Pesquisa tenta entender a complicada relação entre idosos e tecnologia

Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) chama a atenção para a necessidade de mais iniciativas voltadas à inclusão digital que desmistifiquem os aparelhos tecnológicos para todos os interessados e não só para uma classe privilegiada. Segundo a autora do estudo, Taiuni Marquine Raymundo, um dos maiores fatores que implica na rejeição da tecnologia é o fato de a interação não ter sido realizada mais precocemente.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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À mesma proporção em que aumenta a média de idade da população em todo o planeta, o mundo parece estar ficando cada vez mais tecnológico. Mas a relação entre idosos e eletrônicos nem sempre é das mais amistosas. Saber em que medida isso acontece – e o que influencia a aceitação destas ferramentas – é o primeiro passo para tentar aproximar os dois. Foi com esta premissa que a terapeuta ocupacional Taiuani Marquine Raymundo realizou sua pesquisa de mestrado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Em um estudo com 100 indivíduos com mais de 65 anos escolhidos ao acaso, ela analisou o nível de aceitação da tecnologia por parte dos entrevistados, e quais fatores poderiam fazer diferença para que um idoso encarasse os dispositivos modernos como aliados.

Segundo Taiuani, o universo amostral do estudo, que incluía idosos da região de Ribeirão Preto e de Olímpia, foi estruturado a partir de um questionário socioeconômico, de uma metodologia já consagrada de avaliação das atividades da vida diária, de uma escala para avaliação da aceitação de tecnologias e de um questionário sobre os possíveis fatores que interferem no uso de aparelhos eletrônicos. Tais fatores foram levados em consideração para avaliar como e com que frequência este público está disposto a se relacionar com a tecnologia. Aqueles que possuem uma renda financeira maior, por exemplo, possuem mais facilidade de compreender as funcionalidades, o uso e a linguagem das novas tecnologias se comparados aos de renda inferior.

Telas, botões e letras miúdas

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

O estudo mostrou que a população idosa, em sua maioria, aceita as novas tecnologias. Mas isso não é tudo.

Se estes objetos podem ser reconhecidos como ferramentas de acessibilidade, ainda são encontradas barreiras na utilização – que muitas vezes derivam de características do próprio aparelho, como letras pequenas e idiomas estrangeiros.

As tecnologias surgiram na vida dos idosos de hoje quando estes já eram adultos ou até mesmo velhos, e isto influencia no enfrentamento das dificuldades.

Para a pesquisadora, um dos maiores fatores que implica na rejeição da tecnologia é o fato de a interação não ter sido realizada mais precocemente. “As tecnologias surgiram na vida dos idosos de hoje quando estes já eram adultos ou até mesmo velhos, e isto influencia no enfrentamento das dificuldades do destes dispositivos em seu cotidiano”, explica Taiuani.

Quem tem medo da tecnologia?

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Um fator que chamou a atenção no estudo é que os idosos, em sua maioria, demonstram medo ou receio em relação aos aparelhos tecnológicos. Do total dos entrevistados, 24% relataram ter medo de utilizar as novas tecnologias, e 40% relataram ter receio de danificar o aparelho.

Os que responderam ter medo afirmaram que o sentem principalmente quando usam a internet. Além disso, é comum o medo de vírus e redes sociais, de estragar e/ou quebrar o aparelho, de não saber utilizar, de errar e das consequências do suposto erro. Medo de errar a voltagem, de apagar documentos de outras pessoas que estão no computador, de não aprender a utilizar, de não memorizar as funções e de não conseguir utilizar o aparelho também foram mencionados. Alguns relataram ainda ter medo devido a más experiências com tecnologias.

Os resultados da pesquisa mostraram que, apesar das dificuldades encontradas, os membros do grupo avaliado relataram que superaram o medo após frequentarem cursos de inclusão digital. Muitos idosos têm curiosidade de conhecer os avanços tecnológicos e vontade de aprender. “Eles apresentam medo e resistência ao novo, mas também pude notar que se sentem motivados e interessados em aprender a se tornarem independentes em tarefas associadas à tecnologia”, comenta Taiuani.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Inclusão

A terapeuta chama a atenção para a necessidade de mais iniciativas voltadas à inclusão digital que visem desmistificar os aparelhos tecnológicos para todos os interessados e não só para uma classe privilegiada. Ela cita um projeto desenvolvido na FMRP pelo curso de Terapia Ocupacional em conjunto com o curso de Informática Biomédica, e que tem o objetivo de instrumentalizar idosos para utilizarem tecnologias do cotidiano. Isto inclui desde celulares, controle remotos, câmeras digitais, computadores e aparelhos de cozinha até equipamentos de monitoramento das condições de saúde.

Para Taiuani, é preciso que pesquisadores e a população como um todo se conscientizem da importância de os idosos lidarem com as tecnologias e de se tornarem independentes em suas atividades com tais dispositivos, garantindo a estes sujeitos autoconfiança e uma melhor qualidade de vida.

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