Pesquisa mostra que atenção básica pode evitar 50% das internações infantis

Pesquisa na EERP aponta que cerca de metade das internações infantis acontecem por doenças respiratórias e poderiam ser evitadas se as crianças recebessem tratamento adequado na atenção primária.

Mariana Soares / Agência USP

Cerca de metade das internações infantis acontecem por doenças respiratórias e poderiam ser evitadas se as crianças recebessem tratamento adequado na atenção primária. Essa é uma das informações reveladas no estudo da enfermeira Beatriz Rosâna Gonçalves de Oliveira Toso, defendido na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. Beatriz analisou as causas desse fato e quais eram as falhas da atenção básica, propondo uma mudança no sistema de saúde, para que se torne mais integrado e humanizado e essa porcentagem seja reduzida.

O objetivo da enferemeira era entender o porque do alto número de internações pelas chamadas causas evitáveis. Isto é, problemas que deveriam ter sido resolvidos já no ambulatório, no primeiro contato do paciente com o atendimento médico. A pesquisadora constatou que 50% das internações eram por infecções respiratórias não-crônicas, como gripe sinusite e pneumonia. Essa é a média nacional e, em Cascavel, no Paraná, cidade onde o estudo foi realizado, o índice está bem próximo disso (49,6%). Os dados analisados abrangem os anos de 2006 a 2011.

Por conta dessa constatação, Beatriz analisou o funcionamento da atenção básica e observou que seus princípios básicos não estavam sendo implementados, que os pacientes que procuravam ajuda não o conseguiam de forma satisfatória, o que resultava em um maior número de internações. Tais princípios são o do acesso de primeiro contato (ou seja, o paciente conseguir chegar ao posto de saúde), a resolução (conseguir que seu problema seja resolvido), a longitudinalidade (a mesma UBS conseguir resolver seus problemas ao longo do tempo) e a integralidade (se uma unidade não consegue resolver, deve-se encaminhar para alguma outra). Além disso, o profissional deve exercer o cuidado da família e a orientação comunitária.

As mudanças

O estudo foi realizado a partir do Hospital Universitário de Cascavel, no Paraná. Beatriz fez uma análise quantitativa de dados e selecionou, entre outubro de 2009 e junho de 2011, crianças hospitalizadas com infecções respiratórias que haviam passado anteriormente por unidades básicas de saúdes. Por meio de entrevistas com modelo baseado no PACTool versão criança (um formulário aplicado no Canadá), a pesquisadora tentou descobrir o que aconteceu para que elas acabassem hospitalizadas, saber aonde a atenção básica falhou.

Beatriz sugere a adoção de um sistema mais integrado de serviços de saúde, onde os princípios da atenção básica sejam implementados, que o foco esteja no usuário e que haja a humanização do cuidado do paciente. O governo do estado do Paraná já adotou como estratégia a implantação dessas redes de atenção básica, e a pesquisadora foi convidada para ser uma das tutoras do programa Atenção primária à saúde de qualidade em todo o Paraná: Formação e qualificação profissional em atenção primária à saúde (APSUS).

Para a enfermeira, é essencial fazer com que os municípios reflitam sobre sua organização da saúde básica e tentem mudar suas práticas, “pois do jeito que é feito hoje, vivemos em um faz-de-conta, apenas temos a ilusão de que estamos tratando da saúde.

A tese de Beatriz, intitulada Resolutividade do cuidado à saúde das crianças menores de cinco anos hospitalizadas por causas sensíveis a atenção básica, foi orientada por Regina Aparecida Garcia de Lima e ganhou o primeiro lugar no prêmio Maria Cecília Puntel de Almeida, concedido a teses de doutorado na área de saúde pública, durante o Congresso Brasileiro de Enfermagem, em outubro de 2011, em Maceió.

Mais informações: email lb.toso@certto.com.br

Scroll to top