Exposição no CPC mostra “outros Bixigas” até final de janeiro

Projeto Bixiga em Artes e Ofícios mapeou e registrou artistas e artesãos do local em fotos, vídeos e textos através do olhar dos próprios moradores e frequentadores da região, além de criar site colaborativo.

O Bixiga não é, oficialmente, um bairro. O número 353 da Rua Major Diogo fica, nos registros, na Bela Vista. Lá, o Centro de Preservação Cultural (CPC) da USP/Casa de Dona Yayá percebeu que, se o Bixiga é mais que um bairro, ele também pode ser muito mais amplo e ir além de sua fama como reduto de cantinas italianas. Reflexo disso, a exposição Bixiga artes e ofícios reúne o registro de diversas manifestações culturais da região e fica no CPC até o final de janeiro.

A exposição é resultado do projeto “Bixiga em Artes e Ofícios“, uma iniciativa do Centro para estabelecer contato e conhecimento sobre os artistas e artesãos da região, mas tudo isso através do olhar e escrita dos próprios moradores, trabalhadores e frequentadores do Bixiga.

Para viabilizar essa aproximação, foram oferecidas quatro oficinas: Observação e Escrita, Cadernos de Viagem, Fotografia e Vídeo. A ideia era que pessoas que já possuíssem uma relação com o Bixiga ajudassem a mapear a produção cultural da região e registrá-la de maneiras variadas.

Vitor Grunvald é pesquisador do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA) e integrante do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI), ambos da USP, e ministrou a oficina de Videodocumentário. Ele explica que a oficina teve três momentos. No primeiro, houve uma discussão teórica sobre antropologia e como a intuição antropológica pode ajudar na produção de um documentário. No segundo momento, foram apresentadas algumas estratégias utilizadas por diretores documentaristas. Por fim, os participantes foram a campo. Com o material filmado em mãos, eles ainda tiveram um workshop de edição.

Ir a campo não é tarefa fácil, tudo pode acontecer e é preciso saber lidar com as dificuldades que surgem. Mas Adriana de Oliveira, que coordenou a oficina de Observação e Escrita, diz que saber aproveitar os imprevistos também é uma forma de observação. Na sua oficina, assim como no projeto em geral, os participantes foram convidados a “estranhar o conhecido”, descobrir os “outros Bixigas, como diz Adriana: “Algumas coisas são tão presentes, cotidianas e automáticas no nosso dia a dia que já não conseguimos mais enxergá-las”.

Algumas coisas são tão presentes, cotidianas e automáticas no nosso dia a dia que já não conseguimos mais enxergá-las.

Além da exposição, outro fruto do “Bixiga em Artes e Ofícios” foi um site em constante atualização. “Por que não trabalhar com a apresentação do projeto por meio de uma ferramenta virtual colaborativa? O conhecimento produzido está disponível para um público muito maior do que somente aquele que vai à exposição”, explica a professora Rose Satiko, coordenadora do projeto.

O mapa interativo mostra os locais visitados pela equipe, além de reunir fotos, textos e vídeos produzidos a partir das oficinas e do trabalho de campo. Segundo Rose, o objetivo não é realizar um mapeamento exaustivo da totalidade de ofícios no Bixiga, mas que os próprios artesãos e artistas que não foram mapeados também entrem em contato com o CPC para integrar o mapa. “Se quiserem, eles mesmos podem trazer material sobre o ofício deles, como fotos e vídeos”, afirma Rose.

A Casa de Dona Yayá é um órgão de Cultura e Extensão da Universidade. Por isso, estreitar as relações entre o Centro e a comunidade era uma das metas fundamentais. Para Rose, deu certo. “Os moradores passam em frente ao CPC e nem sabem o que está acontecendo lá. Muitos que participaram das oficinas voltaram à casa depois para visitar a exposição, trouxeram parentes e amigos”.

Antiguidades, artes plásticas, capoeira

Sobre o conteúdo da exposição e do site, Rose explica que foi levada em conta todas as forma de manifestação cultural do Bixiga, fossem elas tradicionais ou aquelas que vêm surgindo e conquistando espaço na região recentemente.

A professora ressalta a importante relação da região com o samba. No site, é possível assistir a vídeos sobre uma tradicional roda de samba ou acompanhar o ensaio da bateria mirim da Vai-Vai. Outro destaque no Bixiga é a presença de diversos restauradores de antiguidades. “São pessoas que estão na região há muitos anos e vão passando a técnica de seu ofício de pai para filho, por várias gerações”, explica Rose.

Vitor Grunvald acredita que o material audiovisual produzido no projeto, em geral, ficou muito bom. Ele destaca o documentário Impressão, sobre a artista plástica Júlia Salgueiro, também disponibilizado no site do projeto. “A qualidade da filmagem é ótima e a trilha sonora do filme é original, porque havia uma pessoa no grupo que trabalhava com som”.

Com a oficina de Observação e Escrita os participantes também exercitaram o ir além das palavras, “despertar os cinco sentidos”, como define Adriana. Ela relembra uma moça que decidiu jogar capoeira para entender mais de perto aquela arte sobre a qual pretendia escrever.

*Fotos da oficina Cadernos de Viagem, ministrada por Fernanda Barreto;
Caderno: “Sandro dos Santos e Quilombolas de Luz”, de Vanessa Cezário.

Serviço

Bixiga artes e ofícios fica aberta até 31 de janeiro, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas no Centro de Preservação Cultural (CPC)/Casa de Dona Yayá (Rua Major Diogo, 353, Bela Vista – São Paulo). Mais informações no site do CPC e do projeto. A entrada é gratuita.

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