SIBi preserva obras raras da USP e disponibiliza material na internet

Equipamentos e scanners sofisticados se juntam ao trabalho minucioso de profissionais para preservação do conhecimento.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Durante toda a história, qual a quantidade de materiais – livros, quadros, mapas, jornais, fotografias – que o homem já terá produzido? Provavelmente muitas toneladas. E se pensarmos na quantidade desse material que se perdeu com o passar do tempo – seja por acidentes ou simplesmente por condições ruins de armazenamento? A resposta também deve estar na ordem das muitas toneladas. Somente esta breve reflexão já mostra a importância do desenvolvimento de iniciativas de preservação cultural.

É por isso que a USP iniciou um processo intenso de digitalização de toda a sua produção acadêmica e de seu acervo de obras raras e especiais. Os materiais, que somam 169 mil documentos impressos, correspondem a aproximadamente 39 milhões de páginas de conteúdo que serão digitalizadas e disponibilizadas para o público através da internet.

A digitalização acontece através do Laboratório de Digitalização e Preservação Digital, do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da USP. O Laboratório está equipado com scanners de alta resolução, como o robô Kabis III e o Skyview, ambos produzidos pela empresa Kirtas Technologies (USA), e o Scanner Scanback, da Rencay (Alemanha).

As máquinas e o procedimento

A primeira máquina, Kabis III, equipada com duas câmeras de 21 megapixels posicionadas de modo cruzado no topo do aparelho – ou seja cada uma virada para uma página do livro, de modo que a câmera da esquerda tire fotos da página da direita do livro, e vice-versa –, é capaz de digitalizar até 2.900 páginas por hora. A velocidade vem do fato do aparelho conseguir capturar duas páginas simultaneamente, e de possuir um braço robótico capaz de virar as páginas automaticamente durante o processo de digitalização.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

No entanto, como alerta Waldo Cardoso de Oliveira, bibliotecário do Laboratório, “a capacidade de digitalizar 2.900 páginas existe apenas para livros em condições ideiais – livros novos, em bom estado físico e feitos com um papel de determinada gramatura. E normalmente nós não trabalhamos com livros assim. Para a maioria dos livros é feito um processo semi-automatizado, no qual o operador tem que virar página por página do livro”.

Já o segundo aparelho disponível, o Skyview, é voltado para a digitalização de grandes formatos, como mapas, cartazes e jornais. O equipamento possui apenas uma câmera, que se movimenta em dois eixos sobre um suporte plano, no qual são colocados os materiais. Assim, no caso da digitalização de um mapa, por exemplo, a câmera se movimenta sobre o mapa e tira várias fotos dele, recortando-o. Em seguida, essas fotos são agrupadas por um software que identifica as semelhanças entre elas.

Existem alguns riscos no uso dessa máquina. Como explica Zacharias Gadelha Neto, chefe técnico da Divisão de Gestão de Sistemas e Apoio Tecnológico do SIBi, “dependendo do material fotografado, esse pode não ser o sistema mais adequado. Porque existem perdas de precisão nesse processo com o software, e em algumas aplicações científicas isso pode fazer muita diferença. Por exemplo, em uma foto estelar na qual o software crie uma diferença mínima, pode surgir uma diferença matemática de milhões de quilômetros”.

E por fim, há o aparelho mais poderoso do Laboratório: o Scanback. Com um sensor de 312 megapixels, ele possui capacidade de resolução em média 10 vezes maior que a de câmeras profissionais, e captura cada cor três vezes e de forma independente – ao contrário das máquinas comuns, que capturam pontos de cor e calculam as cores entre esses pontos através de softwares internos. Com isso, tem-se um resultado final extremamente fidedigno à realidade do objeto capturado. O Scanback é indicado para livros ilustrados e obras de arte, sendo capaz de capturar inclusive os detalhes das pinceladas de um quadro.

Veja o processo no vídeo a seguir:

Prestador de serviços

Embora o Laboratório tenha nascido para a digitalização de obras raras, e tenha ficado responsável pela preservação digital das produções da USP, há algum tempo ele vem realizando outros serviços para a Universidade.

“Identificamos que existiam várias outras demandas, não apenas voltadas às obras raras. Existem pedidos para livros, teses e outros tipos de materiais de grande formato e escala, como mapas e plantas. Aos poucos, estamos atendendo essas pessoas”, conta Oliveira.

Como exemplo dessa prática, há um projeto realizado pelo Laboratório, em parceria com o Museu Republicano de Itu, em que se digitalizam jornais da época do Movimento Republicano. “Os jornais datam da metade de 1850 em diante, e alguns do exemplares são as últimas cópias existentes. Alguns estão, inclusive, fragmentados. Então o pessoal do Museu traz de Itu esses pedaços do jornal dentro de um envelope. Em seguida, nós os montamos como uma espécie de mosaico na máquina Skyview e depois tiramos as fotos. Pode ser que essa seja a última chance de preservação desses documentos”, detalha Gadelha Neto.

Outra função planejada pelo Laboratório de Digitalização e Preservação Digital é a disponibilização na internet dos materiais digitalizados para qualquer interessado. O site da Biblioteca Digital de Obras Raras, Especiais e Documentação Histórica da USP recebeu – de dezembro de 2013, quando foi ativo, a janeiro de 2014 – 2.700 visitas e 15 mil visualizações de itens digitais.

Nada vence o tempo

Por mais que as técnicas de preservação digital tenham todos os benefícios citados, há de se destacar as dificuldades que esse método traz consigo. Os documentos digitais são muito frágeis e – ao contrário de uma obra física, que precisa sofrer processos diretos para ser atingida – para que os arquivos virtuais sejam afetados basta que algo atinja os servidores que os armazenam. Isso torna necessária uma maior preocupação com a segurança dos sistemas eletrônicos.

Além disso, destaca-se a questão dos custos relacionados às constantes inovações tecnológicas do setor, que fazem com que os sistemas, e muitas vezes até o maquinário, se tornem obsoletos e precisem ser atualizados. Ainda assim, o digital, no momento, é a forma mais garantida de preservação.

Mais informações: (11) 3091-1558, email atendimento@dt.sibi.usp.br

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