Laboratório de Ideias da FEARP usa arte para formar gestores mais criativos

Convívio do gestor com a música, com o cinema, com as artes plásticas enriquece seu repertório de ideias e o torna um líder necessário.

Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP) da USP e Coordenadora da Escola Técnica e Gestão da USP leva alunos de pós-graduação em Administração de Organizações para aulas em Museu de Arte Contemporânea da cidade. O objetivo, segundo ela, é formar gestores mais criativos e capacitados – por meio das novas sinapses que a arte oferece às mentes desses futuros profissionais – para fazer diagnósticos, prever futuro e criar estratégias em meio a crises.

A atividade é chamada de ‘Laboratório de Ideias’ pela professora Claudia Souza Passador, do Departamento de Administração da FEARP, responsável pela iniciativa, em conjunto com os arte-educadores do Instituto Figueiredo Ferraz, de Ribeirão Preto, que realiza, até 19 de dezembro deste ano, exposição temporal de arte contemporânea, que marca as décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010.

Como o Instituto tem recebido grupos de estudantes de ensino fundamental e médio para esses ‘Laboratórios’, a professora Claudia decidiu fechar parceria com esse espaço de arte de Ribeirão Preto e utilizar, particularmente, a exposição O Espírito de Cada Época, que está em andamento. “Como a exposição trabalha com eixos temáticos, resolvi cruzá-los com os assuntos de sala de aula. Assim, trabalho a questão da redemocratização que é tema da exposição e ao mesmo tempo é assunto das aulas da disciplina de Gestão Pública e Desenvolvimento”.

E, a professora, fez o mesmo cruzamento de assunto e ideias com outros temas que pinçou da exposição: Nos anos 1990, pegou Cultura e Leis de Incentivo; nos 2000, Crescimento e Redução da Desigualdade Social, e nos 2010, o Questionamento do Território.

Os alunos, explica Claudia, “vão procurar na arte moderna, a relação dos eixos temáticos que permeiam a exposição e que também estão presente na minha aula em sala”. No fundo, continua a professora, alinhavamos com a coordenação pedagógica do Museu, Vera Barros, essa dinâmica, que é chamada de Laboratório de Ideias, e conseguimos cruzar o conteúdo da disciplina da sala de aula com o da arte em exposição.

Trata-se não apenas do consumo da arte. Claudia adianta que o relacionamento dos temas das suas aulas com o processo de criação artística desencadeia novas formas de pensar e inovar em Gestão Pública. O que se tornou também um dos eixos de ação da Escola Técnica e Gestão da USP.

Novas sinapses

Foto: Divulgação / Serviço de Comunicação Social da PUSP-RP
Foto: Divulgação / Serviço de Comunicação Social da PUSP-RP

A teoria da coordenadora do Centro de Estudos em Gestão e Políticas Públicas Contemporâneas (GPublic) – grupo de estudos e pesquisa ligado à USP do qual a professora Claudia e o professor João Luiz Passador são os responsáveis –  e também da Escola USP, é de que a arte, trabalhada multidisciplinarmente com os conteúdos que tratam em suas aulas, oferece um eixo “muito forte para a formação desse gestor público, pois ela auxilia nas “sinapses”  para encontrar respostas inovadoras aos problemas”.

O GPublic prega já há muito tempo, segundo a professora, a questão da relação das “artes de maneira geral com outras áreas que saiam da administração”.

“Em nossas teses no GPublic, acreditamos que o conhecimento formal de um curso de graduação não é suficiente para formar um gestor que dê conta e respostas efetivas na transformação das organizações”. Ela conta que, ao longo de vários anos de estudos, perceberam que o convívio desse gestor com a música, com o cinema, com as artes plásticas enriquece seu repertório de ideias e faz com que ele se diferencie e se torne um líder.

A experiência com alunos de pós-graduação da USP está chamando a atenção dos funcionários do Museu. Seu diretor administrativo, Alcebíades Junqueira, diz que difundir arte contemporânea é sempre muito importante, mas a esse nível e com estudantes de pós-graduação tem sido muito gratificante. Falando sobre a aproximação da arte com o ensino de administração, ele afirma que o contato com as artes sempre leva a outros horizontes, tanto que “o artista ao ter contato com a ciência também amplia sua visão de mundo”.

E o arte-educador Carlos Alexandre Silva Rodrigues, há um ano trabalhando no Museu, acredita no poder de reflexão por trás da arte, que podem trazer resultados importantes para o nosso dia a dia. Nesse sentido, acha muito interessante que o trabalho que está realizando com a USP esteja “voltado para pessoas que se preparam para fazer a diferença no meio em que vivem, seja político ou social”.

Construindo padrões para o futuro

Foto: Divulgação / Serviço de Comunicação Social da PUSP-RP
Foto: Divulgação / Serviço de Comunicação Social da PUSP-RP

Aluno de mestrado em Administração de Organizações, durante a atividade no Museu, Marco Antonio Catussi Paschoaloto acredita que esteja se preparando para fazer a diferença em sua formação como gestor público.

“E que a cultura e a arte podem contribuir para abrir nossa cabeça para enxergarmos uma realidade que, as vezes só inserido dentro de uma disciplina, a gente não conseguiria enxergar”.

Formado em administração pública pela Unesp de Araraquara, Marco Antonio acredita que deve retribuir o que a sociedade investiu nele, por isso quer, além de professor, ocupar um cargo público que lhe faculte mudar uma cidade, contribuindo para melhorá-la.

Para ele, “criticamos tanto as prefeituras; criticamos tanto a universidade pública. Mas só criticamos. Não contribuímos”. Precisamos de apoio teórico “muito forte para que possamos contribuir na prática para a sociedade”, argumenta.

O aluno alerta para o fato da democracia ser uma “via de mão dupla”. Tanto do governo para com a população quanto da população para com o governo. Mas, precisamos criar cultura a respeito, segundo ele, para que a população saiba ocupar espaços de participação administrativa pública.

Acredita Marco Antonio que as experiências que vive hoje e as possibilidades abertas pelo seu curso de pós-graduação o ajudem a entender as necessidades dos novos padrões que precisam ser criados agora, em 2015, para pensar um novo futuro. “Futuro esse que não tem um padrão a ser seguido. A gente é quem tem que criá-lo”.

Rita Stella / Serviço de Comunicação Social da PUSP-RP

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