Festival Universitário leva cinema da sala de aula às telas do Cinusp

O Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) traz a São Paulo com exclusividade parte da programação do festival carioca, que será exibida na USP entre os dias 20 e 24 de agosto, com entrada franca.

Pela terceira vez consecutiva, o Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) traz a São Paulo, com exclusividade, parte da programação do Festival Brasileiro de Cinema Universitário (FBCU). Até sexta-feira (24) permanece em cartaz no Cinusp uma seleção especial da 17ª edição do festival carioca.

O evento consagrou-se como o principal exibidor da produção audiovisual universitária no país, tendo como meta mostrar um panorama do que está sendo realizado pelas universidades brasileiras e provocar o debate sobre essa produção. “O FBCU nasceu porque o cinema realizado pelos universitários era pouco representado nos Festivais de Cinema que existiam na época”, conta Aleques Eiterer, um dos responsáveis pela organização do evento nesta edição.

Criado em 1995, o festival começou a partir da iniciativa de alunos da Universidade Federal Fluminense (UFF), em colaboração com a USP. Este ano, de 13 a 19 de agosto, alunos, ex-alunos, professores e profissionais da produção audiovisual se reuniram para prestigiar a exibição dos mais de 150 filmes de curta, média e longa-metragem, nacionais e internacionais . “É um momento dos estudantes trocarem experiências”, destaca Aleques.

Para Aleques, que além de coordenador da iniciativa é também cineasta, o FBCU permite que estudantes de diversas universidades brasileiras conheçam novas produções.

“O momento de experimentar é quando estamos estudando, pois nosso compromisso é apenas com nós mesmos. É a partir dessa liberdade que poderão surgir coisas novas e relevantes.”

Com debates programados após a exibição de cada um dos filmes da Mostra Competitiva Nacional, o festival também incorpora atividades voltadas para alunos de cinema, tais como workshops, palestras e oficinas de produção de roteiros. “Ele (o festival) funciona como formação complementar”, aponta a professora Esther Hamburger, diretora do Cinusp e convidada a compor o júri desde ano.

Além de incentivar a produção e divulgação do cinema universitário, o encontro ajuda a despertar o interesse de futuros profissionais da área, pois “permite que os alunos conheçam o que se produz em outras escolas, e possibilita que todos discutam entre si”, completa Esther.

Luz, câmera, inspiração

Premiados pelo júri no último dia do festival, os participantes da Mostra Competitiva Nacional serão exibidos em São Paulo em dois programas com os curtas-metragens e mais um programa com os premiados da Mostra Internacional. De 20 a 24 de agosto, no Cinusp, o público tem a chance de prestigiar não apenas os produtos finais, como também a presença de alguns de seus jovens realizadores.

Dentre os nove curtas selecionados para exibição, cinco foram dirigidos e roteirizados por alunos do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Vencedor do “Prêmio de Público”, O Fim do Filme, dirigido por André Dib e roteirizado por Eduardo Prado, narra a aproximação entre um funcionário de uma videolocadora que sempre revela finais de filmes para clientes e uma freguesa que aluga sucessivamente o mesmo filme.

A ideia, nas palavras de André, era “mostrar como o cinema está presente e interfere em nossas vidas e como às vezes nós mesmos vemos nossas vidas como um filme”. Ele aproveitou para rechear o curta de referências cinematográficas diversas, inserindo elementos de várias épocas do cinema dentro dos filmes que os personagens assistem, de westerns até películas francesas da Nouvelle Vague. Para ele, a parceria do FBCU com o Cinusp é não somente importante, como também deveria servir para integrar outros estudantes da USP, que muitas vezes desconhecem os filmes feitos no curso de audiovisual da ECA.

Inspirado pelos cineastas Robert Bresson, Pedro Costa e Alberta Serra, o diretor Daniel Ifanger escolheu contar as agruras de um ajudante numa oficina de calhas que, após sofrer um acidente, fica impossibilitado de trabalhar. Ao falar sobre seu filme, Leron Mede os Espaços, o estudante admite que discutir inspiração nem sempre é fácil, já que um trabalho cinematográfico muitas vezes é a reunião de diversas mentes trabalhando juntas. “Faz parte desta transformação e contaminação de ideias a colaboração da equipe, que traz suas referências pessoais a partir da compreensão do projeto”, explica Ifanger.

Daniel defende que o FBCU é um dos mais completos festivais do país. “Ele promove discussões e debates em torno dos filmes que raramente são oferecidos em outros festivais. Os realizadores saem com a sensação de que seus filmes foram realmente vistos e discutidos”.

Em Quando o Céu Desce Ao Chão, projeto de conclusão de curso em Audiovisual dirigido por Marcos Yoshi, Sofia não sabe se casa ou se compra uma bicicleta. O filme partiu da vontade do diretor de trabalhar com a atriz protagonista: Sofia Botelho. Buscando abordar questões sobre a vivência das pessoas ao seu redor, Marcos revela que a intenção do curta era aproximar vida e filme. Ou seja, “criar uma relação de convivência com a obra, em que o filme poderia esboçar resoluções para conflitos do dia a dia, e, ao mesmo tempo, estar aberto para as mudanças que ocorriam na nossa vida”, explica.

Apesar de ter consciência de que São Paulo oferece uma quantidade grande de festivais e mostras, Marcos reitera que existe pouco contato entre as diferentes escolas de cinema. Para o futuro, o estudante sugere a possibilidade de uma troca mais constante no contexto paulistano: “mostras informais entre os trabalhos dessas escolas, organizadas pelas diferentes faculdades, centrando especialmente nos debates”.

Às voltas com um desespero silencioso, o engenheiro Cristóvão e a técnica de imagens Joana caminham juntos dividindo experiências e testando os próprios limites. Essa é a trama do curta Um, Dois, Três, Vulcão, trabalho de conclusão de curso do diretor Miguel Ramos que recebeu o prêmio de “Destaque em Contribuição Artística” pela competente utilização dos espaços, da matéria, das cores e da paisagem sonora como elementos dramatúrgicos.

Ganhador da menção honrosa no FBCU, A Galinha que Burlou o Sistema, dirigido pelo aluno da ECA Quico Meirelles, conta a história de uma galinha que toma consciência da engrenagem que rege sua vida, que determina seu destino. O curta foi vencedor da categoria “Melhor Filme de Ficção” durante o 12º Festival Internacional de Escuelas de Cine, no Uruguai, e será exibido no encerramento da programação especial do Cinusp.

Segunda chance

“Esperamos que os alunos que vieram ao Festival e aqueles que não puderam vir, tenham uma segunda chance de se encontrarem e ver parte da rica produção universitária nacional e mundial”, convida o coordenador Aleques.

Além dos filmes premiados no Rio de Janeiro, o Festival deste ano presta homenagem a Fernão Ramos, Professor Titular do Departamento de Cinema do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ramos encerra o FBCU em São Paulo com uma master class no Cinusp, no dia 23 de agosto, às 19 horas, dedicada ao tema “A Encenação Documentária”, na qual serão analisadas as particularidades do documentário a partir do conceito de ‘encenação’, dentro de uma perspectiva histórica e autoral, abordando as distinções importantes entre documentário e ficção.

A programação completa da mostra do 17º Festival Brasileiro de Cinema Universitário pode ser acessada no site do Cinusp. O endereço do cinema é Rua do Anfiteatro, 181, Colmeia, Favo 04, Cidade Universitária, São Paulo. A entrada é franca.

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