Grupo interdisciplinar estuda os diferentes aspectos dos sons da fala

Grupo de Estudos em Fonética (GEF) estuda os sons da língua, em especial da língua portuguesa falada no Brasil.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Estudando os sons da língua, em especial da língua portuguesa falada no Brasil, o Grupo de Estudos em Fonética (GEF) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP se reúne mensalmente sob a orientação da professora Beatriz Raposo de Medeiros.

Atrelado aos estudos linguísticos, o leque de assuntos tratados pelo grupo é bastante extenso, com pesquisadores que estudam desde ataque consonantal – o som de consoante inicial da palavra – produzido por crianças pequenas, até aqueles que tratam do funcionamento das vogais nasais no português ou lidam com estudos comparativos entre o som da fala e o som do canto.

Beatriz, que é professora de fonética acústica na Universidade, explica que existem outras disciplinas envolvendo acústica, porém ligadas a outras áreas do conhecimento (bioacústica, por exemplo), e desse modo, se distanciam dos estudos fonéticos, que são específicos da fala.

Ela deixa claro, ainda, que no momento em que se estuda fonética se está, necessariamente, estudando fonologia, não sendo esses dois campos dissociáveis. Em linhas gerais, a pesquisadora define a fonologia como a gramática dos sons, ou seja a organização dos sons da fala, e a fonética como os detalhes que explicam como se dá essa organização – evidenciando-se, assim, uma relação necessária entre ambas.

Música falada

Foto: Wikimedia
Foto: Reprodução/Wikimedia Almeida Júnior: ‘O Violeiro’. Óleo sobre tela, 1899

Os estudos do grupo são interdisciplinares, incluindo, por exemplo, a abordagem de temas relativos à música. Segundo a docente, existem muitos estudos em musicologia, história da canção, das raízes de ritmos como o samba, que vêm sendo realizados pela própria área da música – porém, há ainda muitos aspectos da canção que podem ser observados sob outros pontos de vista.

“Essas pesquisas estão muito relacionadas à fonética, porque essa estuda a fala. O canto é um tipo de fala, então a fonética também tem que dar respostas às perguntas que se faz a respeito dele.” Assim, uma prática possível é recorrer a estudos realizados sobre a fala na fonética e na fonologia, considerando diversos aspectos e fenômenos, e aplicá-los à fala cantada.

Contemplando em seu doutorado a fonética do canto, e sempre se ligando ao estudo da música brasileira, a professora acabou por agregar no grupo diversos alunos que dão seguimento ao seu tema de estudo, ainda que com diversos outros enfoques, seja abordando aspectos da relação canto-fala, seja avaliando a relação com o ritmo.

Isso não quer dizer que o grupo fica restrito a esse tema, tampouco aos pesquisadores de letras e linguística como participantes, integrando alunos de fonoaudiologia, artes cênicas, engenharia, física e mesmo de outras universidades. Esse é o caso de Gilber Souto Maior, mestrando no Instituto de Artes (IA) da Unicamp, e que mantém contato com o GEF.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Beatriz Raposo de Medeiros, líder do GEF

Natural de Campina Grande, na Paraíba, o estudante dedica-se em sua dissertação de mestrado à “Análise musical e computacional da sonoridade armorial”. Datando da década de 1970, o Movimento Armorial foi uma iniciativa artística encabeçada por Ariano Suassuna, como forma de resgate histórico da cultura popular, em suas manifestações como a literatura de cordel, a música de viola e o espetáculo do bumba-meu-boi .

O estudo de Souto Maior, entretanto, relaciona-se ao grupo por tratar de uma linguagem musical específica com várias raízes. A linguagem utilizada pelo movimento não é aleatória – possui um significado, o que é, justamente, um dos focos da linguística: explicar os significados e os elementos que os compõem.

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