Pesquisadores do IFSC realizam terapia fotodinâmica para combater micose de unha

Terapia é responsável pela inativação de microorganismos que causam a onicomicose.

Da Assessoria de Comunicação do IFSC – comunicifsc@ifsc.usp.br

Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP utilizam a técnica de inativação de microorganismos por terapia fotodinâmica para combater fungos causadores da micose de unha (onicomicose). A expectativa é produzir um aparelho prático e disponibilizar a técnica de maneira acessível a toda população. A terapia fotodinâmica, tratamento de doenças baseado na utilização de luz para ativação de compostos medicamentosos, tem sido presença cada vez mais forte no tratamento de doenças, principalmente na área da dermatologia.

Os tratamentos convencionais para a onicomicose são mais paliativos do que uma solução definitiva, e são associados a altas taxas de falha e recorrência. O Grupo de Óptica do IFSC, por iniciativa do professor Vanderlei Bagnato, trabalha há alguns anos com a técnica de inativação fotodinâmica de microorganismos causadores de doenças. A partir do potencial do método e do quadro atual do tratamento da micose, foi elaborado um projeto de pesquisa nesta área e desenhado um protótipo do equipamento. Uma colaboração teve início com a farmacêutica Ana Paula da Silva, então aluna de graduação, que já utilizava a técnica com medicamentos fotossensibilizadores em shampoos para o tratamento da caspa. Em seguida, foi firmada uma parceria com a Universidade Anhembi Morumbi (São Paulo), por intermédio do professor Armando Bega, do curso de Podologia, disponibilizando infraestrutura para avançar a pesquisa.

Para o diagnóstico da onicomicose, Ana Paula faz uso de um equipamento de fluorescência, já disponível no mercado para o diagnóstico de cáries e placas bacterianas. O equipamento permite uma localização mais exata dos fungos causadores da infecção por meio da fluorescência característica do próprio microorganismo. Hoje a pesquisa se baseia na utilização de dois protótipos diferentes para o trato da unha, sendo que cada protótipo trabalha com um comprimento de onda diferente, a fim de ativar diferentes substâncias nos medicamentos, que se diferenciam tanto em estrutura química quanto em espectro de absorção. “São compostos fotossensíveis bem diferentes”, comenta Natalia Mayumi Inada, especialista em laboratório do Grupo de Óptica do IFSC e orientadora do projeto. “O intuito é comparar a eficácia de cada composto, e para isso utilizamos, para cada um, uma fonte de luz específica: uma na região do vermelho e outra na região do azul”, completa.

O equipamento, assim, liberando a luz em um comprimento de onda específico, tem a função de ativar o composto fotossensível que, já em contato com a unha danificada, gera espécies reativas de oxigênio que são prejudiciais aos microorganismos. “Estas espécies reativas de oxigênio são tóxicas para o fungo ou à bactéria e acabam por eliminá-los”, esclarece Natalia. A medicação fica em contato direto com a lesão durante apenas uma hora, iluminada por vinte minutos. Com a rapidez da ação, Ana Paula conta que consegue tratar de dez a quinze pacientes por dia. Tanto o protótipo do equipamento quanto a técnica da inativação fotodinâmica já estão patenteadas. As medicações utilizadas são comerciais, já aprovadas para estudos clínicos experimentais – uma de origem russa e outra nacional, sintetizada por uma indústria farmacêutica de Ribeirão Preto (interior de São Paulo).

Parcerias

Atualmente, Ana Paula cursa o mestrado no IFSC e viaja semanalmente para a capital, onde trata cerca de quarenta pacientes, entre casos finalizados e em processo de finalização. Após a finalização do tratamento dos pacientes em São Paulo, para dar prosseguimento a pesquisa, a equipe pretende montar uma equipe em Ribeirão Preto. Isso porque uma empresa especializada na área médica e odontológica em Ribeirão Preto manifestou interesse em transformar o protótipo em equipamento e produzi-lo. Assim, haveria uma colaboração com uma podóloga para o tratamento de um grupo de pacientes, grupo do qual sairiam resultados que seriam enviados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a aprovação do equipamento e desenvolvimento do produto final. A empresa tem avançado muito na área de Podologia, disponibilizando infraestrutura moderna para clínicas de podologia, e por isso demonstrou interesse em oferecer aos podólogos um equipamento para o tratamento da onicomicose em seu próprio consultório.

Uma outra parceira em potencial é uma indústria de cosméticos em São Paulo, que pretende fechar mais um grupo de pacientes na capital e também desenvolver o equipamento de maneira comercial. “Para nós, essa parceria com indústrias é muito importante para tornar a técnica acessível na comunidade, porque sabemos que o projeto de pesquisa vai chegar ao fim, ao contrário do número de pacientes sofrendo desta doença. Estamos trabalhando a todo vapor para que a técnica seja difundida, sobretudo de maneira economicamente acessível”, comenta Natalia.

O tratamento da onicomicose por terapia fotodinâmica já existe, mas custa muito caro e poucos conseguem usufruir das vantagens da técnica. Por isso, atualmente, o tratamento da onicomicose se dá de duas formas: via oral ou tratamento tópico. Em ambos os casos, a resposta não é tão eficaz, razão pela qual a maioria dos pacientes tratados por Ana Paula sofrem do mal há anos. “Além disso, quem toma medicamento tem efeitos colaterais, e a terapia que utilizamos tem aplicação local e se utiliza de medicação tópica, o que também contribui para impedir que os microorganismos criem resistência”, explica Ana Paula. “Já foi provado que alguns microorganismos específicos desenvolveram resistência a alguns medicamentos”, completa Natalia. No caso da inativação fotodinâmica, os pacientes podem ser submetidos a quantas sessões do tratamento forem necessárias. “Nossa única recomendação neste sentido é que haja um intervalo de uma semana entre cada aplicação”, observa Natalia.

O tratamento está sendo oferecido gratuitamente, de maneira experimental, nesta etapa do desenvolvimento da pesquisa. Segundo as pesquisadoras, a maioria dos pacientes já se mostra muito desacreditada com os tratamentos convencionais e não vêem mais solução para seus casos, mas esta terapia têm mudado suas perspectivas de saúde e bem-estar, até porque “basta comparecer ao local e não faltar às sessões”, conta Natalia.

O interessante deste projeto de pesquisa é que, além da aplicação prática do tratamento, Ana Paula desenvolve uma cultura dos microorganismos em laboratório – o chamado processo in vitro, maneira pela qual se investiga processos biológicos fora de sistemas vivos. Ana Paula cultiva em placas uma grande parte da linhagem dos fungos causadores da onicomicose e aplica a terapia fotodinâmica para avaliar sua reação. “É a associação da pesquisa básica, que é a parte laboratorial, com a pesquisa aplicada, que é a parte clínica em si, envolvendo pacientes. Isto desperta muito o interesse da comunidade, desde pacientes em potencial até outras universidades e empresas que pretendem colaborar e difundir a técnica”, finaliza Natalia.

Mais informações: email comunicifsc@ifsc.usp.br

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