FE estuda modelo de educação para jovens e adultos em São Paulo

A pesquisadora Marilize Crepaldi constata que a infraestrutura e didática do CEEJA “Dona Clara Mantelli” é muito boa, e deveria ser utilizada em outras escolas.

Paloma Rodrigues / Agência USP de Notícias

Jovens e adultos do ensino médio têm um grande interesse pela área da biologia e conseguem aprofundar seus estudos no assunto. Uma pesquisa da Faculdade de Educação (FE) da USP analisou as oficinas ministradas no Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (CEEJA) “Dona Clara Mantelli”, na cidade de São Paulo, e constatou que o modelo da instituição favorece o entendimento dos alunos e os motiva a aprofundarem-se cada vez mais no tema. “Existe lá uma infraestrutura pensada para o aluno, professores dinâmicos e que se preocupam em interagir com a turma”, diz a bióloga e pedagoga Marilize Crepaldi. “Esse modelo tem de ser divulgado e aplicado em outras regiões da cidade”, recomenda.

Os CEEJA’s são instituições voltadas para jovens e adultos que não cursaram ou não concluíram os ensinos fundamental e médio na idade considerada apropriada. A organização didático-pedagógica é diferenciada, com a elaboração de cursos e oficinas para desenvolver o conteúdo aos estudantes. O CEEJA “Dona Clara Mantelli” fica na zona leste de São Paulo e é a única escola da cidade que atende nesse modelo exclusivo. Seus estudantes têm entre 18 e 70 anos, das mais variadas profissões.

A pesquisa teve como objetivo analisar a área da biologia. Se constatou que as oficinas e a metodologia como um todo facilita o entendimento dos alunos. “Os professores interagem bastante e criam um ambiente favorável aos estudantes nesse modelo de ensino. Isso torna o processo de aprendizagem mais flexível para atender as necessidades desse aluno”, diz a professora.

Outro diferencial do local, segundo Marilize, é a estrutura que incentiva o aluno a ler e se informar. As aulas são ministradas em torno de uma mesa oval, o que faz com que todos estejam em contato com todos durante as aulas. Além disso, as salas têm aproximadamente 20 alunos, para que todos consigam participar das conversas e se expressar. “Uma classe com poucas pessoas aumenta ainda mais o vínculo professor-aluno e a aula se torna interativa”, explica.

Para a disciplina de biologia, foram planejadas três oficinas: genética, botânica e microscopia. Para analisar a qualidade e eficácia deles, Marilize entrevistou alunos, professores e o diretor da escola. Para os estudantes, eram feitas perguntas referentes aos temas da disciplina, perguntando se o aluno sabia ou não o que era aquilo e, se sabia, deveria explicar numa entrevista semi-estruturada o que era. “A partir disso, eu via se o aluno estava indo para um caminho de entendimento e eu percebia que a maioria conseguia sim uma boa compreensão, principalmente quando o assunto estava vinculado ao currículo e às oficinas”. Com isso, ela conseguiu avaliar o processo inteiro e o classificou como uma boa experiência.

Um dos motivos que os entrevistados mais destacaram para gostar de biologia é que as ideias passadas são aplicáveis no dia-a-dia.

Leitura

Outro ponto que se destaca no CEEJA Dona Clara Mantelli é a importância que é dada à leitura. “Todos os alunos são incentivados a ler, a biblioteca fica aberta o dia inteiro e são espaços realmente utilizados pelos alunos, aquilo faz parte da rotina escolar deles.” Os professores também ficam disponíveis durante todos os dias, exceto quando estão em oficinas, para esclarecer dúvidas e debater ideias em atendimento exclusivo com o estudante.

O que a pesquisadora defende é que esse modelo seja ampliado e aplicado nas escolas de Educação para Jovens e Adultos já existentes. Isso porque esse programa de ensino se mostrou eficiente e pode atender mais pessoas que necessitam desse tipo de atendimento.

Segundo ela, “a EJA é uma modalidade de educação necessária em nosso país, pois há milhares de pessoas subescolarizadas e que precisam desenvolver a sua formação escolar para adquirir habilidades e competências, necessárias para melhorar suas vidas em aspectos gerais”, dentre eles um emprego no mercado formal, a convivência com grupos sociais, aumento de autoestima e conhecimento para viver melhor.

A tese de doutorado Alfabetização de biologia na educação de jovens e adultos foi defendida em outubro de 2012, na Faculdade de Educação (FE) da USP.

Mais informações: email mzcrepaldi@hotmail.com

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