De janeiro a junho, CEDIR recebeu quase 42 toneladas de descarte de eletrônico

Desde que foi inaugurado, em dezembro de 2009, o centro reformou cerca de 600 equipamentos, encaminhados para 30 unidades da USP e 52 entidades assistenciais cadastradas.

Valéria Dias / Agência USP

Apenas entre janeiro e junho de 2011, o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (CEDIR) da USP recebeu quase 42 toneladas de equipamentos descartados pela comunidade uspiana e por pessoas físicas, como CPUs, monitores, teclados, mouses, estabilizadores, no-breaks, impressoras, telefones, celulares, fios e cabos, CDs, DVDs, além de pequenos objetos como câmeras fotográficas, pilhas, baterias e cartuchos. Somente neste período, foram descartados 1439 monitores, 1202 CPUs e 511 impressoras.

Desde que foi inaugurado, em dezembro de 2009, o centro reformou cerca de 600 equipamentos, entre CPUs, monitores, impressoras, scanners, projetores e aparelhos de fax, que foram encaminhados para 30 unidades da USP e 52 entidades assistenciais cadastradas. O CEDIR funciona em um galpão de 400 metros quadrados, na Cidade Universitária, em São Paulo.

“A principal contribuição do CEDIR para sociedade é garantir que os equipamentos eletro-eletrônicos da USP tenham destinação correta e que a maioria do material descartado possa retornar para a cadeia produtiva. Isso evita, por exemplo, que mais metais sejam extraídos da natureza”, destaca a coordenadora do centro, a professora Tereza Cristina Carvalho, Assessora de Projetos Especiais da Coordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI) da USP.

Outra vantagem é possibilitar o reúso de equipamentos em projetos sociais, beneficiando comunidades que não teriam acesso a este tipo de recurso, além de fornecer algumas peças de reposição para equipamentos da própria USP e auxiliar pessoas físicas com a destinação correta de lixo eletrônico.

Prêmios

A iniciativa já rendeu três prêmios importantes. O centro recebeu Menção Honrosa do Prêmio Governador Mário Covas – Categoria Inovação pelo Projeto de Criação de Cadeia de Transformação de Lixo Eletrônico da USP, em 2008; No ano seguinte, foi contemplado pelo Prêmio Governador Mário Covas – Categoria Inovação; e em 2010, foi premiado com a Iniciativa Verde, da Revista InfoExame. Além de se tornar um referência nacional, o Centro já é reconhecido fora do Brasil, em países como Colômbia, Argentina e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. E serviu de base para a construção de um centro semelhante na baixada santista.
Aparelho blackberry deixado no CEDIR como descarte

A divulgação dos trabalhos possibilitou que muitas universidades, prefeituras e cidadãos despertassem para a questão do lixo eletrônico e começassem a trabalhar na mesma direção. “Há empresários que procuram o CEDIR na tentativa de verificar a possibilidade de abrir um negócio na área”, afirma.

O treinamento de catadores é outra contribuição, visto estar prevista a sua inclusão no processo de logística reversa da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Trata-se do Projeto Eco-Eletro – Reciclagem de Eletrônicos, realizado por meio de uma parceria entre o Laboratório de Sustentabilidade em Tecnologia da Informação e Comunicação (LASSU) do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais (PCS) da Poli e o Instituto GEA Ética e Meio Ambiente. O LASSU foi criado após a constatação de que era necessário desenvolver pesquisa na área de e-waste (lixo eletrônico).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei 12.305/2010 e sua regulamentação (Decreto 7404/2010) define o procedimento a ser adotado para descarte de vários resíduos, inclusive lixo eletrônico. De acordo com a PNRS, equipamento eletrônico não poderá ser descartado em lixões até 2014 sob pena de aplicação de multa para o fabricante. Já a logística reversa determina que os equipamentos devem voltar para os fabricantes para serem reciclados. Outro ponto importante é a responsabilidade compartilhada pelo equipamento, desde o fabricante, passando pelo distribuidor até o consumidor final.

O futuro

Tereza aponta que o CEDIR foi concebido para receber 500 computadores por mês (cerca de 5 toneladas). Mas em alguns meses, são recebidas de 10 a 12 toneladas de descarte. O número mensal de computadores reaproveitados varia entre 40 a 60 máquinas. Mas ainda existe uma demanda reprimida dentro da USP.

“Precisamos aumentar a vazão de saída para aumentarmos a vazão de entrada. Para cada tipo de material precisamos de um volume mínimo para comercialização. Para plástico é 300 quilos; as placas, 5 toneladas. A venda das peças cobre o custo de reciclagem de monitores CRT. Não temos ganhos”, declara.

