FoRC e Agência USP de Inovação propõem novo modelo de aproximação com empresas

Foram reunidas oito grandes empresas com forte atuação no setor de alimentos e nutrição para uma reunião técnica com o objetivo de abrir espaço para o estabelecimento de parcerias em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Érika Coradin / Acadêmica Agência de Comunicação

O Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela Fapesp, realizou em 28 de novembro, em São Paulo, um evento que pode se tornar uma referência na forma de aproximação da Universidade com empresas. Com o apoio da Agência USP de Inovação, o FoRC reuniu oito grandes empresas com forte atuação no setor de alimentos e nutrição para uma reunião técnica com o objetivo de abrir espaço para o estabelecimento de parcerias em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I).

“Em vez de prospectar parcerias para projetos pontuais, buscamos um modelo de aproximação que possibilitasse compreender as tendências do mercado e do consumidor, as necessidades do setor produtivo, e de que forma poderíamos ter a melhor sinergia em relação às nossas linhas de pesquisa”, explicou Bernadette de Melo Franco, diretora do FoRC e pró-reitora de Pós-Graduação da USP.

Estiveram presentes no evento representantes da Dow Química, Cargill, Basf, DuPont, Naturex, Ingredion Brasil, Duas Rodas e AB Brasil – players da área de alimentos e nutrição, com atuação mundial e plataformas de conhecimento estrategicamente focadas em P,D&I. “De um grupo de cerca de 60 empresas, selecionamos 12, com parâmetros que levaram em consideração não só a área de atuação – ingredientes para alimentos – como também o número de patentes depositadas e o portfólio de produtos”, contou a professora Carmen Tadini, da Escola Politécnica (Poli) da USP, vice-diretora e coordenadora da área de Transferência de Tecnologia do FoRC. Oito delas estiveram representadas na reunião.

No evento, além das apresentações do FoRC e da Agência USP de Inovação, cada empresa mostrou o que faz e quais são os desafios que têm que superar frente às tendências do mercado e do consumidor em nível mundial e local. No final, os participantes – cerca de 30 pessoas – se dividiram em grupos para alinhar as próximas ações. “Fechamos o evento com várias reuniões pontuais agendadas entre pesquisadores do FoRC e as empresas participantes, o que é ótimo para uma aproximação inicial”, afirmou Carmen Tadini.

Criado em 2013, o FoRC reune equipes multidisciplinares e infraestrutura laboratorial de diferentes instituições de pesquisa do Estado de São Paulo – atualmente USP, Unicamp, Unesp, Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) e Instituto Mauá de Tecnologia (IMT). A USP é a instituição sede, tendo em vista que o FoRC é praticamente um desdobramento do seu Núcleo de Apoio à Pesquisa em Alimentos e Nutrição (NAPAN). No âmbito dos CEPIDs, o FoRC tem objetivos, metas e prazos para execução pré-estabelecidos, em especial no que se refere à transferência do conhecimento e às ações de educação e difusão do conhecimento.

Suas linhas de pesquisa estão estruturadas em quatro pilares: Sistemas Biológicos em Alimentos; Alimentos, Nutrição e Saúde; Qualidade e Segurança dos Alimentos; e Novas Tecnologias e Inovação. Atualmente, 35 pesquisadores integram o FoRC. São lideranças na comunidade científica que contam com o apoio também de centros de pesquisas estrangeiros, já que suas pesquisam visam um nível de classe mundial, e são focadas para resolver gargalos e avançar no conhecimento científico em todas as etapas da cadeia produtivo – do agronegócio ao varejo, sempre com foco na saúde do consumidor.

Além das professoras Bernadette e Carmen, seu Comitê Executivo é composto pelos professores: Beatriz Rosana Cordenunsi (diretora executiva), Eduardo Purgatto e Mariza Landgraf (coordenadores de Educação e Difusão de Conhecimento). O Comitê Científico é composto pelos coordenadores de cada pilar.

Frente ampla de atuação

Os desafios do FoRC não são poucos, como ilustrou o diretor associado em P&D na área de embalagens da Dow Química, Marcos Pini França, em uma apresentação que mostrou o cenário da demanda de alimentos daqui a 35 anos. “Em 2050, será necessário aumentar em 70% a produção de alimentos para atender 9 bilhões de habitantes no mundo”, disse. Segundo estimativas da FAO, 40% dos alimentos deverão ser produzidos no Brasil para atender essa demanda. No entanto, a área agricultável deverá crescer apenas 5%, portanto, 90% da produção deverá ser decorrente do aumento da produtividade. Há ainda gargalos como: 1/3 dos alimentos produzidos no Brasil são desperdiçados. Estima-se que 54% do desperdício ocorram nas etapas do pós-colheita e do armazenamento, e 45% na distribuição e no consumo. “Em 2050 teremos 1 bilhão de pessoas passando fome, e outro 1 bilhão com obesidade”, ressaltou. “Vejo o FoRC como uma iniciativa fundamental neste cenário”, afirmou.

Para Gabriela Ramos, analista de Marketing da Divisão de Nutrição Humana da Basf, esta aproximação com o FoRC é vista como “muito positiva”, uma vez que a empresa está cada vez mais focada no desenvolvimento de soluções adequadas às características do mercado local e precisa do apoio da academia para avançar nesse sentido. “Já temos parcerias pontuais com instituições de pesquisa; o que estamos construindo aqui é algo mais complexo e promissor”, afirmou.

“Agora é alinhar os objetivos, superar dificuldades para fazer ciência em conjunto. Vou levar o que vi aqui para discussão interna na empresa”, acrescentou Márcia Fernandes Berimbau, diretora de Inovação para a América do Sul da Divisão de Nutrição e Saúde da DuPont. O diretor de Transferência de Tecnologia da Agência USP de Inovação, Alexandre Lima, também fez uma avaliação positiva da reunião. “Este evento trouxe um formato inovador no modo de se aproximar das empresas, e deverá ser replicado daqui por diante”, finalizou.

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