Coletar, Registrar, Preservar e Disseminar: três décadas de Sistema Integrado de Bibliotecas

Criado em 1981, o Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da USP reúne, desde 1985, um registro da produção intelectual da Universidade.

Em artigo para o The New York Review of Books, o historiador e analista dos impactos culturais causados pela tecnologia moderna, James Gleick, defendeu que, em meio a explosão de fontes de informação, os bibliotecários ainda são os especialistas mais versáteis em campo. São eles os responsáveis por assegurar o espaço da biblioteca como um lugar autônomo de acúmulo, análise e disseminação do conhecimento.

Criado em 1981, o Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da USP reúne, desde 1985, um registro da produção intelectual da Universidade. A história que completa 30 anos em 2015 se iniciou com a publicação da Resolução 2858 de 1º de fevereiro de 1985. A norma estabeleceu as diretrizes e procedimentos para promover e garantir a coleta da produção intelectual gerada nas unidades da USP e a posterior transferência da informação à Coordenação do SIBi.

Maria Fazanelli Crestana
Maria Fazanelli Crestana

Para Maria Fazanelli Crestana, chefe técnica do Departamento Técnico do SIBi, “coletar, registrar, preservar e disseminar” são as principais ações que resumem as três décadas desse trabalho. “O sistema de bibliotecas é pioneiro no Brasil”, afirma a especialista, ao explicar que atualmente, ele é formado por 48 bibliotecas e mais de 250 bibliotecários, incluindo especialistas de diversas áreas, técnicos e docentes.

Além da função de difundir políticas e diretrizes para a rede de bibliotecas da Universidade, o Departamento Técnico do SIBi é também responsável pela preservação da memória da Universidade, realizando a análise da produção que é armazenada, registrada e disponibilizada para o público.

De artigos em periódicos, livros, monografias, ensaios e resumos publicados em anais de eventos, “a produção intelectual da USP é tudo aquilo que é publicado ou criado por docentes e técnicos especializados de nível superior que tem vínculo empregatício com a Universidade”, esclarece Crestana ao exemplificar que mesmo obras de arte, tais quais esculturas criadas por docentes dentro da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, também são catalogadas e fazem parte desse conteúdo preservado. “A produção é sempre resultado de uma atividade intelectual dentro da USP”, sumariza

“O preservar para nós é muito importante”, pontua ao afirmar que possuir o material físico, o documento em si, ainda funciona como uma importante evidência sobre um trabalho que foi realizado e contabilizado como produção. Além disso, é crucial que esse documento possa ser fisicamente consultado por todos. “Uma das funções primordiais de uma biblioteca acadêmica é disponibilizar a informação”, declara ela.

Registros que alimentam rankings

portal20151210_5Todos esses registros constituem a chamada Base 04 que é disponibilizada por meio do Banco de Dados Bibliográfico da USP, o Banco Dedalus, cujas entradas crescem continuamente. Em 2015, por exemplo, o número de teses e dissertações cadastradas foi de 138.606, uma evidência do quanto a produção da Universidade aumentou desde 2010,ano em que o cadastro computava em torno de 108 mil.

Para Anderson de Santana, chefe da Divisão de Gestão de Desenvolvimento e Inovação do SIBi e um dos responsáveis pela análise dos dados inseridos nos Bancos, existe uma ciência feita em cima desses números que não está nas bases de dados. “Nós temos aproximadamente 710 mil registros de produção intelectual registrados em nosso banco. Não existe banco no mundo que tenha essa quantidade de bases registradas”.

Não por acaso, é em cima desses números de produção que universidades como a USP se mantém na frente dos rankings internacionais que avaliam as melhores instituições do mundo. Do número de citações em artigos, por exemplo, é tirada uma média que se torna critério para uma universidade subir ou descer no ranking. “4.6 é a média de citações que a USP tem por artigos publicados”, divulga ele, revelando também que essa média caiu em relação aos anos anterior, mas não pela ausência de produção.

Quando uma organização que elabora esses rankings, utilizando bases como a Web of Science ou a Elsevier Scopus – que atualmente dá parâmetros para um dos maiores rankings do mundo, o Times Higher Education -, recebe um novo influxo de registros, números mudam. “Não podemos levar em conta que o número de citações ter caído seja um mau sinal. A citação tem um período de vida e alguns artigos podem levar 5 anos para atingir seu ápice”.

