Big Data: para entender (e transformar) um mundo cada vez mais complexo

Em encontro na FFLCH, Chad Gaffield discorreu sobre como a área das ciências humanas pode contribuir para a sociedade ao tomar a dianteira na análise das grandes bases de dados, ou, Big Data.

“O século 21 ficará conhecido como século em que a humanidade quis entender seu próprio comportamento”. A reflexão é do historiador canadense Chad Gaffield, que ministrou no último dia 17 a palestra Understanding People In The Digital Age. O evento reuniu, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, professores, cientistas sociais e interessados no conhecimento que a análise de dados por sistemas digitais pode gerar.

Para o especialista e presidente do Social Science and Humanity Research Council (SSHRC), organização dedicada à pesquisa das ciências sociais no Canadá, vivemos o período de maior mudança desde a invenção da imprensa. Pela primeira vez na história do homem todos os campos da Ciência e esferas sociais caminham rumo a uma mesma compreensão. “Percebemos que o foco agora é ampliar o conhecimento sobre pessoas”, explica Gaffield, ao revelar que o Canadá é o segundo país que mais recebe alunos do Ciência Sem Fronteiras e o SSHRC tem parcerias com 41 países.

‘Big Data’ e as Ciências Humanas

Historiador por formação, o pesquisador dedicou os últimos anos ao estudo dos dados, mais especificamente dos “grandes dados”, ou “Big Data”, em inglês. A expressão se refere a conjuntos de dados tão complexos que se torna difícil processá-los usando-se ferramentas de análise de dados tradicionais. Os desafios envolvendo a área incluem captura, curadoria, armazenamento, busca, compartilhamento, transferência, análise e visualização.

Cientistas no mundo inteiro encontram limitações devido a esses grandes conjuntos de dados em muitas áreas, entre elas a meteorologia, a genômica, a física e a pesquisa ambiental. Entretanto, para o canadense, cabe às ciências humanas tomar partido na interpretação dos dados sobre como agem as pessoas e, consequentemente, a sociedade.

De acordo com Gaffield, desde a segunda metade do século passado, o foco em pessoas e a preocupação em compreender o comportamento humano tem ganhado importância. “Nos negócios o foco começou a mudar do produto para o consumidor. Hoje, empresas querem saber o que as pessoas querem, os produtos são ‘user-oriented’ e os serviços buscam entender como o usuário pensa”, declara ao citar previsões sobre como o conhecimento sobre o homem pode contribuir para vida em sociedade.

“No trabalho, as empresas terão o dever de compreender seus empregados. Assim como os políticos, cada vez mais, terão que entender quem é o cidadão”, reitera, fazendo um paralelo sobre concepções que a Era Digital já está começando a transformar. “Na educação, por 200 anos, não se preocuparam em entender como as pessoas aprendem. Sabemos hoje que transmitir conhecimento unilateralmente nem sempre é o melhor jeito de aprender. Na saúde, ouvir o médico era a principal fonte de informação, hoje a saúde é sobre o paciente e não mais sobre a doença”, reforça.

Menos previsão, mais criação

Todas essas mudanças, na opinião de Gaffield, são resultados diretos de uma época em que a humanidade se encontra cada vez mais conectada. Para ele, o controle que temos sobre nossas próprias informações, assim como nosso estado de constante conexão nos permite conhecermos uns aos outros como nunca antes.

“O aspecto mais distinto sobre o Big Data deve ser esse: o fato desses grandes conjuntos de dados serem sobre a humanidade, sobre pessoas”, afirma, relembrando seu lado historiador. Para o historiador, é a partir da análise das relações entre pessoas que poderemos entender como as mudanças acontecer na sociedade e – melhor do que prever como será o futuro – poderemos tomar responsabilidade sobre o rumo que queremos para o planeta.

“Não somos vítimas do presente. Devemos nos focar menos em previsões de futuros e mais em criação de futuros melhores”, finaliza Gaffield.

Mais informações: site www.sshrc-crsh.gc.ca, com o Social Sciences and Humanities Research Council do Canadá.

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