Estudos avaliam atuação brasileira no comércio exterior

Núcleo de pesquisa estuda relações comerciais do Brasil e a opinião pública sobre acordos internacionais.

Apesar de não ser uma “barreira comercial”, o fato de a China não ser um país totalmente democrático e ter problemas com direitos humanos causam um certo constrangimento nos acordos comerciais. Esta é uma das conclusões de um estudo da professora Janina Onuki, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, realizado no Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) do Centro de Estudos das Negociações Internacionais (CAENI) da Universidade.

Durante 2013, Janina passou 6 meses nos Estados Unidos (EUA) para aplicar surveys — questionários com perguntas amplas e direcionadas — com enfoques específicos para determinadas áreas. Em parceria com a North Carolina State University (NCSU), foi feito um estudo sobre a visão que os estudantes da USP e da NCSU têm sobre a relação comercial de seus países com a China. “Nosso objetivo era avaliar se haviam diferenças de percepção sobre o comércio com a China entre os EUA e o Brasil”, revela a pesquisadora. Cerca de 200 estudantes foram entrevistados em cada uma das universidades.

Janina concluiu, entre outras coisas, que essas percepções são bastante parecidas, pois as pessoas são muito pragmáticas. “Elas percebem que a China, hoje, tem um grande poder econômico e de inserção no mundo, por isso faz sentido que exista essa relação comercial.” conta. Além disso, tentaram mapear algum elemento de entrave o qual pudesse dificultar acordos entre os países, chegando, então, na questão da democracia.

Diferenças

Quanto às diferenças entre EUA e Brasil, Janina acredita que elas não sejam significativas, mas existem. Ela aponta visões diferentes sobre a importância em se manter relações comercias com a China. “Enquanto no caso dos EUA há uma relação de igualdade comercial — pois trata-se de duas grandes potências — no Brasil enxerga-se o poder do país asiático, sendo importante que haja esse acordo não apenas para ampliar o comércio, mas porque, de certa forma, isso equilibraria a relação de poder do Brasil com os EUA”, revela.

O resultado do estudo de Janina será documentado em um artigo, o qual está sendo escrito em parceria com os professores do Departamento de Ciência Política da North Carolina State University. Apesar de ainda não ter sido publicada, a pesquisa foi apresentada em um congresso da American Political Science Association.

Acordos com Índia e África do Sul

Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e em parceria com a professora Adriana Schor, Janina observou, também, o comportamento do Brasil no Fórum IBAS (Índia – Brasil – África do Sul) entre 2013 e 2014. Segundo a docente, o fórum, instalado em 2003, “pressupunha que os três países se juntariam em decisões tomadas em fóruns internacionais, tendo posicionamentos em comum para conseguirem benefícios concretos em termos econômicos, políticos, sociais e ambientais”. Contudo, não notaram um avanço muito grande com essa coalizão, apesar do discurso bastante forte e concreto do governo brasileiro à época reforçar a cooperação Sul-Sul e investir na relação com países em desenvolvimento.

“Não temos muitos resultados em termos comerciais, sequer houve aumento do fluxo comercial e econômico entre os três países”, ressalta Janina. A pesquisadora ainda aponta que Brasil se coordenou em alguns momentos políticos importantes junto à Índia e à África do Sul, porém essa aliança não necessariamente gerou benefícios concretos na área comercial. “Não houve investimento e vontade política suficientes para que esse acordo alcançasse a expectativa que foi criada e o potencial que possuía”, completa. O estudou foi publicado em 2015 no livro Política externa brasileira, cooperação Sul-Sul e negociações internacionais, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).

Sobre o Núcleo

Formado em 2005, o CAENI nasceu como um centro de pesquisa ligado ao Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e tornou-se um NAP em 2013. Há cerca de 1 ano e meio, o NAP-CAENI se transferiu para o IRI. O núcleo tem feito diversas parcerias internacionais, investindo na parte metodológica do trabalho de pesquisa, aplicando questionários e fazendo entrevistas com o público.

Atualmente, O NAP-CAENI tem duas pesquisas principais — com aplicações de questionários em formato de survey — em parceria com a Universidade de Illinois e a Universidade de Princeton, todas por interesse das universidades norte-americanas.

Marília Fuller/ Agência USP de Notícias 

Mais informações: email janonuki@usp.br.

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