Tereza destaca que é necessário refazer o ciclo de operação do CEDIR, criando, por exemplo, o conceito de células especializadas em desmontagem de computadores, outra em impressoras, etc, pois possibilitaria o aumento da produtividade.

“CEDIR foi concebido para receber 500 computadores por mês (cerca de 5 toneladas)”

O princípio

A preocupação com sustentabilidade e a destinação correta de equipamentos eletrônicos teve início bem antes da inauguração do CEDIR. Quando era diretora do Centro de Computação Eletrônica (CCE) da USP, entre 2006 e 2010, Tereza criou um Programa de Sustentabilidade, iniciado em 2007, com uma Comissão de Sustentabilidade. A partir de trabalhos desta comissão decidiu-se submeter projetos aos Programa MIT S-Lab (Sustainability Program) e MIT L-Lab (Leadership on Sustainability) do Instituto de Tecnologia de Massachusettts (MIT), nos Estados Unidos, que garantiram uma parceria entre as instituições. Um dos resultados foi um projeto para coleta de lixo eletrônico que acabou fornecendo elementos para a criação do CEDIR, em 2009.

Outra iniciativa foi a criação, em 2008, de um “selo verde” emitido pelo CCE/USP para a empresa que fornecesse computadores ambientalmente sustentáveis: livre de chumbo e com menor consumo de energia, entre outras características. “Queríamos realizar uma licitação onde pudéssemos selecionar equipamentos ambientalmente sustentáveis em relação ao que vínhamos adquirindo até aquele momento”, conta Mauro César Bernardes, que na época era Diretor da Divisão do CCE que contribuía com a Coordenadoria da Tecnologia da Informação (CTI) para o desenvolvimento das especificações técnicas para as compras centralizadas de equipamentos de informática.
Tereza Carvalho: é necessário refazer o ciclo de operação do CEDIR

O problema, segundo ele, eram as limitações no mercado brasileiro, pois havia poucos fornecedores que atendiam aos critérios, e isso inviabilizava a concorrência. Para resolver o problema, as especificações técnicas da licitação foram mudadas, indicando que os critérios de sustentabilidade eram “desejáveis” e não “obrigatórios”. O “selo verde” acabou sendo concedido para a Itautec, empresa que forneceu os computadores sustentáveis.

Mudando regras

O selo verde teve grande repercussão na mídia e chamou a atenção da Secretaria de Logística do Ministério do Planejamento. “Fomos convidados a participar de uma audiência pública em Brasília para a elaboração da Instrução Normativa 01/2010 a partir da qual a administração pública federal tem respaldo jurídico para incluir critérios de sustentabilidade em suas licitações”, revela Bernardes.

Posteriormente, ele participou de um summer school (encontro de pesquisadores) coordenado pela Universidade das Nações Unidas para discutir questões relacionadas ao lixo eletrônico.”Entrei em contato com eles descrevendo a experiência do CEDIR e fui convidado para integrar o grupo que ficou reunido por 10 dias na Holanda estudando os problemas ligados ao tema. Dentre eles havia o envio de lixo eletrônico para a África”, relata.

“Em alguns meses, o centro recebe de 10 a 12 toneladas de descarte de eletrônicos”

África

Constatou-se a necessidade de um maior envolvimento dos governantes e dos fabricantes para que, juntos, trabalhassem alternativas para a reciclagem sem a necessidade de encaminhar o material para países em desenvolvimento. “O grande problema está relacionado às doações dos equipamentos para esses países. Percebemos que havia uma grande dificuldade das autoridades portuárias identificarem o que ainda funcionava e podia ser reutilizado e o que já podia ser considerado lixo eletrônico”, explica.

Na periferia de Accra, capital de Gana, o cenário é desolador. Imensos lixões são o destinos de equipamentos eletrônicos vindos da Europa e dos Estados Unidos. A garimpagem é feita até por crianças, ao ar livre, sem nenhum tipo de proteção. Veja neste link imagens produzidas pelo fotógrafo Andrew McConnel que mostram a dimensão da gravidade do problema.

Conscientização

Se você necessita descartar materiais eletrônicos, além do CEDIR, também é possível enviar computadores para os fabricantes dos equipamentos, como: a DELL, a HP, a Positivo, e a Itautec . No site da Itautec está disponibilizado o Guia do Usuário Consciente, com dicas importantes sobre a compra, o uso e o descarte de equipamentos eletrônicos, entre outras informações importantes sobre o tema. Para celulares e outros equipamentos eletrônicos, a recomendação é entrar em contato com o serviço de atendimento ao cliente.

Já o site e-lixo maps é uma iniciativa do Instituto Sergio Motta em parceria com outras instituições. Basta digitar o endereço e o equipamento a ser reciclado (de abajures a webcam) e o site fornece uma lista dos recicladores mais próximos.

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