Inovador desde as origens: os 50 anos do Departamento de Genética da FMRP

Evento comemorativo lembrou o pioneirismo e o humanismo do seu fundador, professor Warwick Estevão Kerr.

Rosemeire Soares Talamone / Serviço de Comunicação da PUSP-RP
Criado em 1965, ano em que o mundo se encantava com a música dos Beatles e, na Inglaterra, morria Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido, o Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP construiu uma história de ineditismos que o tornou moderno e atual até hoje.

Suas atividades já começaram com trânsito internacional. Em 1966, recebeu a visita do professor Theodosius Dobzhansky, um dos mais reconhecidos pesquisadores na área da síntese da biologia evolutiva. Sua criação também se caracterizou pelo fato, inédito para a época, de um departamento reunir pesquisadores de outros departamentos da FMRP e, ainda, de outras unidades. “Uma das contribuições mais importantes do departamento foi justamente essa, pois o conhecimento de genética estabelece um link entre os departamentos”, lembrou o reitor da USP, professor Marco Antonio Zago, em discurso durante as comemorações do cinquentenário do Departamento de Genética da FMRP, no dia 6 passado.

O reitor lembrou também que o entusiasmo pela investigação científica era a característica que distinguia seu fundador, professor Warwick Estevão Kerr – hoje com 92 anos –, especialista em abelhas, organizador e chefe do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Unesp de Rio Claro e primeiro diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

No mesmo ano de instalação do departamento, a ciência reconhecia o feito dos pesquisadores franceses François Jacob, André Lowft e Jacques Monod ao atribuir aos três o Prêmio Nobel de Medicina pelas suas pesquisas sobre o DNA e por introduzirem na genética o conceito de RNA. O professor Zago lembrou em seu discurso que “as pesquisas de Jacob, Lowft e Monod abriam um período áureo da genética no mundo e a genética molecular ganhava espaço”.

usp-fmrp-genetica-03Enquanto isso, no primeiro dia de atividades do Departamento de Genética, o professor Kerr deslumbrava os calouros da FMRP daquele ano com seu entusiasmo pelo ensino e pela pesquisa e com sua inesgotável capacidade de fazer perguntas e propor experimentos. Entre os calouros daquele ano estava Zago. “Naquele período pós-guerra não era de se surpreender que os fundadores da FMRP criassem o Departamento de Genética. A faculdade, já com grande trânsito internacional, também se caracterizava pelo fato inédito de que as áreas clínicas deveriam trabalhar experimentos em animais e que a patologia não era ‘lugar de morte’, mas de compreender os desvios da normalidade”, lembrou o reitor.

Para o professor Wilson Araujo da Silva Junior, atual chefe do departamento, um dos destaques nesses 50 anos é a formação de pessoal. “Boa parte da formação de geneticistas no Brasil passou pelo Departamento de Genética da FMRP”, afirma.

Homenagens

Durante as comemorações, foi apresentado um vídeo histórico do departamento e não faltaram mais homenagens ao professor Kerr, tido como um visionário, mas acima de tudo um humanista. Ao agradecer pelas homenagens, sua filha, Florence Kerr Correa, falou de peculiaridades do pai que poucos conheciam, como o fato de as férias da família se passarem durante as participações de seu pai nas reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e em reuniões da Sociedade Brasileira de Genética (SBG).

usp-fmrp-genetica-04-262x350A cronologia histórica foi apresentada pelo professor aposentado Moacyr Antonio Mestriner, que ao final se disse privilegiado por ter feito parte do departamento, e apontou duas marcas inesquecíveis do professor Kerr: “A primeira, seu grau de tolerância, respeito e compreensão por todos e a segunda, sua constante afirmação de que nada torna uma pessoa mais feliz do que empenhar-se para a felicidade alheia”.

As pesquisas no departamento fizeram despontar expoentes na ciência nacional, que foram responsáveis por publicações em renomadas revistas internacionais. Além de ser um dos principais centros de pesquisas em genética humana, o departamento também se destaca pelas pesquisas com abelhas, o que o tornou referência mundial nos estudos com a Apis mellífera.

Mais recentemente, o seu programa de pós-graduação recebeu três prêmios Capes de Teses: Marcia Marques Silveira, em 2008, e Claudia Macedo, em 2010, ambas orientadas pelo professor Geraldo Aleixo da Silva Passos Junior, que tem dupla vinculação, FMRP e Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp). Em 2011, recebeu o prêmio Henrique Cestari De Paoli, orientado pela professora Maria Helena Goldmann, contratada pela FFCLRP e credenciada no Programa de Pós-Graduação em Genética da FMRP.

Desafios

geneticaPara o diretor da FMRP, professor Carlos Gilberto Carlotti Junior, esse é o departamento com maiores perspectivas de expansão e avanço. “Hoje, para todas as doenças se diz que estudos genéticos revelarão causas e tratamentos”, lembrou Carlotti, mas disse que não se podem esquecer as características do departamento, que são o estudo das abelhas e o pesquisa na área de bioinformática, que já se destaca nos cenários nacional e internacional.

Para o futuro, o professor Silva Junior enxerga um grande desafio. “Entramos numa era em que deixamos de analisar um gene para analisar todos os genes. Saímos da genética localizada para a genética sistêmica.”

O professor enfatizou que o desafio se torna ainda maior, pois já existe a possibilidade de entendimento de todo o processo biológico e o que acontece numa célula normal e numa célula alterada. Esse conhecimento “que vem com a era genômica é o grande desafio da nova geração de geneticistas”, anuncia.

Para essa nova era, o Departamento de Genética se prepara criando dois novos núcleos de pesquisa. O Núcleo de Pesquisa em Biologia Sistêmica Integrada, que dará apoio à análise de dados em escala genômica, e o Centro de Medicina Genômica, que nasceu de iniciativa do departamento. “Com esses dois núcleos, será possível compreender melhor os mecanismos, e o resultado será usar essas informações para um atendimento de pacientes mais personalizado e específico, com respostas mais eficazes”, destaca o professor.

Além das comemorações do dia 6 passado, foi realizado evento científico no dia anterior, que contou com a participação dos professores Marcelo Nóbrega, da Universidade de Chicago, Estados Unidos, Diogo Meyer, do Instituto de Biociências (IB) da USP, Henrique Krieger, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, Aguinaldo Luiz Simões, da FMRP, Erney Plessmann de Camargo, do ICB, e Iris Ferrari, da Universidade de Brasília (UnB) e ex-professora do Departamento de Genética da FMRP. Ainda este ano, dentro das comemorações, está agendado para acontecer em Ribeirão Preto o Congresso de Genética Médica.

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