USP e Defesa Civil se aliam em centro de pesquisas sobre desastres

Novo Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres no Estado de São Paulo pretende reunir diferentes áreas em ações de prevenção e recuperação.

A USP e a Defesa Civil do Estado de São Paulo assinaram, no início desse ano, um convênio para criação do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres no Estado de São Paulo (Ceped). O projeto, iniciativa da Superintendência de Relações Institucionais (SRI) da USP, surgiu a partir de  da interesse da própria Defesa Civil.

O Ceped vai funcionar como um Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP), sob coordenação da Poli, e tem como objetivo principal reunir estudos que já estavam sendo realizados na Universidade dentro do tema. Além disso, o coordenador científico do Ceped e docente da Escola Politécnica (Poli), Hugo Yoshikazi, ressalta a demanda do próprio estado. “Já existem outros centros do gênero em outros estados, ligados à universidades federais, e a Defesa achava importante ter um centro aqui , e que fosse da USP a tarefa de estruturá-lo”, diz.

O Ceped tenta desenvolver pesquisas baseadas em demandas. Para isso, agrega docentes de diversas áreas da Universidade, desenvolvendo alguma ação relacionada aos desastres. Isso tanto na parte de mitigação, que é a tentativa de minimizar o efeito daquele desastre; de recuperação, quando por exemplo, uma cidade foi inteiramente destruída, saber como recuperar aquela área; de resposta, que envolve logística – quantos carros de bombeiros e ambulâncias são necessários; e de preparação, que, baseia-se em um histórico que dê a probabilidade de acontecer algum desastre, para dizer como se preparar.

Carlos Morales Rodriguez, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP e membro do Ceped, exemplifica: “sabe-se que todo ano chove bastante, em eventos extremos. Se a sociedade e Defesa Civil já sabem dessa probabilidade, o que pode ser feito para preparar o local e se adequar a esse evento?”

Além do IAG e da Poli, integram o Ceped as seguintes unidades da USP: Instituto de Psicologia (IP); Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU); Instituto de Geociências (IGc); Faculdade de Saúde Pública (FSP); Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH); Faculdade de Direito (FD) e Escola de Engenharia de São Carlos (EESC).

Interdisciplinaridade

As ações que o Ceped vai desenvolver incluem desde a elaboração de relatórios que reúnem as conclusões das pesquisas desenvolvidas no Centro até treinamento e capacitação de agentes da Defesa Civil. “Precisamos centralizar as informações. A gestão do desastre é complicada porque envolve a tomada rápida de decisões. O Ceped, com a participação da Universidade, entra com o argumento técnico que deve se sobrepor à questões políticas”, opina Arthur Lara, professor da FAU e participante do Ceped.

O Ceped, com a participação da Universidade, entra com o argumento técnico, que deve se sobrepor à questões políticas.

Nesse sentido, o Centro pretende elaborar cartilhas e apostilas que orientam a população sobre como agir em caso de evento extremo, e treinar agentes da Defesa Civil em itens como interpretação de dados de previsão de tempo; tratamento de epidemias; e amparo a vítimas e sobreviventes.

De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte (LEM) do IP, Elaine Alves, a capacitação de profissionais especializados em cuidados às vítimas e aos trabalhadores em situações de desastre já pode operar. “O curso está pronto e pode ser ministrado em quatro horas. No entanto, para que ele seja realmente efetivo precisamos que seja no mínimo semestral. Nossa intenção futuramente é de que o curso se torne uma disciplina dentro do IP, se não obrigatória, pelo menos optativa”, comenta.

Mas uma das principais ações do Ceped diz respeito à criação de um mapa colaborativo.

Se todos estão trabalhando com temas semelhantes, colocar tudo isso em um sistema só vai permitir entender melhor o desastre.

Os pesquisadores estão colocando seus trabalhos em um sistema de informação geográfica. “Isso está sendo fundamental para a formação de um banco de dados geográficos, disponível para todos eles. O pessoal da Saúde Pública, por exemplo, tem os dados de epidemiologia, como casos de leptospirose em função de enchentes. Na Poli temos muitos dados associados a óbitos, porque trabalhamos com os boletins de ocorrência da Defesa Civil. Na Geologia, existem mapas de áreas de risco, e assim por diante. Então, se todos estão trabalhando com temas semelhantes, colocar tudo isso em um sistema só vai permitir entender melhor o desastre”, diz Yoshikazi.

Ação e prevenção

No Brasil, devido à ausência de fenômenos como terremotos, furacões e vulcões, as principais ocorrências de desastres naturais estão relacionadas com a chuva. “Nosso plano é, a partir de informações sobre áreas críticas, fazer uma análise estatística de todos os eventos metereológicos e identificar qual a probabilidade de algum evento extremo ocorrer. Uma vez identificados esses extremos no passado, pretendemos desenvolver produtos que possam fazer detecção e prevenção”, conta Carlos Morales Rodriguez.

Rodriguez é coordenador do Laboratório Storm-T (Sensoriamento Remoto Metereológico de Tempestades, do IAG. Além desse, participam do Ceped os Laboratórios Master (Metereologia Aplicada a Sistemas de Tempo Regionais) e o Grec (Grupo de Estudos Climáticos). “Unindo o trabalho dos laboratórios pretendemos aprimorar a previsão e fazer um modelo de previsão de curtíssimo prazo, para as próximas horas. O radar vai identificar onde está chovendo. Uma vez que identificamos a chuva, procuramos saber onde vai chover nos próximos 30 minutos, se ela vai aumentar, se vai diminuir, se vai ter raio, se não vai”, detalha o pesquisador.

Mas nem toda prevenção deste gênero é capaz de evitar um desastre, principalmente os relacionados à chuva. Quando chove intensamente e há deslizamento, é preciso se mobilizar para tentar salvar o maior número de pessoas. “Percebemos que nem sempre há condições para cuidar de uma cidade quando ela entra em colapso: não há nem treinamento, nem equipamento”, diz Lara.

Tendo em vista esse problema, o seu grupo de pesquisa procura desenvolver novos equipamentos para o salvamento de pessoas. Um deles é uma nova boia, mais eficiente. “Reparamos que o biotipo das pessoas mudou, nem todos entram nas boias da Marinha. Procuramos materiais e formas novas, que permitam transporte de animais e utensílios domésticos, além de pessoas”, propõe Lara.

O biotipo das pessoas mudou, nem todos entram nas boias da Marinha. Procuramos materiais e formas novas, que permitam o transporte de animais e utensílios.

O Ceped também pretende agregar trabalhos desenvolvidos pelos alunos. Algumas ações foram encomendadas a trabalhos de conclusão de curso. Na Poli existem dois grupos na Engenharia de Computação envolvidos em projetos junto à Defesa Civil de São Paulo. E um aluno da Engenharia de Produção está desenvolvendo uniformes especiais para a Defesa Civil. “São demandas imediatas que nossos alunos já são capazes de atender”, conta Yoshikazi.

Além desses projetos, outras unidades como o IGc e a FSP irão agregar seus estudos em  gerenciamento de áreas de riscos de escorregamentos e elaboração de mapas de vulnerabilidade, respectivamente. A mobilização de tantos profissionais, envolvidos em projetos das mais diversas área podem fazer parte da solução ou pelo menos diminuir a gravidade dos problemas que se repetem todo verão no Brasil.

Colaborou: Maria Marta Cursino, do Serviço de Comunicação do IP

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