A caminho da COP 21: encontro promovido pelo IEA discute crise hídrica e mudanças climáticas

A série é uma preparação para a Conferência das Partes (COP 21) sobre Mudanças do Clima, que ocorrerá em Paris, no final do ano.

A crise hídrica que afeta o País e todo o planeta foi o tema do encontro que abriu, no dia 30 de setembro passado, a série de debates A Caminho da COP 21: Preparando o Terreno até Paris – Mudanças Climáticas, Adaptações, Soluções e Oportunidades, promovida pelo Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Mudanças Climáticas (Incline) e pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA), ambos da USP, em parceria com outras entidades. A série – preparatória para a Conferência das Partes (COP 21) sobre Mudanças do Clima, que ocorrerá em Paris, no final do ano – prevê a realização de outros cinco eventos.

“As mudanças climáticas e a crise hídrica: o que vem sendo feito e deveremos fazer?” foram as questões lançadas no encontro do dia 30 de setembro aos especialistas reunidos na antiga Sala do Conselho Universitário, na Cidade Universitária. A primeira sugestão foi apresentada por Newton de Lima Azevedo, governador brasileiro no Conselho Mundial da Água. “Lanço aqui a minha provocação. Ou reivindicação. É preciso criar o Ministério da Água, pois o Brasil não possui uma política pública que tenha a crise hídrica como seu grande foco e prioridade”, assinalou. “Entendo que há seis ou sete ministérios que têm essa questão como meta, mas precisamos de um órgão que possa organizar as estratégias, fazer um grande planejamento urbano.”

Azevedo, que também foi o expositor e o moderador do debate, compara a situação de São Paulo a cidade que estivesse assolada por um grande incêndio. “Sei que a Sabesp, que considero a melhor companhia de saneamento que temos no País, lançou um plano estratégico com medidas como a redução de pressão, programa de bônus para otimizar o consumo, interligação dos reservatórios e, de certa forma, controlou o fogo. Porém, é importante montar um cardápio de soluções para médio e longo prazo. Não adianta ficar esperando as chuvas de São Pedro. É preciso atitudes como as que existem em outros países, como criar estações de reúso do esgoto para atividades industriais e também potável.”

A água é o fio condutor do desenvolvimento do País e do mundo. É preciso parar de fazer diagnósticos e ter estratégias políticas. – Newton de Lima Azevedo

Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica (Poli)  da USP em 1972, Azevedo lembrou os planos da década de 1990 para serem cumpridos até 2020 e que foram adiados para 2050. “A população tem a impressão de que dormiu com água, e de repente, acordou nessa crise. Não é verdade. O setor sabia que o coeficiente de segurança era baixo e, com o aumento da população em São Paulo, a crise já estava prevista.”

Embora o apelo tenha sido lançado como uma provocação, Azevedo, um dos 35 governadores do mundo a cuidar da crise no Conselho Mundial da Água, está convicto da importância da criação do Ministério da Água. “A água é o fio condutor do desenvolvimento do País e do mundo. É preciso parar de fazer diagnósticos e ter estratégias políticas.”

Tarifas

Também presente no debate, a diretora da Associação Águas Claras do Rio Pinheiros, Stela Goldenstein, afirmou que “ainda continuamos trilhando os caminhos em busca de soluções montados em um burro velho”. Ao contrário de Azevedo, ela não acredita que a crise hídrica seja apenas uma questão de tecnologias. “É importante discutir alguns embates sobre, por exemplo, as tarifas que devem ser pagas. Essa equação financeira tem que avançar.” Stela concorda que é importante definir metas e estratégias políticas.

Sonia Chapman, gerente de Desenvolvimento Sustentável da empresa Braskem, acredita que, até 2030, as questões relacionadas às mudanças climáticas e à crise hídrica encontrarão soluções. “Minha esperança é que vamos reaprender a fazer parcerias e as soluções serão corroborativas. Quero acreditar numa mudança de postura que garanta a melhoria da qualidade de vida.”

Foto: Divulgação / Jornal da USP
Foto: Divulgação / Jornal da USP

 

A Braskem pretende inserir em sua agenda os futuros objetivos do desenvolvimento sustentável, apresentados pela ONU. São 17 metas destinadas  a construir uma nova agenda global, centrada nas pessoas e no planeta, relacionadas a temas como a erradicação da pobreza, mudança dos padrões de  produção e consumo, além da proteção e gestão da base de recursos naturais do desenvolvimento econômico.

A esperança na educação e no futuro também foi pontuada no encontro por Eduardo Mario Mendiondo, professor da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP e coordenador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. “Eu também acredito em um planejamento integrado para solucionar a crise hídrica e as mudanças climáticas que estamos vivendo. É urgente ter governança, sustentabilidade. Mas quais estratégias de planejamento deverão ser adotadas?”, questiona Mendiondo. “Há uns meses, dei uma palestra sobre crise hídrica que foi a melhor de minha vida porque as minhas duas filhas, de 9 e 19 anos, estavam na plateia. Perguntei para a caçula se ela havia entendido, e ela me respondeu que iria fazer um plano para a professora com soluções para economizar água. Dessa lição me vem a certeza de que o principal eixo para a crise que o planeta atravessa é a educação das crianças do ensino básico.”

Série terá cinco sessões de debates

A série de debates A Caminho da COP 21: Preparando o Terreno até Paris – Mudanças Climáticas, Adaptações, Soluções e Oportunidades, que teve início no dia 30 de setembro passado, terá continuidade nesta quinta-feira, dia 8, e nos dias 14 e 29 de outubro e 19 de novembro, sempre das 9h30 às 12h30, na sede do IEA, na Cidade Universitária.

Nesta quinta-feira, dia 8, o tema a ser debatido é “As mudanças climáticas e a matriz energética: além do petróleo e a economia de baixo carbono – Adaptação, negócios do clima e inovações tecnológicas”, com a curadoria dos professores Ildo Sauer, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, e Carlo Linkevieius Pereira, da CPFL.

No dia 14 de outubro, “As mudanças climáticas e a segurança alimentar: conseguiremos alimentar 10 bilhões de pessoas?” será o tema do encontro, dirigido por Marcelo Vieira, da Sociedade Rural Brasileira, e pelo professor Weber Amaral, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP.

Já no dia 29 de outubro, o tema será “As negociações internacionais em mudanças do clima e a posição do governo Brasileiro”, com a presença de Carlos Klink, do Ministério do Meio Ambiente.

No dia 19 de novembro, finalmente, com curadoria de Tomas Alvim e Marisa Moreira Salles, da Arq. Futuro, o encontro terá como tema “As mudanças climáticas e as megacidades: mobilidade sustentável, saúde pública e planejamento do crescimento”.

Os resultados dos debates serão consolidados em um documento, que será levado à COP 21 em eventos paralelos e entregue ao governo brasileiro. A série de debates é uma promoção do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Mudanças Climáticas (Incline) e do Instituto de Estudos Avançados (IEA),ambos da USP, em parceria com a plataforma Arq. Futuro, a CPFL, a Rede Brasileira do Pacto Global e o Conselho Mundial da Água. A Conferência das Partes (COP 21) sobre Mudanças do Clima ocorrerá em Paris, de 30 de novembro a 11 de dezembro.

Leila Kiyomura / Jornal da USP 

 

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