Complexos metálicos desenvolvidos no IQ mostram eficiência contra parasitas em testes

Desenvolvidos no Instituto de Química, complexos poderão ser a base de remédios contra Chagas e leishmaniose.

Antonio Carlos Quinto / Agência USP de Notícias

Complexos metálicos obtidos em laboratório poderão ser a base de futuros medicamentos para combater parasitas como o Trypanosoma cruzi e a Leishmania, agentes causadores da doença de Chagas e da leishmaniose, respectivamente. “Nossos complexos são desenvolvidos a partir de íons metálicos essenciais ao organismo humano, como o cobre e o zinco, ligados a moléculas orgânicas derivadas de oxindóis, com diferentes estruturas”, conta a professora Ana Maria da Costa Ferreira, do Instituto de Química (IQ) da USP.

Ela explica que essa classe de compostos metálicos já havia sido patenteada em 2006, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), como eficientes para a atividade antitumoral frente a diferentes tipos de células. “Após diversos estudos, conseguimos ampliar o potencial desses compostos, abrangendo agora a atividade antiparasita do zinco e do cobre, entre outros metais essenciais, ligados a moléculas capazes de modular sua reatividade”, conta a cientista.

Todos os compostos foram planejados, preparados e caracterizados no IQ, sob a coordenação de Ana Maria, e os testes biológicos contra os parasitas T. cruzi foram realizados em colaboração com o grupo da professora Leda Quércia Vieira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo a pesquisadora, os experimentos revelaram que os complexos mostram eficiência contra o T. cruzi tanto em sua forma tripomastigota (presente na corrente sanguínea de pessoas infectadas) quanto na forma amastigota (forma que o parasita assume dentro da célula humana). Todos os experimentos foram realizados in vitro. “No laboratório fizemos a cultura do parasita em ambas as formas e ficou constatado que, na presença dos complexos desenvolvidos, o parasita cresceu significativamente menos”, descreve Ana Maria. Os medicamentos atualmente usados contra a doença de Chagas foram desenvolvidos há muito tempo e mostraram ser eficientes apenas na fase aguda da enfermidade. Daí a necessidade de se desenvolver novos compostos para possível aplicação clínica.

Ligantes

Os complexos metálicos foram obtidos por processos químicos, com a modificação da reatividade de íons de cobre ou zinco, pela adição de ligantes indólicos ou oxindólicos e seus derivados. Oxindóis são produtos do metabolismo de aminoácidos essenciais contendo o grupamento indol, como por exemplo o triptofano, e que são excretados na urina humana.

Por intermédio de reações apropriadas, estes oxindóis são transformados em derivados com maior facilidade de se ligar a íons metálicos, formando os chamados complexos metálicos. Pode-se planejar estes complexos metálicos com propriedades físico-químicas que lhes conferem possível atividade biológica, isto é, capacidade de se ligar a biomoléculas, como o DNA ou proteínas específicas, responsáveis por processos vitais.

Para a Leishmania, resultados recentes também se mostraram satisfatórios, segundo a professora Ana Maria. Ela ressalta que as duas doenças (Chagas e Leishmaniose) têm muitos pontos em comum, daí o sucesso dos experimentos. Entretanto, segundo a pesquisadora, para que um novo medicamento seja concebido, baseado nestes resultados, ainda há um longo caminho a ser percorrido, com vários desafios a serem vencidos. As pesquisas para o uso dos complexos contra a L. amazonensis contaram com a colaboração da professora Márcia Graminha, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara.

Todos os estudos foram realizados sob a coordenação da professora Ana Maria em projetos que vêm sendo apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por intermédio de bolsas e auxílios, desenvolvidos no âmbito do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma). E foi por meio da Agência USP Inovação que os cientistas obtiveram a patente dos complexos, em 2006.

Para este novo pedido de patente, depositado em outubro de 2013, participaram das pesquisas os estudantes Gustavo L. Sabino (mestrando), Bruno Soares Dario (aluno de iniciação científica), Ricardo Alexandre Couto (doutorando) e a pesquisadora Queite Antônia de Paula (pós-doc), do grupo de Ana Maria, além da professora Leda Q. Vieira, da Universidade Federal de Minas Gerais e também membro do INCT – Redoxoma, e sua estudante Grazielle Alves Ribeiro (doutoranda).

Mais informações: email amdcferr@iq.usp.br

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