Estudo da FZEA mostra potencial da torta de mamona como alternativa para alimentação animal

O estudo comprovou que o produto pode ser considerado uma matéria prima de boa qualidade, pois apresenta um alto teor de proteína e fibras.

Fernando Pivetti / Agência USP de Notícias

A torta de mamona, subproduto do processo da extração de óleo da semente da mamona, possui alto teor proteico e aparece como alternativa para a alimentação animal e para a produção de materiais biodegradáveis. Pesquisa da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP comprovou que o produto pode ser considerado uma matéria prima de boa qualidade, pois apresenta um alto teor de proteína e fibras.

Em sua pesquisa de doutorado, a bióloga Roseli Sengling Lacerda trabalhou com a extração de parte da proteína da torta de mamona, caracterizando quimicamente os resíduos da extração da proteína com a finalidade de verificar o potencial de uso na alimentação animal. “A outra proposta foi estudar a utilização da proteína na produção de material biodegradável, como por exemplo, a confecção de sacos plásticos para serem utilizados em mudas para a agricultura”.

A extração das proteínas foi realizada em laboratório empregando-se agentes alcalinos, como o hidróxido de sódio e hidróxido de potássio, em diferentes concentrações de pH. “Os pH variavam de 10 a 12, numa escala que vai de 1 a 14. Foram analisados a influência de vários fatores no processo de extração de proteínas, como a concentração da torta na solução de extração, a velocidade de agitação, a temperatura e o tempo de extração”. A solução sobrenadante da extração foi direcionada para as pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de material biodegradável e o resíduo da extração, aos estudos referentes à alimentação animal.

Segundo a pesquisadora, as sobras do processo de extração apresentaram elevados teores de proteínas, fibras e minerais, o que caracteriza um grande potencial para serem utilizados na alimentação animal. “Os resíduos possuem boas características para substituir, em parte, o farelo de soja, uma das principais matérias primas utilizadas na formulação de ração para ruminantes”.

Roseli ressalta que o processo de extração das proteínas em meio alcalino se mostrou um bom tratamento contra a toxidez da torta da mamona. “À medida que se aumentou o pH, tanto com hidróxido de sódio quanto com hidróxido de potássio, houve o desaparecimento da banda de ricina nas análises”. A ricina é uma proteína responsável pela toxicidade do resíduo.

Potencial de mercado

A pesquisadora aponta que a possível utilização desses resíduos para emprego em nutrição animal e de produção de material biodegradável aparece como uma das grandes alternativas de mercado. Segundo ela, a vantagem está na grande quantidade de resíduo da mamona encontrado nas indústrias, seja para extração do óleo ou para produção do biodiesel.

“Atualmente, o resíduo desta extração é utilizado como adubo orgânico. Assim, com a extração das proteínas para ser utilizada na produção de material biodegradável e se eliminados os componentes tóxicos existentes na torta de mamona, podemos utilizá-lo também como parte da alimentação animal devido ao seu grande valor proteico”.

Para ela, o próximo passo a ser dado é a aplicação prática desse processo. “Até o momento foram realizados apenas ensaios em laboratório. Necessitamos agora de aplicação prática para que o produto possa ser testado e indicado para a alimentação animal”.

Quanto aos custos relacionados à nutrição animal para ruminantes, Roseli acredita que haveria uma diminuição se o mesmo fosse adicionado como um ingrediente rico em proteína, como a torta de mamona, que possui grande oferta no mercado.

Mais informações: email rslacerd@usp.br, com Roseli Lacerda

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