Análise do habitat favorece preservação do lobo-guará

Estudo de viabilidade populacional propõe estratégias de manejo da espécie em áreas naturais e alteradas.

Raiza Tronquin / Assessoria de Comunicação da Esalq

Na Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pesquisa do biólogo Rogerio Cunha de Paula avalia as condições do cerrado e outros biomas brasileiros à conservação do lobo-guará e analisa a seletividade de atributos ambientais e paisagísticos pela espécie em áreas naturais e alteradas pela atividade humana. Por meio dessas informações, o trabalho do Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais da Esalq busca realizar análises de viabilidade populacional para verificar as fragilidades do animal e propor estratégias de manejo de seus habitats e populações.

O surgimento de animais silvestres, como o lobo-guará, em áreas urbanas, tem se tornado cada vez mais frequente e alguns especialistas apontam a falta de alimentos no habitat natural como motivo principal. No entanto, pouca informação existe sobre a ocupação e tolerância deste animal em extensões alteradas por atividades humanas. Dentro deste contexto, o biólogo vem desenvolvendo, em sua tese de doutorado, o projeto “Adequabilidade ambiental dos biomas brasileiros à ocorrência do lobo-guará e avaliação do uso de paisagens antropizadas”.

Registros da espécie por todo o Brasil, coletados em animais monitorados por coleiras com GPS e transmissores via satélite, constituem os dados que formam a base da pesquisa. “O monitoramento é realizado com tecnologia de ponta, permitindo estudar as rotas percorridas pelos animais”, diz o biólogo. “O colar transmissor armazena dados a cada hora, identificando de forma exata a localização e informações sobre a atividade do animal, por exemplo se está em repouso, movendo-se devagar ou correndo”.

Animais monitorados

Segundo o estudioso, a base de dados é composta por aproximadamente 40 mil localizações de 66 animais monitorados. “Essas informações são processadas a partir de modelagem de distribuição de espécies; análises da paisagem utilizada e disponível; custo de movimentação e seleção de recursos”, esclarece Cunha de Paula. O trabalho tem sido realizado no Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação de Fauna Silvestre (LeMac) e parte das análises serão feitas no Instituto de Biologia de Conservação Smithsonian, nos Estados Unidos. “O grande volume de informações associado à precisão, indicará neste projeto as alternativas de manejo para a conservação da espécie”, conclui.

Orientado pela professora Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, do Departamento de Ciências Florestais (LCF) da Esalq, o pesquisador conta com o apoio do ICMBio, do Programa Empreendedores da Conservação (SPVS/E-Cons) e da Tetra Pak. Criado em 2004, o Programa de Conservação Lobos da Canastra, conduzido na região da Serra da Canastra (MG), é uma iniciativa transdisciplinar coordenada pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Pró-Carnívoros (OSCIP).

Em 2011, a Esalq passou a participar do projeto, com o envolvimento da professora Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, quando as primeiras avaliações sobre a adequabilidade das paisagens do Cerrado à ocupação do lobo-guará começaram a ser realizadas. No ano seguinte, Rogerio Cunha de Paula ingressou como doutorando na Esalq. O biólogo, que pesquisa a espécie há 16 anos, atua como analista ambiental e coordena o programa de conservação do CENAP/ICMBio.

De acordo com Katia, este projeto é uma oportunidade excelente de unir ciência e gestão para a conservação de espécies ameaçadas, como o lobo-guará. “Estamos construindo uma ponte e preenchendo lacunas entre pesquisadores e gestores, buscando resultados práticos que melhorem a efetividade de ações para a conservação do lobo em longo prazo”, aponta. 

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