Estudo da ECA traz discussão sobre mudanças estruturais dos museus

Levantamento revela questões fundamentais para o processo de atualização das instituições.

Fernando Pivetti / Agência USP de Notícias

Questões sociais, econômicas, políticas, e sobretudo culturais são as principais diretrizes atuais que estimulam mudanças e atualizações dos museus brasileiros. As conclusões são de um estudo desenvolvido na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP pelo cientista da informação Durval de Lara Filho. Segundo o pesquisador, os elementos permanentes nesse processo museológico são as missões pública, pedagógica e de reunião, conservação e divulgação dos acervos.

A tese de doutorado revela ainda que a vinculação do museu a uma função pública e pedagógica não deixa de existir até nossos dias, embora as práticas pedagógicas tenham mudado diversas vezes ao longo do tempo. “Quando se discute a pedagogia e a mediação, algumas perguntas são fundamentais: para que, para quem, como fazer. A resposta à primeira questão é: para, de uma forma ou outra, aproximar públicos e museu/obras de arte”.

Lara Filho ressalta que, atualmente, convivem no tempo e no espaço museus que têm características tradicionais e museus que procuram responder às novas configurações da cultura e da sociedade. “O que muda, certamente, contagia os traços que respondem pela permanência do museu, fazendo com que a noção correspondente perca, pouco a pouco, os contornos que caracterizariam uma definição estável”, afirma.

O estudo, voltado às relações entre os museus, em especial os de arte moderna e contemporânea, e a arte de seu tempo e com os públicos em diversos momentos e lugares, utilizou como base acadêmica publicações que tratam dos antecedentes do museu, de sua formação e de seu desenvolvimento. “Recorremos a textos sobre o Renascimento, Revolução Francesa e Modernismo europeu para compreender os processos de configuração do museu, bem como de textos sobre a arte moderna e contemporânea cujos parâmetros sustentam e justificam suas especificidades”. Textos voltados especificamente aos museus também forneceram elementos para as discussões sobre seus propósitos e desempenho.

Para o cientista, a proposta da pesquisa voltava-se para o esboço de um quadro no qual museu e público ocupam o ponto central. “Embora o texto siga uma cronologia, nosso intuito não foi o de traçar a história do museu, mas sim mapear momentos tomando como ponto de referência conceitos como o de coleção, organização e classificação, função pública e públicos”.

Museu para todos os públicos

Embora seja o guardião do patrimônio artístico e cultural de toda a comunidade, a pesquisa permite constatar que os museus não possuem a pretensão de ser uma instituição para todas as pessoas. Lara Filho ressalta que fatores como a seleção daquilo que deve ser ou não ser exposto, o comprometimento do museu com o sistema da arte dominado pelo mercado, e a determinação de preferências pessoais em relação à arte são expressivos no processo de exclusão de público.

O cientista da informação aponta que, mesmo sem pretender atingir todas as pessoas, o museu conta com um enorme número delas que “estão excluídas de suas dependências por desconhecimento daquilo que ele é, pela falta de identificação com aquilo que ele apresenta, sem contar a atitude muitas vezes elitista e arrogante que molda sua imagem”. Segundo ele, “os museus precisam voltar-se mais para os públicos e menos para o mercado. As ações de mediação podem ser outras coisas que não apenas a fala do museu para um ouvinte surdo”.

Ainda que uma reestruturação seja necessária às instituições, o pesquisador acredita que essas mudanças não devem ser feitas de forma radical. “Não nos parece possível, e nem viável, o museu abandonar tudo o que tem feito para abraçar exclusivamente as práticas mais radicais. Isto iria contra toda a história e o escopo dessa instituição”. Para ele, os museus devem buscar a participação em novas redes de interação, a afirmação por meio de prolongamentos ou extensões propiciados pelo cruzamento de dispositivos da experiência contemporânea, que pressupõem um mundo em rede, funcionando simultaneamente como um ponto de emissão e de recepção na qual interagem artistas, instituições e públicos. “Acreditamos que estão em gestação novos tipos de instituições e os museus podem estabelecer com elas relações ricas e produtivas. Dessa forma, dissolvemos o papel pedagógico nos moldes iluministas que possui o museu”.

Mais informações: email durval.lara@gmail.com, com Durval de Lara

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