USP marca presença em Bienal que privilegia cidade e espaço público

USP participa da décima edição da Bienal de Arquitetura de São Paulo com trabalhos no Centro Cultural São Paulo, além de abrigar atividades do evento no Maria Antonia.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

A partir da reflexão sobre mobilidade, espaço público e infraestrutura urbana, a décima edição da Bienal de Arquitetura de São Paulo traz ao público a experiência de viver em São Paulo: as exposições e eventos estão distribuídos em 16 pontos da cidade, cuja escolha levou em conta  a qualidade dos espaços na relação entre arquitetura e uso, a facilidade de acesso, além de sua representatividade histórica e cultural. Com o tema “Cidade: Modos de Fazer, Modo de Usar”, a Bienal, realizada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, vai até o dia 1º de dezembro.

Entre os espaços escolhidos para abrigar o evento, está o Centro Universitário Maria Antonia, situado nos edifícios históricos que abrigaram a antiga Faculdade de Filosofia da USP. A participação da Universidade também se dá a partir de dois trabalhos expostos no Centro Cultural São Paulo (CCSP) e na própria curadoria da bienal, sob a responsabilidade de Guilherme Wisnik, arquiteto e doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

No CCSP, estão expostos os projetos Zonas Liminares e Cartografias, dois trabalhos desenvolvidos no Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, em São Carlos, selecionados entre mais de 400 propostas.

Portões e muros

O projeto Zonas Liminares foi dirigido por Antoni Muntadas, artista e professor do Programa Arte, Cultura e Tecnologia do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e por professores do IAU, pesquisadores do Núcleo de Estudos das Especialidades Contemporâneas (NEC) da USP, contando, ainda, com a parceria do SESC São Carlos.

O trabalho depura o conceito de zonas liminares, buscando, assim, entender o processo de ocupação das cidades, com destaque para como alguns processos típicos de metrópoles são inseridos em cidades de médio porte, como a própria cidade onde o projeto foi desenvolvido. A indeterminação entre espaços públicos e privados se evidencia com o surgimento dos condomínios fechados, construções cada vez mais comuns em diversas cidades brasileiras, que acabam apropriando-se do espaço público para gerar espaços particulares.

Na exposição de Zonas Liminares, chama a atenção a montagem do jogo “Cidade Imóvel – Especulando futuros do tamanho do seu bolso”, simulando o conhecido jogo de tabuleiro Banco Imobiliário, adaptado à realidade de São Carlos. A proposta do jogo é avançar em direção a espaços importantes da cidade com o objetivo de construir condomínios fechados, tornando a cidade “segura” para se habitar. Para isso, é possível colocar, por exemplo, soldados, muros, câmeras de segurança.

Propondo a reflexão da condição na qual se encontra a cidade, o jogo abusa da ironia para alertar seu jogador: vence o jogo quem construir mais casas cercadas e tiver mais sorte. Na carta análoga à “sorte ou revés” do jogo original, consta: “Devido a uma greve, os lixeiros de sua cidade paralisaram o serviço, o que gerou acúmulo de resíduos na porta de entrada do seu condomínio fechado, retorne 4 casas”.

Mapas, outdoors e… sandálias!

Imagem: Divulgação  'Cartografias', um dos projetos do IAU na décima Bienal
Imagem: Divulgação
‘Cartografias’, um dos projetos do IAU na décima Bienal

No trabalho Cartografias: como a “informação” se dispõe do “espaço”, também desenvolvido no IAU, busca-se abordar as camadas não visíveis da realidade que desenham a cidade. Para tanto, foram destacadas diversas formas de inserção de representações na cidade: nomes de ruas, anúncios publicitários, arquiteturas e suas realizações, os discursos que as sustentam e os objetos que a “povoam”, como as nossas tradicionais sandálias de borracha, que fazem parte de qualquer cenário urbano brasileiro.

A atividade, desenvolvida em três etapas, começou com a produção de cartografias, isto é, registros a partir de dados referentes aos espaços urbanos; passando pela produção de fotografias a partir da vivência direta desses espaços; e chegando, finalmente, à intervenção nas relações entre espaços e informações cartografados.

De forma bem-humorada, o trabalho mostra o fenômeno “sandálias”, que, mais do que quase obrigatórias nos cenários brasileiros, passam a assumir, aqui, o papel de parasita, tamanha a sua dispersão nos espaços. No trabalho, as sandálias – parasitas – são catalogadas, ou melhor seria, “fichadas” – qual um criminoso – e registradas em diversos locais e usos pela população da cidade. O trabalho mostra diversas situações e pessoas “contaminadas” com o parasita.

Espaço público para o público

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Nas diversas exposições, torna-se evidente a necessidade de se encarar a cidade como uma estrutura a ser “construída” de forma a privilegiar o bem público. Não à toa, dentre os destaques da exposição, encontram-se projetos e ações já realizadas em comunidades de grande concentração populacional, visando sempre à melhor utilização do espaço urbano.

O seguinte trecho retirado da exposição sobre as intervenções e projetos na comunidade de Paraisópolis resume a proposta presente em diversos dos trabalhos: “Aqui a prioridade torna-se equipar esse bairro periférico com a estrutura água, rede de esgotos, iluminação e serviços, além da infraestrutura social das áreas de educação, segurança, cultura, espaço público e esportes. O modelo urbano aqui proposto visa transformar a necessidade de uma sociedade pela igualdade de acesso à moradia, emprego, tecnologia, educação e recursos. Direitos fundamentais de todos os habitantes de uma cidade através de soluções espaciais.”

O modelo urbano aqui proposto visa transformar a necessidade de uma sociedade pela igualdade de acesso à moradia, emprego, tecnologia, educação e recursos.

Dentre os diversos espaços para apresentação dos trabalhos, podem-se encontrar exposições mostrando como grandes empresas e grandes obras nacionais contribuem para o surgimento e crescimento de populações urbanas nesses locais, desenvolvimento de metrópoles como Hong Kong e Detroit, e inclusive espaço para intervenções do público.

Maria Antonia e a Capital

Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Centro Universitário Maria Antonia traz exposição sobre a construção de Brasília

O espaço da exposição do Centro Universitário Maria Antonia, com o trabalho Modos de Ser Moderno, resgata inúmeras fotografias da construção de Brasília. As imagens registram projetos, vistas aéreas do local, o início das obras, grandes máquinas, pessoas, trabalhadores da construção civil, carcaças dos futuramente famosos prédios da Esplanada dos Ministérios, do Congresso Nacional e da Catedral. Além desses temas, as fotografias também foram sensíveis ao cotidiano da vida urbana da cidade já construída, quando, por exemplo, ilustra as cerimônias de atos oficiais ou pessoas comuns comprando em um carrinho de sorvete na rua.

As fotografias que ilustram a construção da cidade são fruto da seleção dos artistas Michel Wesely e Lina Kim, que, por meio de pesquisas, conseguiram recuperar esse extenso acervo.

Serviço

A programação completa da décima Bienal de Arquitetura de São Paulo está disponível na página do evento. As atividades acontecem até o dia 1º de dezembro em 16 pontos da cidade. Confira a lista de endereços de todos os locais que abrigarão exposições da Bienal.

Mais informações pelo email contato@xbienaldearquitetura.org.br ou telefone (11) 3259-6866.

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