Pular para o secundário significaria um custo de operação oito vezes maior, enquanto que o tratamento primário representaria um custo cinco vezes maior que o preliminar”, explica Subtil.

O professor Mierzwa conta que um emissário que atingisse áreas mais profundas do oceano também ajudaria a resolver o problema em Santos. “A costa brasileira chega, em média a 10 metros de profundidade e seria necessário um emissário muito maior que o atual, que chega a 4,5 km de distância, o que também seria inviável economicamente”, pondera o especialista.

O pós-graduando fez parte de seu estudo na Universidade de Cantabria, na cidade espanhola de Santander. Lá são realizadas pesquisas semelhantes de tratamento de esgotos. Paralelamente, manteve contatos com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que o ajudou a levantar dados para as pesquisas, já que a instituição também está interessada em obter informações mais precisas visando readequações nas estações de tratamento do Estado.

Na opinião do pesquisador, além de mudança na legislação e na parte técnica, o controle de poluentes despejados nos ambientes aquáticos deve levar em conta também aspectos culturais. “Tanto o poder público como a iniciativa privada devem buscar alternativas para o consumo de água, como o reúso, por exemplo, diminuindo a quantidade de líquido descartado em rios, lagos e oceanos”, sugere Subtil. 

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