Pesquisa no HU revela que inatividade afeta paciente internado com doença pulmonar

Tempo reduzido de atividade física agrava quadro de fraqueza muscular decorrente da doença.

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

Portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) sofrem com a inatividade física durante a internação. Um grupo de 20 pacientes do Hospital Universitário (HU) da USP, que participou de pesquisa do fisioterapeuta Rodrigo Cerqueira Borges, realizava diariamente apenas sete minutos de atividades, como ficar em pé e caminhar por dia. No resto do tempo, eles permaneciam deitados, agravando a fraqueza muscular decorrente da doença. Para evitar problemas decorrentes da inatividade, o fisioterapeuta sugere a realização de um mínimo de atividades físicas, como ficar em pé e andar, de forma intervalada, durante a internação.

A pesquisa procurou avaliar o nível de atividade física de pessoas com bronquite crônica e enfisema pulmonar (atualmente denominadas  DPOC) que passavam por períodos de internação e como era sua recuperação após receberem alta. “Verificou-se o que poderia influenciar a maior ou menor atividade física durante e um mês depois da internação”, diz o fisioterapeuta. O trabalho foi orientado pelo professor Celso Carvalho, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da FMUSP.

De acordo com Borges, os pacientes foram internados devido ao agravamento dos sintomas da doença, entre os quais estão falta de ar, cansaço, aumento da quantidade de escarro e mudanças em seu aspecto. “Cada paciente recebeu um equipamento chamado acelerômetro, colocado na cintura, que media quanto tempo ele ficava deitado, sentado, em pé e andando”, conta. A medicação era feita entre às 8 e às 20 horas. “Um mês depois da alta, eles voltavam a utilizar o acelerômetro em casa durante todo o dia”.

Atividade física

Também foram realizadas avaliações de força muscular, testes de caminhadas (que mediam a distância que o paciente caminhava em 6 minutos) e se verificava se os medicamentos recebidos tinham influência na atividade física. “Durante a internação, os pacientes eram muito inativos, caminhando cerca de 7 minutos por dia e passando o resto do tempo deitados”, afirma o fisioterapeuta. “Um mês depois da alta, o grau de atividade aumentava de forma significativa, e o tempo de caminhada aumentou para 40 minutos, em média”.

A recuperação dos pacientes brasileiros mostrou ser mais rápida do que a verificada na Europa. “O nível de inatividade na internação é semelhante, porém após saírem do hospital, o tempo de caminhada entre os europeus fica em torno de 20 a 30 minutos”, ressalta Borges. Segundo o fisioterapeuta, a fraqueza no músculo da coxa (quadríceps) é o principal fator que influencia a maior inatividade dos portadores de DPOC durante a internação. “Essa fraqueza pode ser decorrente do aumento da gravidade da doença, deixando os pacientes mais inativos”, afirma.

Borges verificou também uma relação entre função pulmonar, oxigenação do sangue e atividade física. “Se os resultados da prova de função pulmonar e de oxigenação eram baixos, os níveis de atividade também eram”, observa. “Além disso, a atividade inflamatória elevada estava relacionada com maior inatividade”.

O fisioterapeuta recomenda a realização de um mínimo de atividade física durante a internação. “Os pacientes podem realizar algumas atividades simples, como ficar em pé e andar”, sugere. “Deve haver um intervalo entre essas ações, para que não haja problemas de falta de ar. Com a atividade, a pessoa fica menos inativa e não sofre tanto as consequências da hospitalização”. Os resultados da pesquisa foram descritos em artigo publicado no International Journal of COPD, publicação científica internacional especializada em DPOC.

Mais informações: email rodrigocerqueira@hu.usp.br, com Rodrigo Cerqueira Borges

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