Fabricação digital concretiza ideias de arquitetos e designers

FAU tem o primeiro laboratório de fabricação digital do Brasil vinculado à FAB LAB, rede que conta com laboratórios em 27 países, liderados por unidade do MIT (Massachusetts Institute of Technology).

Bruna Pellegrini, especial para o USP Online

A confecção de peças, no mundo do design e da arquitetura, sempre exigiu muitas horas de trabalho e desafios para materializar exatamente o que foi conceituado na prancheta. Máquinas que concretizam automaticamente as ideias pareceram por muito tempo parte de uma ficção científica, mas com o surgimento da fabricação digital, estão se tornando realidade.

No Brasil, a iniciativa pioneira é da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, que acaba de implantar o primeiro laboratório de fabricação digital do Brasil vinculado à rede mundial FAB LAB, liderada pelo Center for Bits and Atoms, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.

Paulo Fonseca de Campos, docente da FAU e coordenador do Grupo de Pesquisa em Fabricação Digital da Faculdade, o DigiFab, focou parte de seus trabalhos universitários nos últimos meses na implementação do laboratório.

Fabricação Digital

O que possibilita a fabricação digital são máquinas com Controle Numérico Computadorizado (CNC), que permitem o controle simultâneo de vários eixos, tornando-se, portanto, uma interface que comunica o projeto virtual com a sua confecção real.

Em termos práticos, o arquiteto conceitua uma peça de mobília, por exemplo, e uma vez devidamente programada com as especificações do projeto, a máquina materializa suas partes, sem que haja necessidade de se operar a máquina manualmente diversas vezes.

No limite, com o crescimento do uso de impressão 3D de objetos, também uma das alternativas da fabricação digital, será possível produzir com a mesma rapidez e custo artigos únicos ou produzir milhares deles. “Estamos só no começo”, anima-se Fonseca.

O docente, porém, mostra-se preocupado em que não se avalie as tecnologias apenas como alternativas para produções mais eficientes. Para ele, a fabricação digital é uma aposta que deverá revolucionar os meios de produção, mas para isso precisa ir além de novos equipamentos. “Não estamos anunciando aqui novas tecnologias por si só. A vinda das máquinas que compõem o FAB LAB é muito importante, mas não podemos jamais perder de vista o caráter colaborativo da rede FAB LAB e o nosso compromisso em levar essa tecnologia à sociedade”, destaca.

 

Cooperatividade

“A tecnologia da fabricação digital não é a grande novidade, mas sim a cooperatividade”, reenfatiza Fonseca. E aí entra o papel fundamental da rede FAB LAB. Abreviação de Fabrication Laboratory, a rede conjuga mais de 80 pequenos centros de pesquisa e produção que utilizam máquinas com tecnologia CNC para criar objetos, produzir outras máquinas e fazer experimentos.

“A relação entre as FAB LABs é horizontal e em rede, para que o conhecimento transite de todas as formas.  Queremos gerar tecnologias que possam coadjuvar processos sociais importantes, no sentido de trabalhar com comunidades que possam assimilar esse conhecimento e convertê-los em uma oportunidade de melhorar a sua qualidade de vida”, sintetiza o professor.

O FAB LAB estará aberto à comunidade em meados de 2012, para que esta possa trocar conhecimento com o meio acadêmico e assim se beneficiar com produtos feitos no laboratório. Fonseca ressalta que essa ponte, a extensão, “é tão importante quanto a pesquisa e o ensino”.

Na sétima Conferência Mundial de FAB LABs, em Lima no Peru, que aconteceu em agosto passado, Fonseca presenciou um exemplo típico do que pode ser uma boa aplicação para o FAB LAB brasileiro: comerciantes ambulantes da capital peruana foram dotados de ferramentas de fabricação digital para que aumentassem seu potencial empreendedor e, junto com profissionais da área, confeccionaram carrinhos para comércio. “Isso movimenta a economia popular”, observa o professor.

O FAB LAB SP começará a ser usado no próximo semestre por alunos da pós-graduação de arquitetura. A intenção é que os alunos não só aprendam, mas sejam multiplicadores desses novas ferramentas do conhecimento.

Ampliação

Os equipamentos foram adquiridos pela FAU com a gestão dos professores Sylvio Sawaya e Marcelo Romero, “que abraçaram a iniciativa, conscientes da importância da entrada da Universidade na era da fabricação digital” avalia Fonseca.

Dentro da USP, as pretensões dos professores quanto ao LAB FAB SP também não são pequenas. “Nossa ideia é que a fabricação digital esteja conectada a todas as áreas da FAU. Por exemplo, no curso de História da Arquitetura, pretendemos disponibilizar o LAB FAB para que os alunos possam fabricar os modelos que serão estudados”.

A intenção é estender os recursos do FAB LAB a outras unidades da comunidade USP, conta Fonseca. “Um exemplo de local com que tive contato recentemente que poderia se beneficiar dos recurso do FAB LAB é a Oficina Ortopédica do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que produz órteses, próteses e outros equipamentos.” Para ele, no longo prazo, a Universidade deve fazer a seguinte pergunta: “onde a fabricação digital pode nos ajudar? E ter como resposta: em todas as unidades da USP.”

Mais informações pelo telefone (11) 3091-4560; no site do Fab Lab SP  da FAU: http://fablabsp.org; no site da rede mundial Fab Lab: http://fabz.cba.mit.edu; ou no site da Fundação Fab Lab: http://fabfoundation.org.

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