IO vai ao litoral de SP estudar universo ameaçado dos mamíferos aquáticos

O LABCMA se concentra em desenvolver pesquisa científica envolvendo esses animais, com objetivo da conservação das espécies e seus ecossistemas.
Foto: LABCMA
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Cetáceos: sentinelas da qualidade dos oceanos

Na costa do estado de São Paulo foram registradas 46 espécies de cetáceos, grupo de mamíferos aquáticos do qual fazem parte as baleias, o que compreende quase metade de toda a diversidade dessa ordem. O dado foi registrado pelo Laboratório de Biologia da Conservação de Mamíferos Aquáticos (LABCMA), do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, que se concentra na pesquisa científica envolvendo esses animais, visando a conservação das espécies e seus ecossistemas, além de ações didáticas que incluem o oferecimento de cursos de especialização, disciplinas e palestras sobre o tema.

Uma das razões de ser do LABCMA está ligada à importância que os mamíferos aquáticos têm nos oceanos. Eles cumprem papéis diversos, desde o controle de diversidade em teias alimentares, até o transporte de nutrientes nos sistemas. Os cetáceos, especialmente, são considerados sentinelas da qualidade dos oceanos. Isso porque uma grande parte da contaminação química marítima pode ser avaliada pelo nível de substâncias tóxicas encontradas nos mamíferos do ambiente. Avaliar e monitorar a saúde dessas populações significa conhecer o estado dos oceanos.

O litoral sudeste passa por um momento de grande expansão e modernização das ações portuárias e da exploração das novas riquezas de óleo e gás recentemente descobertas no país. Para Marcos César de Oliveira Santos, coordenador do laboratório, tal exploração pode e deve existir, mas é necessário que ela seja o menos impactante possível. Monitorar a presença e o estado de saúde dos cetáceos ao longo do tempo e do espaço na costa paulista é primordial para avaliar as dimensões dos potenciais impactos gerados ao sistema marinho.

Foto: LABCMA
Campanhas de conservação são outra frente de atuação dos laboratório

Como exemplo, o professor cita o som, que na água se propaga cinco vezes mais rápido do que no ar. Ao longo de uma história evolutiva de cerca de 50 milhões de anos, os cetáceos desenvolveram uma capacidade ímpar de utilizar essa mecânica para comunicação, para encontrar presas e para se orientar. Com o aumento do fluxo de embarcações em uma costa cada vez mais povoada, é notório que haverá um aumento da poluição sonora – o que poderá afetar todo o ecossistema da região.

Ciência da conservação

Atualmente o grupo desenvolve um projeto de longo prazo para monitorar os impactos  das capturas acidentais de golfinhos em operações de pesca no litoral sul de São Paulo.  Mesmo adaptados ao meio aquático por tanto tempo, os animais têm morrido afogados em  redes de pesca no mundo inteiro. Monitorar e mapear essas capturas torna-se  fundamental para compreender quais ações voltadas à conservação das espécies afetadas  devem ser tomadas.

 Outra frente de pesquisa consiste em mapear a ocorrência, os movimentos e a diversidade  de baleias e golfinhos pela costa do estado de São Paulo. No projeto, os pesquisadores  realizam cruzeiros oceanográficos em águas de até 40 metros de profundidade pela costa  paulista, catalogando as espécies encontradas e identificando indivíduos das populações  estudadas por meio da técnica de foto-identificação. Essa técnica consiste em fotografar  marcas naturais de golfinhos e baleias para identificá-los posteriormente.

Foto: LABCMA
Foto: LABCMA
Espécie de “impressão digital, foto-identificação se baseia em marcas naturais dos cetáceos que ajudam a diferenciar cada indivíduo.

A partir de 2014, o grupo dará início aos estudos com acústica marinha. Os pesquisadores do laboratório irão monitorar a presença de baleias e golfinhos na costa do estado por meio de gravação de suas emissões sonoras. Para isso, estruturas adaptadas serão colocadas em pontos estratégicos para o registro das emissões. Uma grande vantagem deste método é que ele pode ser realizado 24 horas por dia, sete dias por semana, diferentemente da maioria das técnicas, limitadas pela falta de luz natural.

O LABCMA lançará ainda duas campanhas para relatar a redução das populações de toninhas, pequeno golfinho ameaçado de extinção, e das baleias franca, cuja população foi reduzida pela caça, e que se encontra em recuperação, mas recentemente tem evitado o litoral paulista, onde era visitante frequente. As campanhas serão divulgadas na página do laboratório no final de janeiro de 2014. Em paralelo, haverá também uma pela conservação das toninhas diretamente com a frota pesqueira que atua no sul do estado de São Paulo.

Segundo Santos, mesmo realizando campanhas, os membros do laboratório não são ativistas. “Nossa meta é investir em ensino e pesquisa. O ativismo é importante, desde que embasado em informações científicas de qualidade”, esclarece.

Mais informações: site http://www.sotalia.com.br

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