Um grande projeto sobre turismo, que promete contribuir no desenvolvimento da comunidade local, está em curso no Vale do Ribeira, região sul do Estado de São Paulo. Trata-se da pesquisa Experiências de Turismo de Base Comunitária no Vale do Ribeira/SP – um estudo psicossocial, uma parceria entre o Instituto de Psicologia (IP) da USP, a Escola Técnica (ETEC) Engenheiro Narciso de Medeiros, em Iguape e a Escola Técnica (ETEC) de Registro.
O objetivo do trabalho é estudar possíveis formas de turismo que envolvam aquela população e promovam melhorias para a região, estruturando as atividades de forma sustentável e procurando valorizar a identidade dos habitantes com o local, sem que haja prejuízo nem para a natureza, nem para os moradores.
Vale ressaltar que a região do Vale do Ribeira é a que possui a maior área preservada de Mata Atlântica do Estado de São Paulo. Segundo o professor Gustavo Massola, um dos coordenadores da iniciativa, o lugar tem um grande potencial turístico ainda não explorado, e “existem ganhos para a população local quando a organização se dá de maneira democrática e coletiva”.
Serão estudadas três comunidades da região – O Quilombo Ivaporunduva, a Vila Caiçara Marujá e a Aldeia Guarani Mbya-Pindoty – levando em conta aspectos diversos da psicologia social, área de atuação da maioria dos coordenadores da pesquisa.
No total são oito subprojetos dentro do tema inicial, e cada projeto conta com um coordenador, um supervisor e oito alunos bolsistas das ETECs. Cabe aos professores do IP coordenarem o projeto enquanto os professores das ETECs supervisionam, de maneira mais próxima aos alunos, o desenvolvimento pessoal de cada estudante.
Entre os temas abordados estão formação da consciência política e turismo; práticas culturais e enraizamento; arte nas comunidades anfitriãs; visões de mundo dos jovens quilombolas; prevenção de DST/Aids entre turistas e nativos; e o papel das lideranças indígenas na organização do turismo.
Preparação
Em andamento desde setembro de 2011, o projeto tem a duração de um ano e, neste mês de março, entra na fase de pesquisa de campo – trabalho essencial que consiste em entrevistas com os moradores da Vila Caiçara, do Quilombo e da aldeia indígena. Os alunos farão constantes visitas as três comunidades e conversarão, de maneira livre e sem um questionário rígido, com os habitantes do local.
Mas antes de se chegar a esta etapa, uma longa temporada de preparação com os estudantes das ETECs foi realizada. Semanalmente, os alunos se reuniam com seus supervisores e, mensalmente com os coordenadores. O professor Bernardo Svartman, também coordenador do projeto, conta que “foi um processo bastante intenso com leitura e discussão de textos indicados pelo pesquisadores do IP”, e que o projeto visa à criação de grupos de pesquisa sobre um tema geral, mas que abrange muitas linhas de pesquisa no IP.
Massola destaca ainda a importância da atuação dos professores da ETEC: “São muito dedicados, com formação sólida, e dão a base de sustentação para os trabalhos”. O docente enaltece também a dedicação dos alunos, ressaltando a importância de que “o conhecimento gerado neste trabalho fique lá na região, e não restrito somente a uma pesquisa acadêmica”.
Identidade e enraizamento
Coordenado por Gustavo Massola, especialista em psicologia ambiental – área que estuda a relação entre o indivíduo e o local físico em que se insere – o subprojeto “Identidade, território e participação: um estudo psicossocial sobre a experiência de turismo de base comunitária no Quilombo Ivaporunduva, Vale do Ribeira/SP” busca entender o enraizamento cultural dos habitantes da região, ou seja, “o quanto a pessoa se sente identificada naquele território”, como descreve Massola. Uma curiosidade sobre o Quilombo Ivoporanduva é que este foi o primeiro a ter suas terras oficialmente reconhecidas pela união, ainda na década de 1980, segundo informações do professor.
Bernardo Svatman, especialista em psicologia social comunitária e psicologia do trabalho, coordena o tema “Auto-gestão e enraizamento nos empreendimentos de turismo de base comunitária do Vale do Ribeira/SP”. O foco é na Vila de Pescadores Marujá e a pesquisa procura alternativas de desenvolver um turismo administrado pelos próprios moradores da região, proporcionando novas atividades econômicas. Entre elas, implantação de infra-estrutura para recepção de turistas e atividades de pesca; artesanato; e formação de guias turísticos melhorarar a distribuição de renda entre os moradores.
A pesquisa foi submetida à Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da USP para se encaixar no programa de pré-iniciação científica, cujo objetivo é aproximar o aluno do ensino médio com a pesquisa acadêmica e a universidade pública. Foram aprovadas 64 bolsas de R$ 100,00 cada para os alunos da ETEC, sendo oito alunos por tema, um dos maiores programas de pré-iniciação concedido pela PRP.