FFLCH debate influência do tupi na língua portuguesa falada no Brasil

O tupi antigo foi a língua mais usada no litoral brasileiro no século XVI e, a partir do século XVII, começou a dar origem às línguas gerais. Elas ainda marcam presença em vários termos da língua portuguesa do Brasil.

A língua que atualmente é falada no Brasil sofreu grande influência do tupi antigo. Ele foi o idioma mais usado no litoral brasileiro no século XVI e, a partir do século XVII, começou a dar origem às línguas gerais. O uso das línguas gerais se intensificou e elas passaram a ser faladas pela maioria da população brasileira: índios, negros e europeus.

As línguas gerais ainda existem em vários termos da língua portuguesa do Brasil: nomes de lugares, de alimentos, da fauna e da flora. O reconhecimento dessa influência tem aumentado a procura pelas disciplinas que ensinam tupi na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Neste contexto, o Centro Ángel Rama, ligado à FFLCH, com apoio da Pró-Reitoria de Graduação da USP, organizam a primeira edição do seminário O Tupi Antigo e as Línguas Gerais na Formação da Civilização Brasileira. Entre os dias 27 e 28 de junho, o prédio da Letras da FFLCH vai receber palestras com professores e mesas de discussão sobre a língua tupi e seu legado para a língua portuguesa do Brasil. “Temos por objetivo verificar a relação entre o tupi e as línguas gerais na literatura brasileira, nos nomes geográficos e também a importância dessa língua na nossa história. Por isso pretendemos abordar vários aspectos da cultura brasileira”, diz Eduardo de Almeida Navarro, vice-presidente do Centro Ángel Rama e coordenador do seminário.

Programação

A palestra de abertura, no dia 27, será ministrada pelo professor emérito da FFLCH, Alfredo Bosi. Um dos maiores conhecedores da literatura nacional, o docente vai mostrar a influência do tupi na literatura brasileira e como o mito do índio foi criado. “Desde o período colonial, o índio esteve presente na literatura, mas o índio mítico é bem diferente do real. E essa imagem dele foi construída na literatura, criada para se fundar uma cultura ‘tipicamente brasileira’. O índio mítico é referência para a pátria brasileira”, diz Navarro.

Outros estudiosos da FFLCH e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) vão ministrar palestras sobre os temas “Contextos com a língua guarani” e “Toponímea e aspectos da cultura brasileira”. Além das palestras, haverá mesas temáticas em que alunos da FFLCH e de outras universidades apresentarão seus trabalhos. “A maioria dos trabalhos que recebemos são de alunos de graduação. São trabalhos novos, desenvolvidos especialmente para o seminário”, explica Navarro.

Fazem parte do público-alvo do evento, inclusive, alunos de graduação, em uma tentativa de fortalecer a revitalização dos cursos. Segundo o professor, tem sido uma tendência da Universidade valorizar mais esta instância. “A graduação é a base da educação e nós pretendemos torná-la melhor”, diz.

Fortalecendo a cultura nheengatu

Além do seminário, Navarro desenvolve pesquisas sobre a língua tupi na FFLCH. Ele trabalha com comunidades amazônicas, tentando fortalecer a língua geral nheengatu na região. Esse trabalho foi desenvolvido junto com alunos de mestrado e doutorado que, semestralmente, são levados para passar algum tempo com comunidades ribeirinhas e caboclas da região amazônica.

Segundo o professor, mais de 50 alunos já participaram da pesquisa e colaboraram na produção de um dicionário. O resultado dessa atividade é que muitos alunos voltam e desenvolvem atividades de tradução. “Essas regiões recebem impacto da televisão, da internet. A língua portuguesa vai invadindo toda a parte e ameaçando essa cultura. A mistura entre português e língua geral vem crescendo. Pretendemos impedir que o português tenha tanta presença, fortalecendo a escrita e fazendo com que obras em nheengatu possam ser lidas”, explica Navarro. Nessas comunidades as línguas gerais são ensinadas pelos próprios índios, mas falta material didático. O trabalho de Navarro tenta superar este problema e tornar o ensino mais forte.

Serviço

O evento acontece nos dias 27 e 28 de junho, na sala 107 do prédio da Letras da FFLCH, das 14 às 18 horas. A palestra de abertura, no dia 27, será ministrada por Alfredo Bosi, às 11h45. As inscrições, gratuitas, serão feitas por meio de lista de presença nos dias do seminário. Aquele que comparecer receberá certificado de participação oferecido pelo Centro Ángel Rama.

Confira aqui programação completa do evento.

A FFLCH fica na Av. Prof. Luciano Gualberto, 403, Cidade Universitária,  São Paulo.

Mais informações: site https://sites.google.com/site/seminariotupi

Scroll to top