Nota de esclarecimento à comunidade da USP em São Carlos e ao público

Presidente do Conselho Gestor do Campus de São Carlos divulga nota sobre a ocupação da sede da Prefeitura do Campus.

O Conselho Gestor do Campus de São Carlos da Universidade de São Paulo dirige-se aos alunos, funcionários técnico-administrativos e docentes, assim como à comunidade são-carlense, para lamentar profundamente a atitude dos estudantes que decidiram, ao final da reunião ordinária desse Colegiado, realizada na quinta-feira, dia 15, ocupar a sede da Prefeitura do Campus. Também oferece esclarecimentos a que todos têm direito.

Inicialmente cabe informar que a reunião em questão tinha uma pauta pré-definida, nos prazos legais, que não incluía, porque não solicitado, o tema do restaurante universitário (RU), popularmente conhecido como bandejão.

Não obstante, ao tomar conhecimento da decisão dos estudantes de paralisação das atividades, a presidência do Conselho Gestor procurou os representantes de estudantes e funcionários e propôs a abertura de um período de discussão sobre as dificuldades enfrentadas no oferecimento regular das refeições no bandejão.

Não cabe, portanto, o argumento de que a ocupação seria um recurso para forçar a abertura de diálogo. Ele já estava aberto, por iniciativa dos dirigentes.

A pauta foi invertida, e o Conselho Gestor discutiu o tema por uma hora e meia, com a presença de representantes do CAASO e dos funcionários, convidados para isso.

Durante a discussão, que transcorreu em clima franco e construtivo, de todas as partes, o Conselho Gestor aprovou, por unanimidade, o núcleo substantivo da proposta apresentada pelo CAASO e pelos funcionários do RU. Essencialmente, a proposta contemplava a criação de uma comissão composta por dois estudantes, dois funcionários, dois docentes especialistas em gestão e dois representantes da administração para analisar as condições de funcionamento, material e pessoal do RU e, ainda, apresentar propostas para a sua otimização e rápida regularização do fornecimento das refeições.

Não cabe, portanto, qualquer alegação de que as propostas de estudantes e funcionários não foram consideradas.

Além da criação da Comissão, ficaram claramente estabelecidos os seus objetivos: auditar o funcionamento do restaurante, melhorar as condições de trabalho dos funcionários, retomar o mais rapidamente possível o oferecimento regular das três refeições, inclusive aos sábados, reduzir o descarte de alimentos e possibilitar alternativas aos vegetarianos. E o mais importante de todos: retomar com a maior urgência o oferecimento do jantar para alunos com vulnerabilidade financeira e também para os estudantes de cursos noturnos do Campus, grande parte deles trabalhadores, sem tempo de jantar em casa. E a suspensão do jantar, decidida unilateralmente pelos trabalhadores do bandejão, e não pela Prefeitura do Campus, penaliza precisamente os alunos que mais necessitam desse apoio à sua permanência na Universidade.

Não cabe, assim, argumentar que os objetivos da Comissão e o compromisso da administração não estivessem claros.

Não cabe também a afirmação de que a crise financeira da USP, que é pública e notória, implicou cortes orçamentários nos diversos – e fundamentais – programas de apoio à permanência estudantil. O RU não está com falta de recursos orçamentários. O RU está com problemas de falta de pessoal, especialmente após o Programa de Incentivo à Demissão Voluntária.

A Administração do Campus reconhece a situação e assume o compromisso de trabalhar na busca de soluções rápidas e efetivas. Mas considera inaceitável a exigência, feita pelos alunos, de que os membros do Conselho Gestor assinassem uma declaração de princípios contra a terceirização, antes mesmo de essa possibilidade ser avaliada.

Em primeiro lugar, porque uma assembleia estudantil, um partido político ou uma denominação religiosa têm todo o direito de expressar suas convicções, mas não têm o direito, numa sociedade democrática, de impô-las a quem quer se seja. Essa atitude é a negação do próprio sentido da Universidade, que supõe o respeito à diferença e a disposição ao debate.

Em segundo, porque a utilização da coerção – e a ocupação de um prédio público é obviamente uma forma de coerção – para exigir um posicionamento político ideológico, não honra as melhores tradições de um movimento estudantil que se destacou historicamente na defesa da democracia e na crítica ao autoritarismo.

Assim, essa exigência descabida não será, em nenhuma hipótese, aceita. Mas o Conselho Gestor mantém sua firme decisão de resolver, no menor prazo e da forma mais satisfatória possível, o problema, que afeta a todos os usuários do RU, mas, repetimos, afeta de forma mais aguda aos que mais dele precisam.

A Comissão aprovada na reunião iniciará seus trabalhos na próxima semana e os dirigentes do Campus confiam que a desocupação do prédio da Prefeitura se fará rapidamente e sem qualquer dano material ou pessoal.

Confiam também que os representantes dos estudantes se juntarão a nós para resolver um problema específico, mas grave, que afeta, sobretudo, os alunos mais pobres. E para demonstrar que a USP é capaz de mobilizar seus segmentos, respeitando as diferenças políticas ou ideológicas, para mostrar que é maior que suas atuais dificuldades.

Carlos A. Ferreira Martins
Presidente do Conselho Gestor do Campus de São Carlos

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