Instituto de Estudos Brasil-Europa conecta pesquisadores brasileiros e europeus

Ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa, Instituto de Estudos Brasil-Europa busca unificar pesquisas da USP e fortalecer a relação acadêmica da Universidade com instituições europeias.

A internacionalização é um importante tema no mundo acadêmico, e por isso a USP vem trabalhando para se tornar cada vez mais presente no cenário mundial. Uma das iniciativas nesse sentido é o Instituto de Estudos Brasil-Europa (IBE) da USP, um Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) que visa a conectar, interagir, incentivar e promover maior comunicação entre pesquisadores brasileiros e europeus.

O IBE foi criado em 2010, inicialmente como projeto financiado pela União Europeia por um período de três anos. Atualmente, é um NAP que atua ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa, com a parceria de 27 universidades brasileiras e europeias. Uma das atividades é a participação no Programa de Mobilidade Erasmus Mundus da Comissão Europeia – vinculada à União Europeia –, com projetos de integração e intercâmbio acadêmico. Dentro do Erasmus, um dos projetos é o Be Mundus, que proporciona o intercâmbio de alunos, docentes e funcionários – tanto no sentido Brasil-Europa quanto auxiliando na vinda de europeus para o Brasil.

O programa já teve duas chamadas concluídas e se encontra na terceira etapa. Até agora, 96 alunos, docentes e funcionários técnico-administrativos de universidades brasileiras já tiveram a candidatura aprovada, sendo 17 deles da USP. Paralelamente, 27 alunos europeus vieram ao Brasil através do projeto.

Segundo Moacyr Martucci, professor da Escola Politécnica da USP e coordenador do IBE, o objetivo da União Europeia em financiar o instituto em seu início era fazer com que pesquisadores europeus tivessem mais contato com outros países e, da mesma forma, que estrangeiros conhecessem melhor a Europa. “A União Europeia quer que as pessoas conheçam a Europa e sua cultura e que os europeus conheçam o resto do mundo”, diz.

Observatório

Foto: Cecília Bastos / Jornal da USP
Foto: Cecília Bastos / Jornal da USP

Além de promover programas de mobilidade de estudantes Brasil-Europa, o IBE atua como uma espécie de observatório da pesquisa desenvolvida na Europa e, a partir disso, tenta estabelecer um diálogo entre os conhecimentos desenvolvidos no exterior e aqueles trabalhados na USP. “Tentamos montar uma colaboração: se está tendo um movimento europeu num determinado sentido, e a USP não está fazendo nada nesse aspecto no âmbito da geração de conhecimento, perguntamos para a área envolvida o que está acontecendo”, explica.

A atuação do núcleo também auxilia na integração da Universidade. O professor argumenta que vários problemas da humanidade não estão relacionados a apenas uma disciplina, mas a várias áreas do conhecimento e, por isso, é preciso que todos trabalhem em conjunto. Portanto, caso vários grupos de pesquisa estejam trabalhando no mesmo tema, o IBE incentiva que os pesquisadores atuem em conjunto, o que, além de agilizar o processo e evitar trabalhos redundantes, promove mais diálogo entre os diversos setores da Universidade. “Buscamos estruturar o trabalho de tal forma que a USP pense como USP, e não como um conjunto de vários grupos de pesquisa que trabalham independentemente”, diz Martucci. “A partir daí temos um foco para o problema, e podemos dizer para a Fapesp e para o governo como a USP pensa.”

Dessa forma, o intuito é que as descobertas europeias, somadas à pesquisa promovida nas universidades brasileiras, possam auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas no País. O professor lembra que, ao ser financiada por dinheiro público, a USP deve oferecer de volta à população o que nela é investido. “A Universidade precisa trabalhar para a sociedade paulista que a sustenta e, consequentemente, para a sociedade brasileira”, afirma.

Indo além da mera integração das disciplinas, o IBE também estuda a implantação de um doutorado transdisciplinar. Esse modelo instituiria uma forma de pensamento que trouxesse o conhecimento das várias áreas para a resolução de um problema, ao contrário do que ocorre hoje, quando cada disciplina trabalha as questões de forma independente. “A ideia é criar uma nova geração de pesquisadores que não estejam conectados a uma disciplina, mas à formação de paradigmas novos para resolver problemas que exigem mais de uma área.”

Um exemplo de situação que demanda transdisciplinaridade é o amplo uso do celular nos dias de hoje. Martucci afirma que esse contexto engloba temas como saúde, antropologia e tecnologia, mas que, se olharmos a situação pela ótica de uma só área, a percepção do assunto pode ficar comprometida. “O problema como participante da tecnologia é dar lucro para a empresa em que se está trabalhando”, diz. “Mas como você junta tecnologia com as outras áreas?”, questiona o pesquisador.

Nanotecnologia

Foto: Guilherme Andrade
Foto: Guilherme Andrade

Para o professor Martucci, as iniciativas do IBE – além de outros projetos similares existentes na USP – são essenciais para que o Brasil e suas universidades se envolvam nas discussões internacionais relacionadas à ciência. “A ciência e a tecnologia têm de estar à frente, e quem faz ciência somos nós. Por isso é importante estarmos presentes nos programas globais”, ressalta.

Atualmente, o instituto atua em três temas de pesquisa, auxiliando na colaboração de grupos da USP que trabalham nas áreas em questão. Um dos projetos trata de nanotecnologia, outro aborda as cidades inteligentes e o último diz respeito à tecnologia 5G (que promete ser a próxima geração de serviços móveis, substituindo o 3G e o 4G).

O pesquisador aponta que todos esses temas estão em pauta no cenário mundial e que, por isso, é importante que a comunidade acadêmica brasileira participe dessa construção. “O IBE vai atrás de assuntos sobre os quais a gente precisa estar a par”, argumenta Martucci. O papel da nanotecnologia, por exemplo, vem sendo bastante discutido internacionalmente devido aos possíveis malefícios causados pelas nanopartículas. “As pessoas podem estar engolindo coisas pequeninas que não sabem o que é”, comenta. “Isso precisa ser regulado, e a USP tem de estar presente, o Brasil tem de estar presente. Senão, a gente recebe tudo pronto de fora”, afirma o professor.

Carolina Oliveira / Jornal da USP

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