Exercício traz benefícios a portadores de insuficiência cardíaca

Treino supervisionado melhorou capacidade funcional em pacientes que realizam Terapia de Ressincronização Cardíaca

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

A prática de exercícios físicos supervisionados pode trazer benefícios aos portadores do dispositivo de Terapia de Ressincronização Cardíaca (TRC), aponta pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que acompanhou 43 pacientes com insuficiência cardíaca. O treinamento físico realizado no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP proporcionou melhoras significativas na capacidade funcional e cardíaca dos pacientes com TRC, que é implantado no coração para normalizar seu funcionamento. O trabalho de Thais Nobre teve orientação do professor Carlos Eduardo Negrão, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP e da FMUSP.

O ressincronizador cardíaco é composto por um pequeno gerador de pulsos elétricos implantado sob a pele, na altura do peito, e três finos cabos-eletrodos que conectam o gerador diretamente ao coração. “Ele tem como função auxiliar no tratamento da insuficiência cardíaca grave, reorganizando os batimentos cardíacos”, descreve a pesquisadora. O estudo investigou se o treinamento físico causaria efeito adicional à TRC nos pacientes com insuficiência cardíaca.

“Os pacientes apresentavam disfunção cardíaca grave, ou seja fração de ejeção menor que 35% e dissincronia cardíaca, condições necessárias para que fossem candidatos ao implante”, conta Thaís. Ao todo foram selecionados 66 pacientes, dos quais 43 aceitaram participar do estudo, concluído com 28 pacientes, sendo 14 no grupo treinado e 14 no grupo sedentário. “Devido à gravidade dos casos, houve algumas perdas durante o protocolo de pesquisa, desde a entrada do paciente até a finalização do estudo”.

Após um mês do implante da TRC, os pacientes foram submetidos a uma série de avaliações, dentre elas a da capacidade funcional pelo teste ergoespirométrico. “Por esse método é determinada a intensidade do treinamento físico, pois é possível detectar os limiares aeróbio e anaeróbio”, explica a pesquisadora. “Baseado na frequência cardíaca (FC) em que ocorre esses limiares é definida a FC de treino individual dos pacientes”.

Treino supervisionado

O treinamento físico supervisionado foi realizado três vezes por semana, na Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do InCor, com caráter predominantemente aeróbio, em esteira ergométrica  “O exercício durava 40 minutos, com intensidade moderada. Associado ao treino aeróbio, os pacientes realizavam exercícios resistidos com carga leve por aproximadamente dez minutos”, lembra Thais.

Os exercícios resistidos de membros superiores só eram iniciados após três meses da data do implante do dispositivo, tempo de segurança necessário para que houvesse fixação e cicatrização do gerador e eletrodos recentemente implantados no coração, evitando possíveis deslocamentos dos mesmos.  “A TRC foi, como habitualmente, programada para estímulo átrio-biventricular”, observa a pesquisadora. “Além disso, quando necessário, foram feitos ajustes do sensor e FC do gerador adequados para realização de exercício físico”.

De acordo com Thaís, os pacientes submetidos ao treinamento físico tiveram uma importante melhora na capacidade funcional, controle autonômico e função cardíaca. “O resultado sugere que os pacientes submetidos à TRC podem ter benefícios adicionais ao praticar exercício físico, o que pode contribuir para um melhor prognóstico desses pacientes”, destaca.

A pesquisadora recomenda que os pacientes com insuficiência cardíaca com tratamento adequado, em condição clínica estável e com dispositivo devidamente ajustado (no caso dos portadores de TRC e marcapasso), devem participar de programas de exercício físico. “A proposta é que o exercício seja incluído no tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca”, conclui.

Mais informações: email thaissimoes@yahoo.com.br, com Thais Nobre

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