Pesquisadora da FFLCH estuda características discursivas do jornal impresso Publimetro

Foco da pesquisa foram notícias de minorias sociais.

Rúvila Magalhâes / Agência USP de Notícias

O jornal impresso Publimetro (Metro) possui traços de subjetividade, concisão e escolhas lexicais que chamam a atenção do público que o recebe gratuitamente em diversos pontos da cidade de São Paulo. Segundo o estudo realizado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP pela pesquisadora e mestre em língua portuguesa, Laryssa da Silva Santos, o trabalho abre portas para uma reflexão a respeito da existência ou não de imparcialidade no jornalismo.

A dissertação de mestrado foi orientada pela professora Maria Lúcia C. V. De Oliveira Andrade e buscou entender as características discursivas do periódico. A motivação de Laryssa pelo tema surgiu diante da percepção do interesse de seus alunos pelas matérias publicadas no jornal. Apáticos à outros jornais, os estudantes despertaram atenção especial na leitura das notícias publicadas no jornal Metro. “Por meio das pequenas notas do Metro, os alunos demonstram interesse por determinadas notícias e mostram-se motivados a ler outras reportagens ou fazer pesquisas sobre o assunto”, relata Laryssa. O objetivo da pesquisa então tornou-se estudar as características discursivas do jornal, com foco para as notícias sobre minorias sociais.

A pesquisadora explica que, para atingir a meta, foi usada uma ferramenta chamada Análise Crítica do Discurso, “que associa a perspectiva sociológica e política sobre o jornalismo como discurso social e a atenção particular à linguagem e às suas escolhas de realização em atos de comunicação”. O estudo baseou-se em notícias publicadas no intervalo de maio de 2008 a julho de 2011.

Características discursivas

O jornal Metro é impresso em formato tablóide, o que possibilita uma leitura durante a ida ao trabalho, mesmo em um trajeto feito em transporte público. A estrutura é simples, contando com resumos das principais notícias locais, nacionais e internacionais. São acontecimentos presentes em outros veículos. como TV e internet. Os assuntos, já em destaque em outros meios, despertam a curiosidade do leitor. A diagramação permite uma leitura rápida, além de contar com imagens para ilustrar os textos e chamar ainda mais a atenção do leitor para as matérias.

A análise mostrou que jornal Metro possui características discursivas que visam contemplar as necessidades informativas de um público muito amplo e por isso as notícias que ele traz são curtas, concisas, objetivas e diretas. Essas quatro características são bastante prezadas no jornalismo, mas nem sempre estão presentes em todas as matérias, já que os grandes jornais pautam as discussões apresentadas em suas páginas de acordo com o seu público-alvo, levando em conta principalmente os interesses informativos de seus assinantes e anunciantes. No jornal Metro, até mesmo a escolha lexical, ou seja, a escolha das palavras usadas nas matérias, também é condicionada para proporcionar mais clareza e também para aproximar o público da notícia.

No entanto, o estilo de redação direto e objetivo do jornal Metro não impediu a identificação de marcas de subjetividade nas notícias analisadas. “Esses traços estão presentes nas escolhas do enunciador para construir o referente, escolhas essas compartilhadas com o conhecimento de mundo do interlocutor e de acordo com as intenções do produtor do texto”, explica Laryssa. É possível identificar um sujeito, dotado de opiniões e críticas, mesmo na escolha lexical.

O domínio do gênero jornalístico é a receita do sucesso, para a pesquisadora: “quanto mais se sabe sobre esse gênero, maiores são as possibilidades do discurso ser eficaz”. Ainda discutindo o jornalismo, a pesquisadora alega surpresa ao perceber que mesmo em notas é possível identificar marcas de subjetividade. A imparcialidade do jornalismo, tida como um ideal e considerada existente por muitos é pauta para reflexões e intermináveis debates.

Além das características discursivas analisadas, a pesquisa também foi capaz de comprovar que formas de preconceito, sexismo e racismo estão incorporadas, mesmo que discretamente, em notícias sobre fatos cotidianos. “Concluímos também que nem sempre o poder é exercido por meio de atos obviamente abusivos praticados por membros de um grupo dominante; antes, pode estar incorporado no grande número de ações consideradas rotineiras”, explica Laryssa.

Mais informações: email laryssass@gmail.com

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