Livro do Centro de Estudos da Metrópole ganhará edição americana

Abordagem inovadora do fenômeno da desigualdade chamou a atenção da academia e da imprensa

Abordagem inovadora do fenômeno da desigualdade chamou a atenção da academia e da imprensa

Em seis meses, o livro Trajetórias das Desigualdades – Como o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos foi sucesso “de crítica e de bilheteria”, brinca a organizadora Marta Arretche, diretora do Centro de Estudos da Metrópole e professora de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Lançado em junho, o título esgotou a tiragem da primeira impressão e já vendeu metade da segunda impressão. Agora, o próximo desafio será a tradução para o inglês, para uma edição norte-americana ainda sem data de lançamento prevista.

“O livro estava praticamente esgotado em dois meses. Isso nos surpreendeu bastante. E houve uma repercussão muito grande na imprensa. Dei muitas entrevistas, saíram matérias em jornais estrangeiros e brasileiros. O que me faz ver o enorme interesse que existe sobre o tema da desigualdade no Brasil”, diz Marta. Segundo a cientista política, o tema da desigualdade é, em geral, estudado a partir dos dados sobre renda. A novidade de Trajetórias das Desigualdades é abordar o assunto considerando várias facetas: a participação política, a educação, as políticas públicas, a demografia, o mercado de trabalho. A principal base de dados de que os pesquisadores se muniram foi a série histórica do Censo do IBGE que vai de 1960 a 2010.

Marta atribui o sucesso do livro à lacuna que preenche nos estudos sobre desigualdade no Brasil. “É um tema de muito interesse nas ciências sociais e na sociedade, mas há poucos estudos abrangentes e sistemáticos. Existem trabalhos que estudam a desigualdade de renda entre mulheres e homens, outros que estudam desigualdades entre brancos e não brancos, existem estudos que tratam das desigualdades regionais, das desigualdades na saúde. Mas um trabalho que mapeasse essa múltiplas dimensões e, sobretudo, cobrisse um largo período de tempo, que é o tempo associado com a industrialização do Brasil e sua conversão num país moderno, realmente não existia”, afirma a organizadora.

O caráter inovador do trabalho, que foi publicado pela Editora da Unesp, também chamou a atenção de editoras estrangeiras. Marta Arretche conta que o CEM recebeu propostas de duas editoras para publicar o livro nos Estados Unidos. Por isso, o centro de pesquisa se prepara para em 2016, se concentrar na preparação do volume em inglês, que deverá sair pela editora do Woodrow Wilson Center. Como parte desse esforço, em grupo de pesquisadores do CEM viajará para Washington em fevereiro para participar de um seminário no Wilson Center.

Tema quente

Marta avalia que, que desde o lançamento de Trajetórias das Desigualdades, as principais questões dos veículos de imprensa que a procuraram disseram respeito às causas das desigualdades no Brasil, os aspectos do fenômeno para além da renda e a preocupação com as perspectivas para o futuro.

Em um ano de crise política, como foi o de 2015, as dúvidas sobre os possíveis impactos da perda de influência do PT no cenário político nacional sobre a trajetória de redução da desigualdade verificada pelos pesquisadores ganhou destaque nas entrevistas publicadas pela Folha de S. Paulo e pela CartaCapital, por exemplo. A análise dos dados do Censo que preenche as páginas de Trajetórias das Desigualdades permite verificar o legado de políticas públicas dos governos que passaram por Brasília nas últimas cinco décadas. No entanto, Marta Arretche alerta: não se pode atribuir a redução das desigualdades apenas à política e às políticas públicas. Há outros fatores que influenciam os resultados, como mudanças demográficas e no comportamento da população.

Essa combinação de fatores é o motivo por que não há nenhuma garantia de que a desigualdade continuará caindo, conforme disse a professora ao El País Brasil em novembro. “É um conjunto de fatores que está em movimento. Se eles desencaixarem, a desigualdade pode aumentar. Não tem como fazer previsão porque a gente não sabe como vão se comportar esses fatores no futuro”, diz Marta.

 

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