Mostra Cinema Sul-Coreano do Cinusp apresenta produções inéditas no Brasil

Cinusp promove, até dia 22 de novembro, a mostra Cinema Sul-Coreano, trazendo ao público oito produções ainda inéditas no Brasil. Evento visa apresentar a diversidade da cinematografia do país, que hoje tem forte expressão nacional e mundial.

Sofia Calabria /Jornal da USP

Foto: Divulgação
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Cena do filme “Cinderella”, de Bong Man-dae

Até dia 22 de novembro, o Cinusp apresenta a mostra Cinema Sul-Coreano e traz ao público oito produções ainda inéditas no Brasil. Organizado em parceria com o Consulado Geral da Coreia do Sul e com o Centro Cultural Coreano de São Paulo, o evento visa a apresentar a diversidade da cinematografia do país, que hoje tem forte expressão nacional e mundial. Dos filmes selecionados, um relembra sua antiga fase e sete mostram o chamado “Novo Cinema Coreano”.

Não é preciso ser expert em cinema oriental para já ter ao menos ouvido falar em Park Chan-Wook (Oldboy), Hong Sang-Soo (HaHaHa) ou Kim Ki-duk (A Casa Vazia). Tais cineastas já caíram no gosto do Ocidente e fazem parte de cinematografia obrigatória para cinéfilos e estudantes de audiovisual. A mostra, no entanto, deixa de lado os mais conhecidos para explorar o universo de um cinema que vem crescendo desde 1990 na Coreia do Sul e no resto do planeta, após a abertura democrática ao fim de duas décadas de ditadura (1961-1987).

“O aparecimento de diversos tipos de expressão cinematográfica na Coreia do Sul se beneficia do relaxamento da censura, de mudanças nos canais de financiamento de filmes e do sistema de cotas imposto pelo governo, que por um bom tempo garantiu um espaço maior para a distribuição de filmes sul-coreanos no mercado interno”, diz Cecília Mello, professora conferencista de montagem do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e pesquisadora do cinema chinês de Jia Zhang-ke pela Fapesp, no Departamento de História da Arte da Unifesp. Cecília salienta ainda a proliferação das escolas de cinema no país e a criação de festivais, como o de Pusan, como decisivos para esse desenvolvimento. Além disso, há uma mudança geracional do cenário cinematográfico, que é hoje dominado por jovens cineastas.

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“200 Pounds of Beauty”, de Kim Yong-hwa

Ainda que sejam apresentadas apenas oito produções, a mostra abarca a variedade estética e técnica do cinema sul-coreano, que aposta tanto no cinema de gênero quanto em obras mais autorais. Os filmes, raros aqui e trazidos pelo Consulado Geral da República da Coreia, fizeram com que a mostra consistisse em uma oportunidade única para exibi-los. Algo inédito são as legendas em português, uma vez que até então os filmes só contavam com legendagem na língua inglesa. “A mostra trabalha diversas linguagens e vários aspectos de estética e temática desse cinema. Os filmes trazidos fazem parte dessa nova onda do cinema sul-coreano”, diz Mariani Ohno, do Cinusp.

Dentre as produções estão Cinderella, de Bong Man-dae, um k-horror que faz uma releitura do conto de fadas no contexto da sociedade ditada pelos padrões de beleza. A madrasta má torna-se uma cirurgiã plástica cujas pacientes começam a morrer. A comédia 200 Pounds of Beauty, de Kim Yong-hwa, e a animação Oseam, de Sung Baek-yeop, também integram a programação. De acordo com Mariani, uma das características do cinema sul-coreano é a ressignificação dos gêneros cinematográficos sob a ótica oriental. Um dos exemplos da importância estética dessa revisitação feita não só pelo cinema coreano, mas por outros países, como o Japão, são os frequentes remakes de filmes orientais produzidos por Hollywood. Oldboy, por exemplo, foi refilmado este ano por Spike Lee. Isso denota quão presente no Ocidente está a cultura do Extremo Oriente e sua produção, hoje não mais vista como exótica ou somente cult.

O contrário também ocorre, uma vez que o cinema sul-coreano adquiriu a lógica de produção hollywoodiana, vista como uma fórmula de sucesso. Cecília, no entanto, aponta que na Coreia do Sul o diretor ainda tem o papel central na produção, ao contrário de Hollywood, onde na maioria das vezes o produtor tem mais importância e autonomia. “Parece haver [na Coreia do Sul] uma ênfase em certos traços culturais tipicamente asiáticos e muito ligados aos antigos ensinamentos de Confúcio, que se traduzem na importância dos laços familiares e na força atribuída à hierarquia social, tudo isso sob o pano de fundo de uma sociedade moderna e altamente tecnológica.”

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“Wildflowers on the Battlefield”, de Lee Man-hee

Paralelamente a essa nova fase do cinema sul-coreano, o Cinusp exibe o raríssimo Wildflowers on the Battlefield, de Lee Man-hee (único com legendas somente em inglês na mostra, devido à dificuldade de consegui-lo). Filmado em 1974, a história se passa no começo da Guerra da Coreia (1950-1953) e a produção faz parte da antiga fase do cinema sul-coreano. “Ele serve como um contraponto para se entender esse cinema vinculado à política do país, quando o governo financiava as produções. Ele foi encomendado como propaganda anticomunista. Nós o trouxemos para exemplificar essa fase anterior, como se pode notar na diferença de linguagem. Uma vez que era encomendado, não havia muita liberdade artística”, completa Mariani.

A mostra Cinema Sul-Coreano acontece até 22 de novembro, no Cinusp (r. do Anfiteatro, favo 4 das Colmeias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540). As sessões acontecem sempre às 16 e às 19 horas e a programação completa pode ser encontrada em www.usp.br/cinusp. Entrada franca.

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