Ferramenta desenvolvida pela FAU e MIT mapeia rotas e facilita trabalho de catadores

Valéria Dias / Agência USP Pesquisadores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dos Estados Unidos, em parceria com a Cooperativa de Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis (COOPAMARE), desenvolveram uma ferramenta que vai melhorar a produtividade, a eficiência e o planejamento logístico…

Valéria Dias / Agência USP

Pesquisadores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dos Estados Unidos, em parceria com a Cooperativa de Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis (COOPAMARE), desenvolveram uma ferramenta que vai melhorar a produtividade, a eficiência e o planejamento logístico da cooperativa.

Os pesquisadores Dietmar Offenhuber e David Lee, alunos de doutorado do Senseable City Lab, do MIT, entregaram um aparelho de GPS para dois trabalhadores da cooperativa. Durante aproximadamente quatro dias, o catador Francisco da Silva, o Tico, em sua carroça, e o motorista Laerte Paz, no caminhão da cooperativa, munidos cada um com um aparelho, fizeram o trajeto diário que estão habituados a fim de recolher materiais recicláveis na região de Pinheiros, em São Paulo, bairro onde a COOPAMARE está localizada.
Dietmar Offenhuber e David Lee: documentando o conhecimento que os catadores têm da cidade

Após este período, os aparelhos foram entregues aos pesquisadores e os dados transferidos para um software. Junto com outras informações obtidas com a ajuda de pesquisadores da FAU, coordenados pela professora Maria Cecília Loschiavo, como o volume, o tipo e o local onde o reciclável foi recolhido, foi possível mapear a rota de coleta de materiais recicláveis. Esses dados vão ajudar os catadores a expandir a coleta e a otimizar o trabalho.

Outra vertente do projeto será a criação, no futuro, de um website para a população informar a cooperativa sobre a disponibilidade de material para coleta. Para isso, a pessoa irá preencher um formulário indicando o tipo de reciclável disponível para descarte, o dia, o horário e o local para a coleta e os catadores da cooperativa poderão se organizar para recolher o material. Atualmente, muitas vezes os catadores chegam aos locais onde estão habituados a recolher recicláveis mas a pessoa responsável não está ou não há material para ser entrega. Nestes casos, o gasto — seja de combustível do caminhão ou de tempo —, é alto e prejudica a rotina de trabalho.

Visibilidade

“Os catadores conhecem a cidade como ninguém e documentar este conhecimento por meio das tecnologias digitais pode auxiliar a organização interna das cooperativas e tornar o trabalho dos catadores mais visível”, aponta o pesquisador Dietmar Offenhuber. Para David Lee, “empresas e o governo estão preocupados com a reciclagem sob a perspectiva da eficiência e imagem para o mundo afora. Entretanto, cooperativas como a COOPAMARE mostram que a reciclagem pode trazer benefícios locais importantes e são mais eficientes quando as pessoas podem confiar em quem entrega seus recicláveis. Mapear e compartilhar como isso funciona pode promover estes laços de confiança na comunidade”, destaca o doutorando.

Na última sexta-feira (25), à tarde, os catadores fizeram uma pausa no trabalho para ouvir os pesquisadores da FAU e do MIT explicarem os principais resultados do projeto realizado durante as duas semanas anteriores. Offenhuber e Lee fizeram cartazes com o mapa da região de Pinheiros mostrando as rotas dos trabalhadores durante o tempo em que andaram com o GPS.

Segundo o motorista Laerte Paz, funcionário da organização não-governamental Organização de Auxílio Fraterrno (OAF) que presta serviços há 15 anos na COOPAMARE e há 3 atua como motorista do caminhão, participar do projeto o ajudou a ampliar seus horizontes. “Não imaginava que andava tanto assim”, disse ao observar no cartaz a marcação da rota feita pelo caminhão. Já o catador Tico comentou que, de posse do GPS, fez o caminho normal que está habituado, passando por ruas da região das ruas Teodoro Sampaio e Pedroso de Moraes. “Foi muito bom participar do projeto”, disse o catador. A presidente da cooperativa, Dulcinéia Silva Santos, se sente privilegiada por estar participando da pesquisa do MIT. “O projeto vai nos ajudar a localizar onde estão os recicláveis e também a mostrar quando haverá material pra ser coletado”, afirmou.

O valor do “lixo”

A professora Maria Cecília Loschiavo, que há vários anos desenvolve projetos com a COOPAMARE, destaca que o Brasil deve aos catadores de todo o País a visibilidade dada aos recicláveis. “Foram eles, com o seu trabalho, que ajudaram a mudar a visão das pessoas. Antes materiais como garrafas PET, papelão, vidro e latas de alumínio eram considerados apenas lixo. Foram os catadores que mostraram o real valor destes materiais”, aponta.

Outra professora integrante do projeto, a docente Sylmara Gonçalves Dias, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, aponta que “a ferramenta desenvolvida com os pesquisadores do MIT se mostrou muito útil e com certeza irá melhorar a produtividade e a eficiência da COOPAMARE”.

Os pesquisadores do MIT destacam que o próximo passo do projeto é aprimorar o software e treinar alguém da cooperativa para utilização da ferramenta, bem como aprimorar ideias para o site de cadastramento de coleta de recicláveis. Para isso, será necessário a realização de parcerias e o treinamento de trabalhadores da cooperativa.

Com informações de Laura Fostinone, relações públicas do projeto

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