Pesquisadora da FMVZ estrutura banco de sangue para gatos

Para um banco de sangue de felinos, são necessárias bolsas e técnicas de coleta diferentes de cães e humanos.

Lara Deus /Agência USP de Notícias

Na Faculdade de Medicina Veterinária e Zoologia (FMVZ) da USP, uma pesquisa teve como principal objetivo estruturar e padronizar um banco de sangue para gatos. A tarefa não foi fácil. Dos cães, por exemplo, pode-se coletar sangue com o mesmo material utilizado em humanos. Para os gatos, a médica veterinária Karin Botteon, autora do estudo, teve de começar do zero, manufaturando as bolsas de sangue sob medida para os felinos, além de testar técnicas aprendidas por ela no exterior. Ao longo de seus estudos, Karin colaborou na implantação do banco de sangue para felinos no Hospital Veterinário da FMVZ, inaugurado no final de 2012.

O material de coleta de sangue é feito sob a medida da espécie que irá usá-lo. A agulha deve ter espessura ideal, a bolsa, tamanho compatível com a quantidade de sangue doada e, dentro desta, um anticoagulante, que também deve estar na quantidade exata para a porção, que em humanos gira em torno de 400 mililitros (mL). Esse foi o maior desafio da pesquisa de mestrado, que teve a orientação da professora Denise Tabacchi Fantoni, já que a quantidade máxima de sangue doada por um gato é 11 mL a cada quilo do animal. Cada gato tem o peso médio de 4,5 quilos.

Os cachorros, por terem um porte maior, em geral, podem usar o material humano de coleta. No trabalho com os gatos, no entanto, Karin teve que usar um aparato manufaturado. “Se eu abrir o sistema, por exemplo, para colocar ou tirar anticoagulante antes da coleta, existe chance de contaminação e o sistema é considerado aberto e não estéril”, descreve. A pesquisa foi feita com gatos de donos voluntários e de criadores de gatos de raça, os gatis.

A esterilização do sistema teve bastante atenção durante os experimentos pois, sem ela, o sangue pode ser usado apenas até algumas horas depois da coleta, para não haver risco de contaminação. Mesmo com a coleta em sistema estéril e fechado, o sangue estocado tem um período máximo para ser usado. O sangue total, ou seja, sem a separação entre hemácias e plasma, dura em média de 25 a 30 dias, quando preservado à temperatura de 4 °C. “O que garante a qualidade deste sangue é o anticoagulante que contem preservantes das hemácias”, explica Karen. Já se for feita a separação do sangue em concentrado de hemácias e plasma fresco congelado, as hemácias duram 21 dias na temperatura de 4 °C e o plasma, 1 ano em temperatura de cerca de -20 °C.

Karin acreditava que os gatos pequenos, com peso menor que 6 kg, não se adequariam à coleta pela gravidade, mas se surpreendeu durante os experimentos. “O animal é muito pequeno e achávamos que não funcionaria, mas deu certo”, constatou a veterinária.

Tipos sanguíneos

Outra surpresa diz respeito ao tipo sanguíneo dos gatos. A pesquisa, iniciada em 2009, encontrou na literatura internacional que a prevalência de sangue tipo B era em torno 40% nos gatos da raça British shorthair e 30% nos persas. Porém, após as análises práticas, Karin encontrou porcentagem inferior a 15% deste grupo nos gatos pesquisados. A veterinária alerta que “foram testados apenas gatos de São Paulo e região. Assim, para uma precisão maior de prevalência nacional, o ideal seria testar essas raças em outras regiões do Brasil.”

A veterinária testou três métodos de coleta de sangue em felinos, dois deles iguais ao feito nos cães. Uma destas técnicas é a da coleta por gravidade, em que a bolsa é enchida pela força do sangue do animal. No segundo processo, o enchimento da bolsa foi feito por um aparelho que, promovendo o vácuo, puxa o sangue do gato. No último, uma seringa de 60 mL era responsável por retirar o sangue do felino e o transferir, de maneira estéril, até a bolsa com o anticoagulante.

Mais informações: email katbotteon@gmail.com

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