Último encontro da série MusiMAC traz obra de Schoenberg

Último recital da série MusiMAC traz peças de Arnold Schoenberg e Johannes Brahm, que serão executadas pelo Duo Amilcar e Heloisa Zani, casal de professores do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA).

Silvana Sales / Jornal da USP

Foto: Wikimedia
Foto: Wikimedia
Compositor austríaco Arnold Schoenberg

Não é exagero dizer que o austríaco Arnold Schoenberg foi um revolucionário, detentor da ousadia de um verdadeiro iconoclasta. Suas inovações no método de composição foram as grandes responsáveis pela abertura das amplas possibilidades musicais que marcaram o século 20, como o dodecafonismo e a música atonal. Sua 1ª Sinfonia de Câmara Opus 9 dá o tom ao último recital da série MusiMAC, que acontece nesta quarta-feira (13), às 17h30, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. O programa também inclui o Quarteto de Cordas Opus 51, nº 2, de Johannes Brahms. As duas peças serão executadas em arranjos para piano a quatro mãos elaborados pelos próprios compositores. O concerto fica a cargo do Duo Amilcar e Heloisa Zani, composto pelo casal de professores do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

Amilcar Zani, além de se apresentar nesta semana, é também um dos coordenadores do MusiMAC, ao lado de sua orientanda de doutorado Eliana de Monteiro da Silva e da professora Ana Gonçalves Magalhães, representante do MAC no projeto. Antes da apresentação, Eliana fará uma breve palestra com o tema “Arnold Schoenberg e a importância da forma musical: pela legitimidade da linguagem expressionista e dodecafônica”.

O objetivo do MusiMAC é apresentar ao público um pouco da música erudita produzida nos séculos 20 e 21, mostrando ao mesmo tempo de que forma ela dialoga com as outras artes do período, particularmente com as obras do acervo do MAC. Para isso, os eventos foram construídos a partir da seleção de peças musicais, a preparação de palestras introdutórias e a seleção de obras de artistas plásticos para propor uma reflexão aos participantes. A resposta do público foi melhor do que se esperava. As primeiras três datas reuniram grupos heterogêneos, formados tanto por pessoas da comunidade USP quanto de fora, maiores do que a média de participantes de outras atividades de extensão realizadas no museu. A intenção dos organizadores, agora, é viabilizar o MusiMAC como uma série de concertos permanente.

“Essa série foi um balão de ensaio. Não quisemos fazer nada cronológico, mas sim convidar amigos para apresentar coisas interessantes, sem assustar as pessoas. Tivemos, por exemplo, a pianista Ingrid Barancoski, que veio do Rio para tocar obras inéditas de Almeida Prado”, conta o professor Amilcar Zani.

Rompimento com as tradições

Foto: Wikimedia
Foto: Divulgação
Duo Amilcar e Heloisa Zani

Falar de Schoenberg em um projeto que se propõe a discutir a justaposição de linguagens artísticas é especialmente relevante não só pela importância do austríaco na música, mas também porque ele foi um artista capaz de desenvolver um diálogo entre diferentes linguagens, como a pintura e a música – tanto orquestral quanto de câmara. Arnold Schoenberg foi amigo de Wassily Kandinsky, e muitas das ideias discutidas pela dupla foram aplicadas à produção de ambos. Viveu um momento de intensa inovação artística em Viena, na virada do século 19 para o 20 – a Belle Époque vienense gerou Gustav Klimt nas artes plásticas, Arthur Schnitzler na literatura, Otto Wagner na arquitetura e, fora do campo artístico, Sigmund Freud na psicanálise.

Foi em meio a este caldo cultural que tomou a Europa – e não só a Áustria – de então que Schoenberg ficou conhecido, primeiro como pintor, depois pela composição de Gurrelieder, uma obra para orquestra inspirada na monumentalidade wagneriana, que incluía coro, solistas, narrador e partitura para tantos instrumentos que não era possível transcrevê-la em papel pautado comum.

Mas as principais composições vieram posteriormente, depois que o músico austríaco optou por reduzir a massa instrumental de suas obras e buscou beber em Brahms para fazer música de câmara. É por este motivo que a peça de Brahms, um compositor do Romantismo do século 19, foi incluída no programa do recital.

“Schoenberg se dizia um herdeiro de Brahms. Queremos mostrar que a música do século 20 parte de um fluxo natural da música do século 19, que há uma proximidade composicional e que existe um diálogo natural entre as linguagens artísticas”, diz Amilcar Zani.

No que diz respeito à composição musical, o artista austríaco também se aproxima do francês Claude Debussy. A 1ª Sinfonia de Câmara tem dois elementos principais: o uso de sequências de quartas e as escalas de tons inteiros, que eram utilizadas também por Debussy – embora se diga que nenhum dos dois, à época, soubesse que estavam fazendo a mesma coisa. Foi o início de uma revolução.

Foto: Wikimedia
Foto: Wikimedia
Retrato de Schönberg, por Egon Schiele

“Tudo isso caminha para o desenvolvimento da técnica dodecafônica de Schoenberg, que é a grande quebra na música do século 20. A partir daí, o sistema tonal entra em total falência”, explica o professor. O rompimento com os formalismos do sistema tonal, que atribui importância diferente a cada um dos graus das escalas musicais, mudou totalmente o panorama da música erudita e abriu o caminho para a eletroacústica e uma série de experimentações, como a composição a partir de ruídos de objetos cotidianos.

O último recital da série MusiMAC acontece nesta quarta-feira, 13 de novembro, às 17h30, no MAC Cidade Universitária (Rua da Praça do Relógio, 160, Butantã, tel. 3091-3559 ). A entrada é gratuita.

Scroll to top