Uso de mapas conceituais favorece aprendizagem e processos colaborativos

Grupo da EACH dedica-se ao estudo dos mapas conceituais, considerado pelos estudiosos o mais poderoso organizador gráfico.
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Professor Paulo Correia, coordenador do grupo Mapas Conceituais, mostra notebook com rastreador de olhar acoplado

Para comunicar um conhecimento, tanto reportagens jornalísticas, como apresentações corporativas, trabalhos de faculdade e livros didáticos utilizam os organizadores gráficos. São ferramentas que ajudam a representar visualmente uma ideia, uma informação, como é o caso dos fluxogramas, cronogramas e infográficos. Atentos ao potencial desses organizadores, um grupo de pesquisadores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP vêm se dedicando ao estudo dos mapas conceituais, considerado pelos estudiosos o mais poderoso organizador gráfico.

“O que caracteriza o mapa conceitual é o que chamamos de proposição. São dois conceitos que colocamos em ‘caixinhas’ e unimos com uma seta, indicando um sentido de leitura; em cima da flecha, é explicada a relação conceitual entre eles”, explica Paulo Rogerio Miranda Correia, coordenador do Grupo de Pesquisa Mapas Conceituais, que desde 2005 estuda estratégias para elaboração e aproveitamento desses organizadores como modo de promover a aprendizagem significativa.

Proposto pelo pesquisador norte-americano Joseph Novak na década de 1970, o mapa conceitual tem sua origem no ensino de ciências. A teoria da aprendizagem significativa, na qual os mapas conceituais se sustentam, afirma que fixamos novos conteúdos quando eles são relacionados com aquilo que já conhecemos, ou seja, quando modificamos ideias já existentes a partir de novas ideias, fazendo conexões. Ao promover mais que uma representação esquemática, mas o estabelecimento de relações entre os conceitos, os mapas conceituais podem propiciar essa aprendizagem significativa e ser úteis em sala de aula.

Mapeando conhecimentos

Uma das vantagens dos mapas conceituais é poder articular conhecimentos em rede, aproximando conceitos que, em um texto corrido, por exemplo, ficariam distantes. Em 2012, junto à aluna da graduação em Gerontologia da EACH, Paola Lacerda Aguiar, o pesquisador desenvolveu um estudo que buscou identificar relações interdisciplinares no currículo do curso a partir de mapas conceituais. A aluna escolheu duas disciplinas afins e entrevistou as docentes sobre o conteúdo de cada programa. Após a elaboração dos mapas e a apresentação às professoras, o resultado foi a identificação de conexões que, de outra forma, não seriam notadas. “Alguns vínculos só foram identificados com os mapas, pois estavam latentes na ementa. Representando isso na forma de um mapa, é mais fácil aos especialistas enxergarem as pontes e iniciar uma negociação”, conta Paulo.

Foto: DivulgaçãoClique para ampliar
“Mapa de calor” mostra interação visual com o mapa conceitual, obtida com rastreador. Cores quentes mostram maior interação, cores frias menor interação. Clique para ampliar.

Outro trabalho desenvolvido pelo Grupo envolveu alunos do oitavo ano de uma escola particular em São Caetano do Sul, em São Paulo. Durante o ano letivo, a professora de biologia já havia apresentado vários mapas conceituais que explicavam o funcionamento do sistema digestório. Durante a semana de recuperação, período em que acontecia a revisão dos conteúdos mais relevantes para a aplicação de uma nova avaliação, a professora utilizou os mesmos mapas e, depois, inseriu neles vários erros conceituais.

A ideia é que os alunos reconhecessem os erros, tornando possível ao professor avaliar o domínio dos conteúdos pelos estudantes. Os erros colocados nos mapas foram classificados em três categorias, que caracterizavam erros sutis, erros intermediários e erros mais graves. A experiência mostrou o potencial e viabilidade do uso dos mapas conceituais como ferramenta de avaliação da aprendizagem.

Neste caso, já havia sido apresentado aos alunos, ainda no início do ano, os mapas conceituais como método de estudo. No entanto, os pesquisadores entendem que a possibilidade de ler o mapa de várias formas pode acabar gerando uma demanda cognitiva adicional aos alunos, que pode influenciar os resultados da aprendizagem. “Você gera um problema e não uma solução, pois o aluno tem que mobilizar seus recursos cognitivos para entender o tema”, afirma Paulo Correia. Por isso, a desorientação causada pelos mapas conceituais, chamada de “map shocking” também tem sido objeto de estudo do Grupo. A partir de um rastreador de olhar, os pesquisadores vêm coletando dados empíricos para entender como acontece a leitura dos mapas e de que formas se pode reduzir a desorientação.

Conferência internacional

Foto: Divulgação
Foto: Paulo Correia
Membros do grupo de pesquisa: o mestrando João Xavier; os alunos de iniciação científica Rafael Rocha, Aline Pereira e Giuliana Vitiello; e a doutoranda Joana Aguiar

Segundo o coordenador do Grupo de Pesquisa Mapas Conceituais, na última década o número de usuários desses organizadores aumentou muito e, no Brasil, há também grande interesse pelo uso da técnica. É esse interesse que encorajou Paulo Correia a trazer um evento internacional sobre o tema ao país. “Teremos os maiores especialistas em mapas conceituais do mundo aqui no Brasil”, conta. A sexta Conferência Internacional sobre Mapeamento Conceitual (CMC2014) acontece entre 23 e 25 de setembro, em Santos, e tem como presidente honorário o próprio Joseph Novak, pai dos mapas conceituais.

Para o professor, o evento reforça o pioneirismo da USP em alavancar discussões incipientes como a dos mapas conceituais que, apesar do crescimento, ainda não é uma área consolidada no país. “Precisamos juntar essas pessoas que têm interesse nos mapas para aumentar a densidade das pesquisas”, afirma.

Scroll to top