Especialmente sobre o ranking Times Higher Education, Santana esclarece que a inserção do dobro de instituições – em torno de 400 para 800 – em 2015 também alterou o posicionamento das universidades, mas não indica que a USP tenha, de fato, caído em relação à sua produção intelectual. “O filtro é mais largo e se interessa mais por pesquisas regionais”, explica, pontuando que isso é positivo para certas áreas da Universidade.

Conforme uma pesquisa interna realizada pela bibliotecária Dorotea Fill, membro da Divisão de Gestão de Desenvolvimento e Inovação do SIBi, não houve, efetivamente, queda em 2015 no quesito produção na listagem divulgada pelo Times Higher Education. “A USP manteve a mesma pontuação que antes”, afirma ela.

portal20151210_2“As bases de dados em geral trabalham com ciência internacional”, ressalta Santana ao detalhar que existem áreas do conhecimento, por exemplo a agronomia, que produzem muito, mas para regiões delimitadas. Ou seja, o que é aplicado aqui até pode atender outros lugares do mundo, mas atende primordialmente essa região e sua ciência tende a ser compartilhada também de forma regional. No entanto, explica ele, “publicações regionais estão agora ganhando espaço nas bases de dados”, já que o mundo passou a olhar mais para a América Latina nos últimos anos.

Outro elemento que também influencia os números de produção intelectual é o fato de que, diferentes áreas, de humanas, biológicas ou exatas, têm características distintas e, em algumas delas, a cultura da publicação é maior ou menor. Não bastando isso, “em algumas áreas existe uma subnotificação da publicação”, declara Crestana, ao ressaltar que não basta apenas juntar números, mas sim apurar esses números e entender o que eles significam.

“Hoje em dia a gente trabalha a par e passo com os órgãos da Universidade que estão interessados em fazer essas avaliações”, tais como a Superintendência de Tecnologia da Informação (STI), a Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional e a Pró-Reitoria de Pesquisa.

Estratégia para o futuro

portal20151210_4Ciente de que meios eletrônicos estão mudando as formas de catalogar e disseminar informação, a diretora destaca que, ao exercer essa função “o SIBi cria história e cria conhecimento”. Afirmando que quando o banco começou a ser criado, seus especialistas foram simultaneamente aprendendo a trabalhar com os dados ali registrados para extrair deles, os indicadores que constantemente ajudam a Universidade a tomar decisões.

“As bibliotecas não trabalham só com aquilo que está no espaço delas”, salienta. “Elas trabalham de modo geral com as informações da Universidade. O que elas fazem é sistematizar informações e devolver para a Universidade essa informação, para que ela possa definir seus caminhos e saiba para onde está indo”. Consciente de que este é um um papel relativamente novo nas bibliotecas mundiais, Crestana acredita que as informações armazenadas nas bibliotecas são estratégicas.

O SIBi cria história e cria conhecimento.

Caminhando para um futuro com acervos físicos cada vez menores e eletrônicos cada vez maiores, a Universidade está “no caminho da modernização”, revela a especialista. Ainda assim, é vital para ela que a USP não se esqueça de sua função como instituição pública que atende não apenas seus mais de 110 mil alunos, mas também usuários da comunidade externa e de instituições parceiras, tais como a Unicamp e a Unesp, ambas com projetos de catalogação desenvolvidos e inspirados pelos criados dentro do SIBi.

“Queremos avançar nos mesmos quesitos e num ritmo parecido com os avanços do resto do mundo”, afirma ela ao lembrar que, por ser uma universidade de grande porte, a USP tem seu próprio ritmo. “Quando você é grande, seu movimento é mais lento”, ilustra ao reconhecer também que o aumento dessa produção intelectual tem que ser quantitativo, mas em especial, qualitativo. “É preciso publicar bastante, mas também bem”.

Com profissionais da informação dedicados a abrir novos caminhos para a Universidade nos próximos 30 anos, o Sistema Integrado de Bibliotecas tem como uma de suas principais metas, avançar nos mesmos quesitos e num ritmo parecido com os avanços do resto do mundo. “Queremos ser uma Universidade de classe mundial”, finaliza Crestana.

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