Historiador analisa importância de ex-alunos da USP na política brasileira

Fernando Henrique Cardoso, Jânio Quadros e Washington Luís. Além de todos terem sido presidentes do Brasil, esses nomes possuem outra característica em comum: todos estudaram na Universidade de São Paulo. Entre as dezenas de pessoas que já governaram o país, 12 já frequentaram a USP como alunos. Além desses, destacam -se nomes como Prudente de…

Fernando Henrique Cardoso, Jânio Quadros e Washington Luís. Além de todos terem sido presidentes do Brasil, esses nomes possuem outra característica em comum: todos estudaram na Universidade de São Paulo. Entre as dezenas de pessoas que já governaram o país, 12 já frequentaram a USP como alunos. Além desses, destacam -se nomes como Prudente de Moraes, Rodrigues Alves e Afonso Pena.

Para analisar esse fato, porém, é preciso pensar em duas fases: antes e depois da fundação da Universidade de São Paulo, em 1934. É o que explica o pesquisador Shozo Motoyama, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que, em 2004, escreveu o livro “USP 70 Anos : Imagens de Uma História Vivida”, na ocasião da comemoração do aniversário da Universidade.

Segundo Motoyama, essa divisão em dois períodos é importante para estudar a atuação de unidades da USP antes de sua fundação. “A Faculdade de Direito, por exemplo, fundada em 1827 é fundamental”, diz. De fato, de todos os presidentes que passaram pela Universidade, apenas um não pertenceu à instituição do Largo São Francisco.

Faculdade de Direito

De acordo com o pesquisador, no início do século XIX, existiam somente escolas profissionais superiores no país, como a de engenharia e medicina. Após a independência do Brasil, ficou-se decidido que seriam construídas duas universidades. Mas em vez disso, duas faculdades de direito foram fundadas: uma em Olinda, de caráter mais teórico, e outra em São Paulo, com foco mais prático.

Na verdade, essas instituições eram mais abrangentes. “Nós poderíamos até chamar de uma faculdade de humanidades em geral, em que está também à parte das ciências sociais aplicadas”, afirma Motoyama. Esse fato se deu porque o Brasil, que havia acabado de deixar a condição de colônia, necessitava de uma burocracia capaz de administrar o país e formar políticos, o que realmente aconteceu na Faculdade de Direito de São Paulo.

Para Motoyama, o motivo pelo qual a Faculdade formou tantos presidentes deve-se, ainda, ao fato de que praticamente a elite brasileira estudou na instituição. “Era uma escola bastante eficiente, e formou uma série de pessoas importantes nesse cenário, principalmente no final do século XIX para o início do século XX”. Além disso, nesse período, o pesquisador conta que a Faculdade teve um papel muito grande nos movimentos abolicionista e republicano. “A Faculdade de Direito deu uma contribuição extremamente importante nesse sentido”, diz.

Formação política

Na segunda fase, período que compreende a fundação da USP até os dias atuais, em termos de presidentes, a Universidade não formou muitos, além dos já citados Fernando Henrique Cardoso e Jânio Quadros. Entretanto, participou da formação de pessoas importantes no processo político brasileiro, como os sociólogos Florestan Fernandes, que também foi deputado federal, e Octávio Ianni. “Nesse sentido, muitos ministros e muitos secretários são formados pela USP”, conta o pesquisador.

Da mesma forma, na área legislativa, diversas figuras importantes frequentaram a Universidade. Entre alguns nomes, o que mais se destaca é o de Miguel Reale, filósofo e jurista que participou da elaboração da Constituição de 1988.

Ideias

Segundo o pesquisador, desde que surgiu, “a contribuição da USP foi fundamental para o país”. Primeiro, como uma instituição crítica à sociedade ao longo de sua história, e depois como um de seus instrumentos importantes. De acordo com ele, da mesma forma, as principais ideias de apoio às minorias e aos mais pobres sempre foram estimuladas na Universidade. “Essa é outra característica da USP que deve ser ressaltada e que, por isso mesmo, formou muitas pessoas importantes”, explica Motoyama.

Para ele, a USP é uma instituição multivariada, em que existe a possibilidade de convivência de diferentes ideias. O pesquisador acredita que a universidade é o lugar para a discussão, para o debate e para a produção de ideias, ciência e tecnologia. “Para isso, é necessário que haja toda essa multiplicidade de pontos de vista, que é fundamental”, completa.

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