Tese da FAU aponta que segurança contra incêndio deve ser preocupação de arquitetos

Estudo promove a discussão sobre segurança contra incêndio nos edifícios

Paloma Rodrigues / Agência USP de Notícias

Pensar a segurança conta o incêndio é uma atividade recente no Brasil e mais ainda na arquitetura. Uma regulamentação para a área só surgiu na década de 1970, depois do incêndio no edifício Joelma, em São Paulo, que culminou na morte de 179 pessoas. A gravidade da situação e as dificuldades no resgate mostraram a necessidade de regulamentação para essa área da segurança. Engenheiros e bombeiros começaram a refletir sobre a questão e o objetivo de uma recente pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP é fazer com que arquitetos também se preocupem com o assunto. Para isso, foi elaborado um texto base que pode ser aplicado no meio universitário, que mostra ao estudante de arquitetura a importância de suas decisões durante a elaboração do projeto, pois elas irão afetar diretamente possíveis resgates e salvamentos.

A tese de doutorado foi desenvolvida pelo bombeiro Walter Negrisolo, que diz sentir necessidade de uma abordagem mais profunda dos assuntos nas universidades. “Até o Joelma, os arquitetos não montavam um programa pensando na segurança contra o incêndio. O que se fazia era colocar extintores e hidrantes em todos os andares. Isso não é arquitetura”, diz ele.

Em seu mestrado, Negrisolo já havia constatado que 88% dos profissionais que atuam na regularização de edificações junto ao corpo de bombeiros de São Paulo, sendo eles engenheiros ou arquitetos, não haviam aprendido ou não tinham recebido informações suficientes sobre segurança contra incêndio. Considerando este fato, o pesquisador buscou uma maneira de promover essa discussão dentro dos ambientes universitários, onde esses profissionais se formam. A maneira que encontrou foi elaborando um texto base, que pode funcionar como ponto de partida para a abordagem do assunto em diferentes faculdades e centros universitários pelo país.

A regulamentação criada pelo poder público no estado de São Paulo impulsionou o assunto, que passou a ganhar espaço, mas ainda assim permaneceu durante muito tempo no âmbito da engenharia e do corpo de bombeiros. A partir dos anos 2000, as faculdades de arquitetura notaram sua deficiência na área e passaram a refletir sobre o assunto, mas esse é um movimento que precisa continuar se expandindo.

O que Negrisolo fez foi organizar as informações necessárias para promover a segurança em edifícios privados em um texto. “Eu percebi que o regulamento se tornou tão complexo que é quase impraticável. Eu quis montar um texto onde os futuros arquitetos possam entender a importância do seu trabalho na segurança e bem estar das pessoas”. O texto tem o objetivo de fazer o arquiteto pensar na questão porque tem consciência de sua importância e não simplesmente porque é obrigado por um regulamento.

Nele, são apontados exemplos e informações de soluções a serem utilizadas, um contexto histórico sobre a questão (abordando exemplos como o do Edifício Joelma) e indicações de vídeos e outras bibliografias que possam acompanhar o tema.

Linguagem utilizada

O que o bombeiro destaca é a maneira utilizada na abordagem do texto. “Como bombeiro, eu precisei conviver com os arquitetos para entender sua maneira de falar, seu linguajar. Me norteei por Paulo Freire, que diz que precisamos nos adaptar à linguagem do meio, pois assim podemos atingi-la mais facilmente”. Desta forma, a linguagem é o ponto que difere este texto base de todos os outros: é um texto voltado especialmente para os arquitetos e os arquitetos em formação.

Introduzindo à classe na discussão, é possível fazê-la refletir e repensar os regulamentos. “O arquiteto não participa muito das discussões porque acredita que isso não compete a ele. Mas queremos mostrar que ele tem, sim, uma importância fundamental na promoção da segurança em edificações”.

Mais informações: email negrisolo@usp.br

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