Estudo do Instituto Oceanográfico verifica índice de metais na Antártica brasileira

Índices de contaminação são aceitáveis e estudo servirá de base para pesquisas futuras na região.

Antonio Carlos Quinto / Agência USP de Notícias

Um levantamento realizado na Baía do Almirantado, na Ilha Rei George, na Antártica, verificou os índices de metais pesados, como arsênio, cádmio, cobre e mercúrio, entre outros, em 31 espécies de organismos marinhos. “Este estudo poderá vir a ser uma referência para outras pesquisas a serem realizadas no local”, acredita a oceanógrafa Tailisi Hoppe Trevizani. “Nossos levantamentos foram feitos com amostras coletadas em 2003. O trabalho pode ser considerado como nível de base e os índices encontrados podem ser classificados como aceitáveis”, conta. A Baía do Almirantado é onde está instalada a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF, Brasil), base brasileira no continente que foi incendiada após um acidente, em 2012.

Tailisi é autora da pesquisa de mestrado Bioacumulação de metais pesados e avaliação da biomagnificação na biota da Baía do Almirantado, Ilha Rei George, Antártica, apresentada no Instituto Oceanográfico (IO) da USP.

Organismos

As 31 espécies analisadas são compostas de macroalgas, organismos bentônicos (espécies que vivem no fundo dos oceanos), e organismos suspensívoros (que vivem na coluna d’água). “As espécies foram todas coletadas, em média, a 20 metros de profundidade”, conta a oceanógrafa.

O trabalho de análise da bioacumulação consistiu em avaliar a acumulação de metal e sua origem, seja pela própria água, sedimentos ou pela alimentação das espécies. “Já a biomagnificação foi analisada levando-se em conta a cadeia alimentar dos organismos, e ocorre quando um animal transfere para outro o metal”, explica.

Obtidas em 2003, as amostras foram cedidas pelas professoras do IO, Thais Corbisier e Mônica Petti, e conservadas no Laboratório de Bentos Antártico do IO. Este processo, segundo Tailisi, é normalmente usado neste tipo de pesquisa. “Depois de coletados os organismos, as partes de interesse para os estudos são retiradas, secas e maceradas o que permite o armazenamento deste material por longos períodos”, explica. Este processo dispensou a necessidade de a pesquisadora deslocar-se até a região da Antártica. A análise foi realizada por Espectrometria de Emissão Ótica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP OES), em equipamento instalado no IO.

As espécies foram coletadas em quatro pontos da Baía do Almirantado. “Conseguimos analisar 65 organismos e amostras de sedimentos de cada um desses pontos, coletados durante os meses de novembro e dezembro de 2003”, conta Tailisi.

Organismo sentinela

Os estudos nos laboratórios permitiram a Tailisi indicar uma espécie, em particular, que funciona como o melhor biomonitor de metais pesados para aquela região. O molusco de nome Laternula elliptica é capaz de concentrar diversos contaminantes e sobreviver normalmente. “Além disso, a espécie é encontrada em abundância na Baía do Almirantado e tem pouca migração”, descreve.

Em relação às origens dos metais pesados, muitos são provenientes dos continentes de baixa latitude. “É o caso do mercúrio, por exemplo, que chega à região por meio da deposição atmosférica”, aponta. Já o cobre e o zinco, que apresentaram elevadas concentrações, segundo Tailisi, são essenciais a alguns organismos e estão presentes nas rochas do continente antártico. O estudo estabeleceu os níveis de arsênio, cádmio, chumbo, cobre, cromo, mercúrio, níquel, zinco, em amostras biológicas de diferentes níveis tróficos. “Estão todos em níveis que consideramos aceitáveis”, destaca.

Assim, Tailisi considera que o aspecto a se destacar em sua pesquisa é justamente o fato de ser um dos estudos pioneiros naquela região (Baía do Almirantado) devido à época da coleta, que foi em 2003, e que será importante como referência para estudos posteriores. A pesquisa foi orientada pelo professor Rubens César Lopes Figueira, do Departamento de Oceanografia Física, Química e Geológica do IO, e teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Mais informações: com Tailisi Hoppe Trevizani, no email tailisi@usp.br

Scroll to top