Pesquisa do IP mostra que crianças com e sem autismo têm mesmo desempenho em teste

A pesquisa contou com o acompanhamento de 434 crianças de dois estados brasileiros - São Paulo e Santa Catarina - cursando o ensino fundamental, e com uma amostra clínica - composta por 20 crianças diagnosticadas com Transtornos do Espectro do Autismo.

Fernanda Maranha / Assessoria de Comunicação do IP

Dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia (IP) da USP realizou uma versão traduzida do teste “Ler a Mente nos Olhos”, de Simon Baron-Cohen em um grupo de 454 crianças de 6 a 13 anos.

A pesquisa intitulada “Versão infantil do Teste ‘Ler a Mente nos Olhos (‘Reading the Mind inthe Eyes’ Test)’: um estudo de validade” feita por Melanie Mendoza, e orientada pelo professor Francisco Baptista Assumpção Junior, contou com o acompanhamento de 434 crianças de dois estados brasileiros – São Paulo e Santa Catarina – cursando o ensino fundamental, e com uma amostra clínica – composta por 20 crianças diagnosticadas com Transtornos do Espectro do Autismo.

Segundo estudo de Baron-Cohen, com Leslie e Frith, crianças autistas – em comparação com crianças normais – teriam dificuldade em atribuir estados mentais e emoções a outros indivíduos e compreender que esses poderiam possuir perspectivas diferentes das delas. Tal déficit foi definido como uma dificuldade na elaboração de uma Teoria da Mente.

Originalmente, o teste “Ler a Mente nos Olhos”, em sua versão infantil, foi realizado em 2001, também por Baron-Cohen e outros especialistas, com 15 crianças diagnosticadas com Síndrome de Asperger, e 103 de um grupo controle. Nesta pesquisa foram encontradas diferenças significativas entre os dois grupos. Os autores informaram que as crianças com a síndrome residiam na escola especializada, o que refletia a gravidade do transtorno.

Mas, a pesquisadora, ao realizar tal experimento com este grupo de crianças autistas brasileiras, não encontrou distinção nos resultados ao compará-los com os do grupo controle: “Eu imaginava encontrar diferenças e eu não encontrei. Pelo menos nesta tarefa [o eyes-test] eles foram quase iguais”, afirma. Uma das possíveis explicações para esse resultado é o fato de o teste, do ponto de vista psicométrico, não ter sido bem construído. Além disso, Melanie Mendoza comenta acerca da grande gama de sintomas na população de autistas e sobre a dificuldade de encontrar uma explicação cognitiva para o transtorno em questão: “O autista tem uma série de comportamentos, mas é difícil conseguir enxugá-los e resumi-los” e declara que “a gente usa as escalas como um suporte, mas o diagnóstico do autismo é muito clínico ainda”.

Divergências relevantes nos resultados foram encontradas apenas entre as médias de acordo com o critério ano cronológico e, principalmente, escolar: as crianças mais velhas e com maior escolaridade obtiveram mais acertos no teste. Segundo Melanie, isso pode ter relação com as habilidades verbais, porque a criança precisava fazer um pareamento entre uma imagem – que representava uma emoção – com o nome que correspondia a esse estado mental.

A pesquisadora explicou que os autistas estudados possuíam um bom desenvolvimento verbal, e que, talvez, esse fator pudesse ser o responsável pelo desempenho dos mesmos. Mas também esclareceu a importância dessa característica para a realização do experimento. “Em um autista que não tem linguagem desenvolvida direito, eu nem consigo aplicar meu teste”.

Para o doutorado, Melanie Mendoza pensa em reformular o teste, construindo um novo instrumento para avaliar a presença deste déficit em autistas.

Mais informações: email ipcomunica@usp.br

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