Conduta de animal em estresse altera imunidade, mostra estudo da FMVZ

Para entender melhor o perfil imunológico dos cães, foram estudadas características de personalidade (comportamentos de subordinação e dominância) e as relações de gênero.

Rúvila Magalhães / Agência USP de Notícias

Diferenças de comportamento nos cães podem estar relacionadas a variações nos sistemas imunológicos. Além disso, foram detectadas diferentes alterações na atividade de um tipo de leucócito quando era estudada a influência do gênero dos cães. Essas conclusões são apontadas na pesquisa realizada por Adriana Tiemi Akamine e orientada por Frederico Azevedo da Costa Pinto na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. O estudo também sugere que o animal pode apresentar comportamentos dominantes ou subordinados ancorados em suas características imunológicas.

Para entender melhor o perfil imunológico dos cães, foram estudadas características de personalidade (comportamentos de subordinação e dominância) e as relações de gênero, ou seja, o experimento buscou saber se há diferenças nesse perfil em machos e fêmeas. O estudo foi feito entre 2010 e 2012, usando como amostra 30 cães da raça beagle.

Tudo começou com a análise do comportamento natural dos animais e as interações entre os membros dos grupos. Isso foi feito por meio de uma filmagem dos animais em um canil, que seria o habitat deles. Para a análise imunológica, foi coletado sangue dos cães nesse primeiro canil e após uma situação estressora, que foi uma mudança de canil e nos grupos de cães, o que os faz perder posições no ranking hierárquico. Já no novo ambiente, é coletada mais uma amostra de sangue dos animais, aproveitando o estímulo estressor oferecido pela mudança de ambiente. Com as coletas em mãos, foram analisados alguns parâmetros: número e porcentagem de leucócitos, atividade de neutrófilos, imunofenotipagem de linfócitos, níveis hormonais (testosterona e cortisol).

Comportamento e sistema imunológico

Vários resultados foram obtidos por meio das análises. O que mais despertou a atenção de Adriana foi a ligação entre o comportamento e os níveis de cortisol, que é um hormônio relacionado às respostas de estresse: “mas o mais interessante foi observar que o fato destes animais terem maior frequência de comportamentos dominantes ou subordinados estava relacionado com alguns parâmetros, como por exemplo nível de cortisol, ou seja, reagiriam mais ou menos ao estímulo estressor oferecido (transporte)”, explica Adriana.

Os neutrófilos são as primeiras células de defesa do organismo e muito importantes na prevenção e no combate de infecções bacterianas. A pesquisa aponta que a situação estressante interferiu principalmente na atividade de neutrófilos, o que pode comprovar que o comportamento interfere no sistema imunológico.

Os cães machos observados no experimento apresentaram mais comportamentos de dominância e subordinação que as fêmeas (não havia separação clara entre os comportamentos delas). Esse fato levou a pesquisadora a usar a comparação desses padrões de comportamentos apenas entre os machos.

Foto: Wikimedia
Foto: Wikimedia

Foi possível perceber diferenças referentes ao sistema imunológico entre machos e fêmeas. “Observamos essa diferença principalmente na atividade de fagocitose dos neutrófilos, a grosso modo, seria sobre a eficiência dos neutrófilos. Apesar de a literatura não apresentar variação do número deste tipo celular entre os gêneros, nossa pesquisa mostra uma diferença na intensidade de como eles fazem sua função, que é a fagocitose”, relata a pesquisadora. Os neutrófilos têm como função principal fagocitar patógenos, principalmente bactérias.

Segundo a pesquisadora, apesar de os resultados serem inéditos, já se imaginava que havia uma relação entre o comportamento e o sistema imunológico nos cães. O método usado na pesquisa é pouco invasivo e atende às necessidades do estudo. A dissertação de mestrado Relação entre gênero e perfil comportamental de cães e seu sistema imunológico dá parâmetros e respaldo para que outras pesquisas na área sejam feitas. “Caso os resultados se repitam em pesquisas futuras, e se nos aprofundarmos nas análises, poderemos talvez estabelecer uma relação relevante, a ponto de determinar manejo e alojamento de cães de canis”, ressalta Adriana.

Mais informações: email akamine.tiemi@gmail.com

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